Mostrando postagens classificadas por relevância para a consulta velhinha de taubaté. Ordenar por data Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens classificadas por relevância para a consulta velhinha de taubaté. Ordenar por data Mostrar todas as postagens

terça-feira, 9 de janeiro de 2024

LULA, GONET, BOLSONARO E A VELHINHA DE TAUBATÉ

A PF aguardava pela troca de comando na PGR para fechar a conta dos inquéritos sobre Bolsonaro. O procurador Paulo Gonet, escolhido por Lula sob influência do decano Gilmar Mendes e do relator-geral das encrencas bolsonaristas Alexandre de Moraes, esteve um par de vezes no Planalto antes de seu nome ser aprovado no Senado. Sobre o que ele e o presidente falaram, não se sabe, mas nem a Velhinha de Taubaté acreditaria que o futuro criminal do pior mandatário desde Tomé de Souza não foi assunto da conversa.
 
Para refrescar a memória dos mais velhos e informar os mais jovens que não conheceram a ilustre personagem criada durante o governo do último general da ditadura de 64 — aquele que gostava mais do cheiro dos cavalos que do cheiro do povo — a Velhinha de Taubaté acreditava piamente em tudo que lhe diziam, sobretudo se a fonte fosse Brasília. 
Mas nem sua inabalável fé resistiu ao choque de realidade provocado pelo escândalo do Mensalão. Em 2005, ao descobrir que seu ídolo — o então ministro da Fazenda Antonio Palocci — estava mergulhado até os beiços num mar de corrupção, a senhorinha sofreu um piripaque na frente da televisão e partiu desta para melhor. Ainda assim, vira e mexe alguém insiste em descobrir o paradeiro da finada para perguntar a quantas anda sua convicção sobre a credibilidade do governo e a situação política do país. 

Parece que tem uma nova Velhinha na praça. Ao ler as primeiras notícias sobre o golpe que Bolsonaro não pôde dar porque não conseguiu a adesão dos militares, ela se apressou a escrever nas redes sociais: "Se não forem meras conjecturas, os diálogos que vieram à tona nos últimos dias mostram, na verdade, que Bolsonaro salvou a Democracia, ao resistir à pressão sofrida por grande parte de seu entorno. Ele, inclusive, deixou o cargo antes de seu mandato terminar. Não digo isso como forma de defesa, mas como conclusão lógica do material recentemente exposto. Muitos foram os diálogos em que interlocutores imploravam para Bolsonaro dar um golpe e ele não deu, nem tentou.

Observação: A personagem de Veríssimo nunca foi militante, mas sua sucessora é. Bolsonaro chegou mesmo a convidá-la para vice em 2018, mas desistiu e escolheu um general. A Velhinha sem graça se elegeu deputada estadual por São Paulo e disputou uma vaga no Senado em 2022, mas ficou em quarto lugar.
 
No finalzinho de 2023, uma reportagem de Aguirre Talento revelou que a PF programou para o início de 2024 o indiciamento de Bolsonaro nos inquéritos sobre fake news e milícias digitais. Os processos, que incluem da tentativa de golpe à falsificação de certificados de vacinação, da propagação de mentiras ao comércio ilegal de joias, deixarão Gonet entre a cruz e a caldeirinha: ou ele denuncia ex-aspirante a tiranete, ou desmoraliza o ex-tudo (ex-retirante, ex-metalúrgico, ex-sindicalista, ex-presidiário e ex-corrupto). Como o mandato do PGR dura apenas dois anos, o desejo de recondução afasta a hipótese de fazer Lula de bobo. 
 
Confirmando-se a denúncia, restarão ao STF duas possibilidades: condenar Bolsonaro ou condenar Bolsonaro. A absolvição ou uma sentença suave, sem cadeia, desmoralizariam a Corte, que já impôs às piabas do 8 de janeiro sentenças de até 17 anos de cana. Já um Bolsonaro encarcerado sob os ritos democráticos ficaria em situação parecida com a que viveu seu adversário, que foi afastado das urnas graças a uma ação coordenada do Supremo — que lhe sonegou um habeas corpus— e do TSE — que o enquadrou na inelegibilidade da Lei da Ficha-Limpa. Já banido das urnas até 2030, o capetão marcharia rumo à cela batendo o mesmo bumbo de perseguido.
 
Com Lula fora da pista, Bolsonaro aproveitou o antipetismo para retirar a direita do armário em 2018. Mas 4 anos de irracionalidade e golpismo produziram a vergonha que colocou a direita civilizada no arco democrático que deu a vitória ao ex-presidiário em 2022. No entanto, a provável asfixia criminal do mito dos descerebrados não torna mais fácil a vida de seu rival. 

Ainda que o imbrochável e o bolsonarismo virassem pó, o conservadorismo troglodita continuaria retirando seu oxigênio do antipetismo. Ou seja: se quiser um quarto mandato (que Deus nos livre e guarde dessa desgraça), o autoproclamado Parteiro do Brasil Maravilha precisa governar direito e aprender a conversar com a direita racional, que lhe deu a vitória em 2022 não por preferência, mas por rejeição à alternativa.
 
