Em maio de 2019, num ato falho que beirou o
sincericídio, Bolsonaro disse a seus baba-ovos: “não
nasci para ser presidente, mas sim para ser militar.” E completou: “Não
tenho qualquer ambição. Não me sobe à cabeça o fato de ser presidente. Eu me
pergunto, eu olho pra Deus e falo: o que eu fiz para merecer isso? É só
problema, mas temos como ir em frente, temos como mudar o Brasil.”
Nem a finada Velhinha
de Taubaté acreditaria que um presidente que sempre foi amigo de
milicianos, partidário da baixa política, adepto das rachadinhas e
que jamais havia administrado coisa alguma — nem
mesmo carrinho de pipoca em porta de cinema, como
registrou José Nêumanne em sua coluna no Estadão —
faria um bom governo, mas poucos
imaginavam que sua passagem pela Presidência seria tão nefasta.
A Covid não estava no programa, mas não é
justo atribuir exclusivamente ao vírus maldito todas as agruras infligidas ao
povo brasileiro nos últimos três anos, sobretudo porque o despreparo e o
negacionismo do pajé da cloroquina foram determinantes para esse resultado.
Em 27 anos de vida pública, o ex-capitão que deixou a
caserna pela porta de serviço (ou do desserviço) foi filiado a oito partidos,
todos de aluguel. Mas na política o desafeto de hoje pode ser o aliado de amanhã.
E vice-versa.
Dois anos depois de se desfiliar
do PSL — e de o projeto de criar um partido para chamar de
seu dar
com os burros n’água — Bolsonaro se amancebou com
o PL do mensaleiro
e ex-presidiário Valdemar Costa Neto. Detalhe: quando sua alteza ainda
se esforçava para aparentar lisura e probidade, um de seus escudeiros
cantarolava “se
gritar pega Centrão, não fica um, meu irmão” (parodiando o pagode Reunião de Bacana).
Durante a campanha, o próprio Bolsonaro chamou
o cacique do PL de “corrupto
e condenado”. Em novembro passado, depois de ter flertado com um dúzia
de legendas, chegou a mandar o dito-cujo à
puta que o pariu — e ouviu em resposta um enfático “vá
tomar no cu” (você e seus filhos).
Nos últimos três anos, Bolsonaro não desceu
do palanque um dia sequer. Estimulou (e participou pessoalmente) de
diversas manifestações
antidemocráticas. Flertou incontáveis vezes com o autogolpe.
Fomentou um sem-número de crises
institucionais. Entre inúmeras motociatas (inclusive
em dias úteis e horário do expediente) e uma blindadociata,
chamou o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do TSE,
de “filho
da puta”, e o ministro Alexandre de Moraes, do STF,
de “canalha”.
Quando a situação ameaçou sair do controle, foi chorar as pitangas na barra da
saia do Vampiro
do Jaburu, que redigiu, a seu pedido, uma patética
carta de retratação.
Continua...