É espantoso que milhões de brasileiros não se deem conta de
que seu “mito” é na verdade um mitômano de marca maior. E o pior é que essa
gente vota — como também vota a patuleia ignara que aspira à volta do
lulopetismo corrupto ao poder.
Seria leviano, a esta altura, afirmar que Bolsonaro é
carta fora do baralho ou que Lula “já ganhou”. Como ensinou Magalhães
Pinto, “política é como nuvem; você olha e ela está de um jeito,
olha de novo e ela já mudou”.
Quanto maior o desgaste de Bolsonaro nas
pesquisas, maior sua necessidade de apoio e o espaço ocupado pelo Centrão
no governo. Ciro Nogueira resistiu a ceder a legenda ao presidente,
reconheceu o direito de Renan Calheiros de ser relator
da CPI, afastou-se das sessões da comissão para não defender o
indefensável mas jogou-se de corpo inteiro nos braços do capetão, onde já estava
seu correligionário Arthur Lira, presidente da Câmara, que hoje
bloqueia nada menos do que 142 pedidos de impeachment em desfavor do sultão do
bananistão.
Com Ciro (e Lira), Bolsonaro aumenta o apoio parlamentar, reduz o risco de impeachment, encomenda uma legenda para 2022 e monta o quartel-general da campanha. Quem sabe até emplaca um candidato a vice. Ciro e Lira ganham vantagens e prometem boa vontade. Só. Por um preço. Por um tempo.
O chiste do general Augusto
Heleno (“Se gritar pega Centrão...”) vai se tornando literalmente
verdadeiro. Está cada vez mais difícil encontrar no governo alguém que não
esteja ligado ao Centrão — até os militares governistas se
tornaram uma espécie de Centrão verde-oliva, e o próprio chefe do
GSI voltou atrás: “Eu não tenho hoje essa opinião nem reconheço hoje
a existência desse Centrão. A evolução de opinião faz parte da vida do ser
humano. Faz parte do show, do show político”.
Ao nomear o mandachuva do Centrão para a Casa Civil, Bolsonaro entregou de vez a chave do galinheiro à raposa — há uma metáfora zoológica mais apropriada: a do capitalista abutre. O Centrão é dono de um apetite tão pantagruélico quanto o de um abutre, e tende a engolir o governo — que quanto mais frágil fica, mais cede, e quanto mais cede, mais frágil fica.
Ao fim e ao
cabo, o Centrão apoiará o presidente no que for bom para o Centrão e
enquanto for bom para o Centrão. Até quando, não se sabe. Depende da
economia, da pandemia e de muitos outros fatores — até da chuva. O que se sabe
é que carniça não é coisa que pare de apodrecer.
Continua...