Triste Brasil.

sábado, 3 de agosto de 2019

O DESTEMPERO BOLSONARIANO E OUTRAS CONSIDERAÇÕES


A Justiça Federal do DF decidiu converter em preventivas as prisões temporárias dos quatro suspeitos de envolvimento na invasão de celulares de autoridades, que estão presos desde a semana passada, quando a PF deflagrou a Operação Spoofing. A propósito, o chefe do bando, Walter Delgatti Neto, é réu por ter aplicado um golpe de R$ 623 mil no Itaú, em 2017, quando desbloqueou 44 cartões de crédito para fazer compras. Mas ele garante que hackeou autoridades e jornalistas de graça, por patriotismo e senso de justiça. Como disse Millôr Fernandes, “desconfio de todo idealista que lucra com seu ideal”.

Nem a Velhinha de Taubaté para acreditar nessa falácia, no patriotismo de Verdevaldo, na honestidade de Lula e na ponte que partiu toda essa cambada de fidumas. Dito isso, segue o baile:

Dizia Ricardo Boechat que se pode morrer de várias maneiras no jornalismo, menos de tédio. Com efeito. É impossível fugir a essa dura realidade. Sobretudo quando se escreve sobre o cenário político nacional: você nem bem termina de redigir um artigo e novos acontecimentos já o transformam em matéria vencida.

Depois da posse do presidente em meio à novela do caso Queiroz, o rompimento da barragem do Córrego de Feijão desviou o foco da mídia. Na sequência, para ficar somente nos casos mais notórios, vieram o incêndio do Ninho do Urubua exoneração de Gustavo Bebiannoo escândalo escatológico do Golden Showera denúncia de estupro apresentada por Najila Trindade contra Neymar Cai-Cai — que deu em nada; o jogador não será indiciado e a suposta vítima pode responder por crime de denunciação caluniosa — a Vaza-Jato de Verdevaldo e a escolha de zero três para ocupar a Embaixada do Brasil nos EUA, sem mencionar toda sorte de crises geradas pela guerra de egos entre Bolsonaro e Rodrigo Maia durante a claudicante tramitação da PEC Previdenciária e de um sem-número de pronunciamentos infelizes do capitão, que ainda age como se estivesse em plena campanha eleitoral.

Ter um presidente sem tramela, mordaça ou “freio de arrumação” é um teste para nossa incipiente democracia (a mordaça é sugestão do ministro Marco Aurélio, que bem poderia tomar ele próprio uma colherada desse remédio). Mas esperar que Bolsonaro mude sua natureza é o mesmo que acreditar na Fada do Dente ou na inocência de Lula. Nem a finada Velhinha de Taubaté!

A maneira “desrespeitosa” com que o capitão tratou o “desaparecimento” do ativista político Fernando Santa Cruz, pai do atual presidente lulista da OAB — que não é flor que se cheire, quando mais não seja por ter dito em entrevista à Folha de S. Verdevaldo que “Sergio Moro usa o cargo, aniquila a independência da PF e ainda banca o chefe de quadrilha ao dizer que sabe das conversas de autoridades que não são investigadas”, além de injuriar uma colega advogada insinuando que ela é uma “prostituta”, assim como a mãe de tantos outros colegas de profissão — continua dando pano pra manga. E o mesmo se aplica à resposta dada a jornalistas por Bolsonaro ao ser perguntado sobre a chacina no Centro de Recuperação Prisional de Altamira, no Pará “Perguntem às vítimas dos que morreram lá o que elas acham e depois eu respondo”.

Feitos por cidadãos comuns num balcão do boteco, comentários como esses seriam toleráveis, mas são indesculpáveis quando vêm de um presidente da República (qualquer que seja ele). Pode-se dizer que o capitão se espelha em Trump, e que suas frases destemperadas o aproximam dos bolsominions. Porém, ao fazer como Lula e o PT, cujas narrativas são direcionadas à patuleia que segue cegamente a seita do inferno (e, portanto, não precisa ser convencida de nada), Bolsonaro frustra milhões de eleitores que votaram nele justamente para evitar o retorno dessa caterva ao poder. As reformas estruturais, fundamentais para um recomeço de crescimento econômico, não podem ficar ameaçadas por arroubos personalistas de quem continua no palanque, obcecado por destruir adversários reais ou imaginários.

Ainda que a linguagem do capitão não seja exatamente “presidencial”, não se pode perder de vista que o sistema prisional tupiniquim está falido. Em sua fala, Bolsonaro foi na contramão da “criminolatria”, hoje tão em moda no Brasil, onde o foco do sistema penitenciário é o relaxamento de prisões, o abrandamento das penas e a “ressocialização” dos criminosos. Os presídios se transformaram e universidades do crime, onde entram batedores de carteira e saem assaltantes, latrocidas, estupradores ou coisa pior.

O ex-ministro Raul Jungmann já havia feito esse diagnóstico, e Moro vem se empenhando em reverter o quadro com seu pacote de medidas anticrime, mas a banda podre do Congresso e do Judiciário se aliam a criminalistas “garantistas” visando criminalizar o ex-juiz da Lava-Jato e os integrantes da força-tarefa, bem como buscar artimanhas legais para devolver à liberdade o ex-presidente criminoso que, nunca é demais lembrar, está preso há quase 16 meses e deve ser condenado novamente numa das sete ações penais em que é réu e ainda não foi julgado. Mas isso é conversa para outra hora.

quarta-feira, 11 de abril de 2018

PRIMEIRA SESSÃO PLENÁRIA DO STF COM LULA NA PRISÃO. E AGORA, JOSÉ, GILMAR, MARCO, RICARDO, CELSO...?



A primeira sessão do STF após prisão do criminoso de Garanhuns está marcada para a tarde desta quarta-feira. O ministro Marco Aurélio, que vem travando uma verdadeira queda de braço com a presidente Cármen Lúcia, pode apresentar uma questão de ordem para trazer à mesa duas Ações Declaratórias de Constitucionalidade (ADCs) que pleiteiam a suspensão de todas as prisões em 2ª instância. O PEN/PATRIOTAS, autor da ADC 43, disse que vai desistir do processo, e o ministro, que nesse caso desestirá de levantar a tal questão de ordem.

Observação: Marco Aurélio suscitou a possibilidade de a prisão de Lula provocar uma “convulsão social” ― o que não aconteceu, a despeito da atuação midiática dos apoiadores do ex-presidente petralha. Na verdade, esse barulho todo se deve mais ao fato ao “efeito Smirnoff” do que a convicções e ideologias, pois boa parte da classe política, está preocupada em salvar o próprio rabo dos efeitos que a prisão de Lula poderá desencadear. É o caso de Michel Temer e seus comparsas: na última segunda-feira, o juiz da 12.ª Vara Federal de Brasília aceitou a denúncia contra nove acusados de atuar no chamado “quadrilhão do PMDB”, que agora viraram réus. Dentre eles estão Rodrigo Rocha LouresHenrique Eduardo AlvesGeddel Vieira LimaLúcio FunaroEduardo CunhaJosé Yunes e João Batista Lima Filho, além dos ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco, que têm foro privilegiado e, portanto, deverão responder no âmbito do STF

Supremo, dividido como está, deixou de merecer a confiança da sociedade civil. E a defesa de Lula vem pressionando a Corte para votar as ADCs, apostando numa eventual mudança de posição da ministra Rosa Weber.  No entanto, mesmo alguns ministros favoráveis à prisão após o trânsito em julgado não veem com bons olhos uma mudança na jurisprudência firmada em 2016, pois fazer uma curva em "U" depois de tão pouco tempo prejudicaria ainda mais a credibilidade do Tribunal. Mas não é só. Como ponderou Merval Pereira em sua coluna de ontem, se realmente a banda podre lograr êxito em aprovar o fim da prisão em segunda instância e o fim do foro privilegiado ― que já tem maioria de oito votos no STF e foi liberado para votação depois de um pedido de vista de Dias Toffoli ―, teríamos a tempestade perfeita em prol de condenados em segunda instância que já estão cumprindo pena ― a quem só resta, por enquanto, a colaboração premiada como forma de reduzir o tempo no xadrez.

Volto a dizer que a atual composição do STF é pior de toda a nossa história, e que pelo menos 5 dos 11 ministros lambem as botas do criminoso Lula ― talvez por medo de suas ameaças, talvez por interesses inconfessáveis ―, mesmo depois de ele ter sido julgado e condenado por 1 juiz de primeira instância, 3 desembargadores do TRF-4 e 5 ministros do STJ, sem mencionar a rejeição de seu HC pelo próprio Supremo

Alguns ministros justificam sua posição estapafúrdia dizendo que é preciso respeitar a “presunção de inocência”, mas isso não convence nem a saudosa Velhinha de Taubaté (*). Trata-se de uma tentativa de fazer de palhaços os cidadãos de bem que pagam seus polpudos salários (e penduricalhos nababescos) para vê-los deixar o plenário em meio à sessão devido a compromissos previamente assumidos ― como receber uma homenagem no Rio de Janeiro ou tratar de interesses pessoais em Portugal.

É óbvio que todos são inocentes até prova em contrário, mas, em qualquer país civilizado, em determinado momento a própria sentença condenatória passa a ser a prova. Lula foi condenado pelo juiz Sérgio Moro em primeira instância e teve a pena aumentada em 1/3 pelo TRF-4 (no caso, a segunda instância de jurisdição), que decidiu que a sentença de primeira instância estava fundamentada por fatos. Querem mais o quê?

Claro que Lula ― ou qualquer outro condenado na mesma situação ― tem todo o direito de apelar aos tribunais superiores, mas desde que o faça de dentro da prisão. De outra forma, a vasta gama de recursos, embargos e demais chicanas admitidas pela legislação penal tupiniquim resultaria em impunidade por efeito da prescrição. Já vimos esse filme muitas vezes. Se o STF ceder à pressão e alterar o entendimento quanto ao cumprimento provisório da pena a partir da condenação em segunda instância, essa merda de projeto de democracia que temos vai para o espaço. E é exatamente isso que Lula e seus comparsas querem que aconteça.

Essa corja de sevandijas, que somou a tudo que havia de mais maligno na vida pública nacional até seu amado líder chegar à presidência da República os novos vícios novos trazidos pelo PT ao governo, produziu o Brasil de Lula, que hoje agoniza melancolicamente, mas ainda luta para sobreviver. Um país da impunidade, onde se quer assegurar a criminosos ricos e poderosos, que dispõem de dinheiro ilimitado para pagar advogados caríssimos, o direito de cometerem crimes e não cumprirem as penas a que foram condenados. Tudo isso com o apoio de uma corte suprema formada por 11 indivíduos que, sem jamais terem recebido um único voto na vida, governam 200 milhões de pessoas e, entre outras manifestações de onipotência, concedem a si próprios o poder de estabelecer que um cidadão, por ser do seu agrado político, tem direitos maiores e diferentes dos demais

Observação: A coisa fica ainda pior quando oito desses onze ministros foram nomeados por uma presidente deposta por 70% dos votos do Congresso Nacional e por um presidente ora condenado a mais de doze anos de cadeia, que finalmente foi preso, mas não se sabe se e até quando continuará nessa situação.

Por essas e outras, por mais nauseante que seja, é imperativo acompanhar atentamente a sessão de hoje no STF. E se você tem fé, não custa rezar; se não ajudar, atrapalhar é que não vai.

(*Velhinha de Taubaté ― Personagem de Luiz Fernando Veríssimo (criado durante o governo do General Figueiredo), famosa por sua incrível ingenuidade e capacidade de acreditar piamente em tudo que lhe era dito pelos presidentes militares.

ATUALIZAÇÃO: Diante da informação de que Marco Aurélio teria aceitado o pedido de adiamento apresentado pelos novos advogados do PENKakay foi dispensado, mas não desistiu da batalha porque quer continuar mamando nas tetas da corrupção (nada engorda mais a conta bancária de criminalistas estrelados do que os honorários milionários pagos pelos investigados da Lava-Jato) ―, a questão da prisão em segunda instância não deve voltar à mesa na sessão de hoje do STF, que assim poderá se dedicar a discutir os pedidos de habeas corpus de Maluf e Palocci, para variar. Mesmo que uma ADC não possa ser sustada, a liminar pode, e o fato de o ministro demonstrar interesse conhecer as razões que levaram o impetrante a desistir cria um fato novo nesse processo, segundo Merval Pereira. Mas isso já é assunto para uma próxima postagem.  

Visite minhas comunidades na Rede .Link:

domingo, 4 de junho de 2017

INGENUIDADE UMA OVA! DESFAÇATEZ DA GROSSA, ISSO SIM!

Referindo-se à Operação Lava-Jato, Lula disse que “está na hora de parar de palhaçada” (mais detalhes nesta postagem). Que alguém lembre o flibusteiro parlapatão de ter cuidado com o que deseja: o juiz Sérgio Moro deve julgar ainda este mês ― e junho é mês de festa junina, de “quadrilha” ― a ação sobre a posse do famoso tríplex no Guarujá. E até a cúpula petista acredita na condenação do imprestável.

Mas não é só: Lula e seu pimpolho Luiz Cláudio deverão depor (como réus) ao juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília, no próximo dia 22 (na ação que trata de crimes praticados entre 2013 e 2015). E, se não me falha a memória, os autos do processo em que o molusco indigesto é acusado de obstrução da Justiça (por tentar comprar o silêncio de Nestor Cerveró) já estão conclusos para sentença.

A demora na prisão de Lula tem sido motivo de chacota internacional. Num país civilizado, bem antes de se tornar réu em cinco ações penais e investigado em mais uma cachoeira de inquéritos ― que deverão ser convertidos em denúncias nos próximos meses ― o ex-presidente já estaria mofando na cadeia. Mas isto aqui é uma republiqueta de bananas, onde o povo vê com naturalidade um penta-réu alardear aos quatro ventos sua candidatura à presidência e aceita bovinamente o fato de uma ex-presidente recém-penabundada ― por afundar o país na maior crise de sua história e investigada por uma série de atos bem pouco republicanos ― pleitear a anulação de seu impeachment e sua recondução ao cargo, “agora que o golpista traidor não tem mais condições de governar a Banânia”. É o roto falando do esfarrapado!

Jamais acreditei na “santidade” de Temer, mas nunca o imaginei capaz de tamanha sem-vergonhice. Daí a dificuldade de seus assessores em defende-lo. Na contramão das evidências e à ausência de argumentos críveis para apresentar em favor do presidente, Eliseu Padilha, seu amigo dileto, ministro-chefe da Casa Civil e investigado na Lava-Jato, chegou a afirmar ― pasmem! ― que Rodrigo Rocha Loures, o homem da mala de Temer, “caiu em um engodo ao ser filmado transportando uma mala com R$ 500 mil”. É ou não fazer pouco caso da inteligência alheia?

Parece que estamos assistindo a uma competição infantil, onde vence quem cria a fábula mais inverossímil. Temer diz que foi “ingênuo” ao receber Joesley Batista no Palácio do Jaburu e tenta desqualificar o áudio gravado à sorrelfa pelo moedor de carne. Mas não nega (e nem poderia) que ouviu a fieira de crimes com a tranquilidade de quem ouve um amigo confidenciar suas escapadelas extraconjugais. A justificativa? Ora, o dono da JBS seria um notório falastrão, e como está sendo alvo de inquérito, estaria apenas contando vantagens ― afinal, como Temer poderia crer que membros do Ministério Público e do Judiciário estivessem sendo cooptados? 

Pelo visto, nosso presidente não lê jornais e nem assiste ao noticiário. Ingênuo? Nem por sombra. O cara é matreiro e têm décadas de janela e outras tantas de vão de porta. Alegar ingenuidade para tentar se justificar por ter sido pego com as calças na mão e batom na cueca é puro desespero, e achar que sua retórica capenga e infundada será capaz de desautorizar fatos que saltam aos olhos até do observador menos atento beira o desvario.

Ninguém além da seleta confraria de apoiadores que vela seu governo agonizante engoliria sua versão estapafúrdia do ocorrido e, de sobremesa, os devaneios do ministro Padilha, que, em entrevista à Rádio Gaúcha, disse: “A versão que nos chegou é que ele [Loures] caiu em um engodo, que havia a necessidade de gravar ele com essa mala, com esse dinheiro. Foi preparado todo um processo em que ele [Temer] e o Rodrigo caíram. Não se deu conta de que estava sendo utilizado. Ali, o objetivo era só ter a filmagem”.

Padilha argumentou também que o dinheiro foi devolvido, e que não poderia opinar sobre o motivo pelo qual Rocha Loures pegou a quantia: “Ele [Loures] é um aliado do Palácio do Planalto. Mas agora o Palácio não pode sair atrás e dar busca dos atos de cada uma das pessoas que trabalham para o governo, e atos que não dizem respeito à sua atuação como representante do governo”. Quanta cara-de-pau, ministro! Nem a finada Velhinha de Taubaté acreditaria em tamanha impostura!

Observação: A Velhinha de Taubaté é uma personagem criada por Luis Fernando Veríssimo durante a gestão do ex-presidente Figueiredo (1979-1985), que se tronou famosa por ser a última pessoa no Brasil que acreditava no governo. A crédula senhora “faleceu” em novembro de 2005, aos 90 anos, decepcionada com o quadro político brasileiro, em especial com o seu ídolo, Antonio Palocci.

Temer e Loures são investigados no STF por corrupção passiva, organização criminosa e obstrução da Justiça. Na última quinta-feira, a PGR pediu novamente a prisão do ex-deputado. Na noite desta sexta, o ministro Fachin a concedeu, e o homem da mala foi preso pela PF na manhã do sábado.

Loures perdeu o direito ao foro privilegiado quando Serraglio deixou o ministério da Justiça e reassumiu sua cadeira na Câmara dos Deputados do Paraná. E se ele já se mostrava inclinado a negociar uma delação, agora, mesmo que seu inquérito esteja atrelado ao Temer e, portanto, não baixe imediatamente para a primeira instância, a perspectiva de se tornar hóspede do sistema penal tupiniquim servirá como um estímulo adicional.

Confira minhas atualizações diárias sobre política em www.cenario-politico-tupiniquim.link.blog.br/

quinta-feira, 27 de maio de 2021

A CPI DO GENOCÍDIO E A PUNIÇÃO DE PAZUELLO

 

Em meio a discussões acaloradas, os membros da CPI da Covid aprovaram a convocação de nove governadores de Estados em que houve operações da PF para apurar possíveis irregularidades no uso de recursos federais no enfrentamento da pandemia. Senadores bolsonaristas queriam convocar o governador João Doria, desafeto do capitão-negação, mas até o final da tarde de ontem o requerimento (de autoria do senador Marcos Rogério) não havia sido aprovado.

Serão ouvidos Eduardo Pazuello e Marcelo Queiroga (ex-ministro da Saúde e atual titular da pasta, respectivamente), Filipe Martins (assessor de assuntos internacionais da Presidência), Arthur Weintraub (ex-assessor especial da Presidência), Luana Araújo (ex-secretária de enfrentamento à Covid), Marquinhos Show (ex-diretor de comunicações) e Aírton Cascavel (ex-assessor especial do ministério da Saúde) deverão ser ouvidos pelo colegiado, ainda sem data marcada para as respectivas oitivas. O empresário Carlos Wizard, apontado como “consultor voluntário” de Pazuello, e Paulo Baraúna, diretor da empresa White Martins, também deverão ser ouvidos.

Minutos após o início dos trabalhos, o presidente da CPI se reuniu a portas fechadas com os demais membros para costurar um acordo sobre os pedidos de informação, convites e convocações que seriam votados. Alegando “participação direta ou indireta nos graves fatos questionados pela CPI”, o vice-presidente da Comissão, Randolfe Rodrigues, pediu a convocação de Jair Bolsonaro. “Os critérios e vedações são os mesmos que se encaixam em relação aos governadores; então eu queria pedir para a inclusão deste requerimento com os demais que vão ser apreciados”, argumentou o senador.

Embora a Constituição não proíba expressamente, a convocação do chefe do Executivo Federal por uma CPI pode caracterizar interferência entre Poderes. O requerimento de Randolfe segue pendente de apreciação, já que um acordo firmado em reunião anterior estabeleceu que fossem votados apenas pedidos apresentados com antecedência de pelo menos 48 horas — ou que fossem objeto de consenso entre os parlamentares.

Na sessão de hoje, deverá ser ouvido o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas — em seu primeiro dia de depoimento à CPI, o general Pazuello negou ter recebido ordens de Bolsonaro para não adquirir a CoronaVac, embora tenha sido desautorizado publicamente pelo capitão, que determinou o cancelamento da compra de 46 milhões de doses da “vachina do Doria”. Foi justamente esse “incidente” que levou o ex-ministro a dizer que a coisa era “simples assim: um manda e o outro obedece. Questionado sobre essa frase pelos senadores, Pazuello disse que foi “coisa de Internet” e voltou negar que o presidente lhe ordenou desfazer qualquer contrato.

***

Quando um general da ativa participa de um comício, ignorando o Estatuto Militar e o Regulamento Disciplinar do Exército, fica evidente que o Estado tem um problema. Esse problema tem nome e sobrenome. Muitos o chamam de Eduardo Pazuello. Se estivessem certos, a solução seria simples. Bastaria o comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira, divulgar uma nota oficial para distanciar os quarteis da política e informar que a transgressão não ficaria sem uma resposta adequada.

Após ouvir os membros do Alto Comando do Exército, o comandante abriu procedimento disciplinar contra Pazuello. Pretendia divulgar uma manifestação escrita sobre a participação do general no comício do último domingo. Chegou a se entender com o ministro da Defesa, o também general Braga Netto. De repente, deu meia-volta: a estrela do comício que transformou Pazuello num transgressor vetou a divulgação da nota, impondo o silêncio ao Exército. Ficou no ar uma dúvida sobre a autonomia do Exército para impor uma punição adequada a Pazuello — que vai de mera advertência à suspensão, da prisão por até 30 dias à passagem compulsória para a reserva.

O vice-presidente Hamilton Mourão entendeu rapidamente a natureza do problema. Na segunda-feira, declarou que Pazuello sabia que cometera um “erro” e tinha “colocado a cabeça no cutelo”. Mourão sabe como essas coisas funcionam. Em 2014, quando comandava a prestigiosa tropa do Sul, meteu-se numa polêmica política. Perdeu o comando, mas resignou-se: “Andei extrapolando o tamanho da minha cadeira”, disse ele na época. “E a autoridade do comandante não pode deixar de ser exercida.”

Bolsonaro também não desconhece esse tipo de problema. O hoje (ainda) presidente da República cursou a AMAN e serviu nos grupos de artilharia de campanha e paraquedismo. De cadete a capitão, passou14 dos seus 66 anos de vida no quartel. Mas jamais respeitou os valores militares que vive enaltecendo da boca para fora.

Em 1986, aos 31 anos de idade, o então oficial da ativa publicou um artigo na revista VEJA em que reclamava do soldo. A matéria lhe rendeu 15 dias de prisão disciplinar. No ano seguinte, deixou clara sua vocação para subversivo ao planejar explodir bombas de baixa potência em quartéis e academias (também como forma de protesto contra os baixos salários dos militares). Outro artigo publicado por Veja revelou o plano do insurreto, que foi excluído do quadro da Escola de Oficiais, mas acabou absolvido das acusações pelo Superior Tribunal Militar. Mesmo assim, sua carreira no Exército terminou ali.

No mesmo ano em que deu baixa (1988), o capitão reformado se elegeu vereador. Dois anos depois, foi um dos deputados federais mais votados no Rio de Janeiro. Ao longo de sete mandatos como deputado do baixo clero, aprovou dois míseros projetos, mas colecionou dezenas de processos (a maioria deles movidos por parlamentares de esquerda). Na presidência, inaugurou um governo civil em que ninguém sabe o nome do ministro da Educação. Mas todos conhecem os nomes dos generais. Há o Mourão, o Heleno, o Braga Netto, o Ramos...

Bolsonaro tornou a deixar patente seu desprezo pelos valores militares no último domingo, quando levou para o alto de um carro de som um general da ativa, em meio de uma manifestação política. Pazuello podia ter se recusado a participar da passeata em vez de pisotear suas insígnias. Mas Bolsonaro, como militar e como presidente, foi coautor desse gesto de desprezo pelas Forças Armadas. 

O processo militar aberto para apurar a conduta de Pazuello não levará menos de 30 dias, durante os quais ele terá oportunidade de se defender. Nem imagino que argumentos usará para explicar o inexplicável, mas o que mais interessa saber se sua eventual aposentadoria compulsória seria uma punição ou uma oportunidade. Quem assistiu a seus depoimentos na CPI do Genocídio — foram duas sessões repletas de mentiras para proteger o presidente — não tem por que estranhar aparição do general no trio elétrico do capitão, onde foi apresentado como “o gordo do bem”.

Ao que tudo indica, ocorreu uma troca de lealdades — da família militar para a família do bolsonarismo. E há indícios de que Pazuello foi picado pela mosca azul: seu nome vem sendo cotado para uma candidatura ao Parlamento (o ex-ministro nega, naturalmente, mas nem Velhinha de Taubaté (*) acreditaria no que ele diz).  Se passar mesmo para a reserva, talvez ele pense carinhosamente nessa possibilidade. Afinal, o exemplo mais bem sucedido de migração da caserna para a política está bem a seu lado.

Talvez  a reserva não seja um castigo assim tão grande para o general, que já se comporta se comporta como político em ano pré-eleitoral. Militar de pijama em cargo civil pode ser visto como solução. General da ativa na política produz anarquia. E o país precisa de outras coisas — vacinas, empregos e serenidade, por exemplo.

(*) Para quem não sabe ou não se lembra, a Velhinha de Taubaté é uma personagem caricata criada por Luis Fernando Veríssimo durante a gestão do general João Batista Figueiredo (1979-1985), o último presidente militar da ditadura. Famosa por ser a última pessoa no Brasil que acreditava no governo, ela “faleceu” em novembro de 2005, aos 90 anos, decepcionada o cenário político tupiniquim, em especial com o seu ídolo, Antonio Palocci.

Com Josias de Souza

terça-feira, 13 de julho de 2021

O PASTEL, OS TRÊS PATETAS E O MACACO GUARIBA


Em abril do ano passado, questionado sobre o aumento no número de mortes por Covid, Bolsonaro disse que não era coveiro. Sete meses depois, reclamou que sua vida estava uma desgraça, chamou a imprensa de "urubus" e queixou-se de não ter paz sequer para comer um pastel ou tomar um guaraná na rua. Ele mal sabia o que estava por vir. 

A situação do presidente se complica à medida que a CPI revolve as entranhas pútridas do governo federal. Saltam aos olhos evidências robustas de que o negacionismo, o descaso e a incompetência do governo federal foram em grande medida responsáveis pela morte de mais 530 mil pessoas no Brasil. Soterrado pelas evidências de corrupção, o capitão tenta negar o inegável e defender o indefensável com narrativas que não convenceriam nem a Velhinha de Taubaté.

Observação: Velhinha de Taubaté, criada por Luis Fernando Veríssimo durante a ditadura militar, ficou famosa por ser a última pessoa no Brasil que acreditava no governo. Ela “faleceu” em novembro de 2005, aos 90 anos, decepcionada com o cenário político tupiniquim, em especial com o seu ídolo, Antonio Palocci.

O senador Omar Aziz disse ontem que o silêncio do presidente no caso Covaxin deixa claro o cometimento de crime de responsabilidade. Ou coisa ainda pior. 

A senadora Simone Tebet, que extraiu do deputado Luis Miranda o nome do líder do governo na Câmara e expôs alterações grosseiras em no documento que o coronel Élcio Franco e o ministro Onyx Lorenzoni apresentaram para rebater as acusações de irregularidades, entende que existem elementos mais que suficientes para embasar um pedido de impeachment. Ela reconhece que ainda não há os 342 votos necessários na Câmara, mas acredita que o quadro venha a mudar nas próximas semanas.

Bolsonaro escreveu ao primeiro-ministro da Índia manifestando interesse na Covaxin, embora tenha insinuado que a vacina da Pfizer transformaria as pessoas em jacarésdesqualificado a CoronaVac — que apresenta eficácia de 78% na prevenção de casos leves e 100% para casos moderados e graves de Covid

Observação: As taxas de eficácia da "vachina do Dória" são semelhantes às verificadas em vacinas que já fazem parte do Plano Nacional de Imunização, como a da gripe. Demais disso, a vacinação contra a Covid no Brasil começou logo após a Anvisa aprovar o uso emergencial desse imunizante, que é responsável por 52,7% das doses distribuídas pelo país — a AstraZeneca, produzida pela Fiocruz, responde por 43,4% e a Pfizer, por 3,9%.

Bolsonaro disse ontem que a acusação de propina na compra de vacinas não se sustenta, e tornou a recorrer a uma justificativa inconsistente para se defender das denúncias. No sábado, ele apagou um vídeo que havia postado como sendo da motociata em Porto Alegre — que na verdade era do evento realizado em São Paulo no dia12 de junho — e voltou a atacar a CPI, referindo-se à cúpula da Comissão como "os três patetas".

Em resposta, o senador Omar Aziz comparou o presidente ao macaco guariba, que defeca pela boca, e minimizou a abertura de inquérito para apurar possível prevaricação no caso Covaxin: "Não foi a Polícia Federal que abriu absolutamente nada. Ela foi determinada a abrir pela PGR, que, por sua vez, foi determinada pelo Supremo. Não tem muito o que investigar, o próprio presidente admitiu que recebe muitas denúncias, mas não tem como encaminhá-las. Tem tempo pra andar de moto, mas não tem tempo para fazer o que deveria fazer. Ele é um bom motoqueiro e um péssimo presidente".

ObservaçãoA Polícia Federal instaurou um inquérito para investigar a suspeita de prevaricação do presidente. A investigação foi aberta a pedido da PGR, e autorizada pelo STF. De acordo com a decisão da ministra Rosa Weber, o prazo para conclusão das investigações é de 90 dias, mas pode ser prorrogado. O reverendo Amilton Gomes de Paula enviou nesta um atestado informando à CPI da impossibilidade de comparecer ao depoimento agendado para amanhã. O presidente da comissão disse ao Estadão que o dito-cujo afirmou ter problemas renais e que a solicitação está sendo analisada por uma junta médica do Senado.

Aziz afirmou à CNN que o presidente do senado lerá hoje o requerimento que sacramenta a prorrogação da CPI por até mais 90 dias, e que a comissão pretende seguir mais uma semana focada na apuração de possíveis irregularidades na compra de vacinas pelo governo federal.

Com Bolsonaro acuado, surge a discussão: pedir o impeachment ou deixá-lo sangrar? O impedimento é um instrumento que agrega forças e produz um desgaste constante, ensina Fernando Gabeira. Há quem afirme que ele fortalece o governante que o supera no Parlamento, mas não foi isso que aconteceu com Trump. Quando se está num movimento descendente, quase tudo empurra para baixo.

Os áudios divulgados pelo UOL mostram que Bolsonaro também contratava parentes para receber parte de seu salário. Tudo indica que o chefe do clã foi pioneiro no uso da técnica que ensinou posteriormente aos filhos parlamentares. Se ele não participou de grandes esquemas de corrupção ao longo de sua longa carreira, foi porque criou sua própria fonte de financiamento, destinada a manter campanhas e aumentar o patrimônio pessoal.

O povo nas ruas e o aumento da rejeição o "mito" apontam para um novo cenário cujos contornos exatos ainda não estão desenhados. Chega-se a um momento em que a habilidade da oposição se torna o fator decisivo, pois só uma sucessão de erros gigantescos pode tornar Bolsonaro viável nas eleições de 22. Ao menos essa é a leitura que o momento permite.

Com alguma sorte (mais nossa do que dele), Bolsonaro poderá voltar em breve a comer pastel e tomar guaraná na rua. Mas sua vida política será uma desgraça. 

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

SMARTPHONES (e outros produtos) FALSOS e MENSAGEM DE NATAL

O NATAL NÃO É UMA DATA, MAS UM ESTADO DE ESPÍRITO.


Acho que nem mesmo a Velhinha de Taubaté (*) compraria uma caneta Montblanc, uma camiseta Lacoste ou um par de tênis Asics, por exemplo, sem desconfiar do mascate asiático que lhe bateu à porta. E pior do que a caneta não escrever, a roupa encolher ou o tênis machucar seu pé, seria ela morrer intoxicada por uma beberagem suspeita vendida como scotch 20 anos, ou eletrocutada ao plugar seu smartphone a um “carregador alternativo”.

(*) Velhinha de TaubatéPersonagem criada por Luiz Fernando Veríssimo durante o governo do General Figueiredo, famosa por sua incrível ingenuidade e capacidade de acreditar piamente em tudo que lhe era dito pelos presidentes militares, durante os assim chamados “anos de chumbo”.  

Maracutaias nos ameaçam o ano inteiro, mas em determinadas datas - como é o caso do Natal - elas se intensificam. E como os falsificadores vêm fazendo a lição de casa, réplicas de uma vasta gama de produtos estão tão parecidas com os originais que é quase impossível separar o joio do trigo a olho nu.
Smartphones (e o mesmo vale para tablets) oferecidos em camelódromos e sites de leilão por uma fração do preço praticado no mercado formal são, em sua maioria, imitações grosseiras, onde a má qualidade e a falta de esmero no acabamento saltam aos olhos. Basta ligá-los para estranhar o sistema operacional e constatar a inoperância da maioria dos APPs (outros sinais clássicos de trapaça são traduções mal feitas, sem sentido ou com abundância de erros ortográfico-gramaticais).
Claro que há opções legítimas no mercado informal, mas o preço costuma ser salgado, de maneira que vale a pena ver se o seu círculo de amigos inclui algum piloto ou comissário que voe regularmente para os EUA, onde um iPhone 5 custa menos da metade do que nas lojas da Apple estabelecidas no Brasil. Também pode valer a pena encomendar o produto a um muambeiro de confiança e dividir com ele a diferença entre o preço de lá e de cá (melhor ainda se você não se importar em ter um modelo de penúltima geração).
Pendrives, módulos e cartões de memória falsos – ou mesmo originais adulterados ou com capacidade modificada – continuam sendo oferecidos no mercado (não faz muito tempo, a Kingston chegou a criar uma página em seu website para identificar as maracutaias mais comuns). Também não faltam CPUs e GPUs falsificadas, acessórios de áudio chinfrins e softwares pirateados gravados em mídias quase idênticas às originais (para mais informações, clique aqui).
Barbas de molho, pessoal!





A melhor mensagem de Natal é aquela que sai em silêncio de nossos corações e aquece com ternura os corações daqueles que nos acompanham em nossa caminhada pela vida.

OUÇAM http://youtu.be/uxtV3J2-KRE E TENHAM TODOS UM

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

NEM A VELHINHA DE TAUBATÉ...

 

Bolsonaro solicitou um visto de visitante (B1/B2), que, se concedido, lhe permitirá ficar mais seis meses homiziado na cueca do Pateta. A resposta pode demorar de dois a quatro meses — período durante o qual o ex-presidente deve permanecer nos EUA, sob pena de ter o pedido cancelado. No entanto, devido ao grande número de pessoas que passavam todos os dias pelo local, ele resolveu deixar a mansão do ex-lutador José Aldo. 

ObservaçãoBela Megale anotou em sua coluna no Globo que o capetão surpreendeu até os filhos ao declarar que pretende voltar ao Brasil nas próximas semanas. "Com pouquíssima burocracia, eu teria plena cidadania" disse ele ao jornal italiano Corriere Della Serra. 
 
Dias atrás, em um evento com ares de culto religioso — organizado pelo grupo ultradireitista Yes Brasil USA, associado ao ataque ao Capitólio —, o "mito" afirmou candidamente que a depredação das sedes dos Três Poderes no dia 8 de janeiro não foi "terrorismo"
voltou a bater na tecla de fraude eleitoral e negou sua derrota no pleito (a prova provada de que o lobo perde o pelo mas não larga o vício). 
Na segunda fileira da seletíssima plateia estavam o blogueiro foragido Allan dos Santos e o jornalista Paulo Figueiredo, neto do ex-presidente-general João Batista Figueiredo

O ex-presidente é alvo de cinco inquéritos no STF e réu em duas ações penais. A maioria dos processos deve ser enviada para a primeira instância. No mês passado, o ministro Alexandre de Moraes o incluiu numa das investigações dos atos terroristas em Brasília. Mas tanto o inquérito sobre as milícias quanto o dos autores intelectuais tendem a continuar no Supremo, porque outras pessoas investigadas têm foro privilegiado.

Segundo o portal Terra, o capitão destinou apenas um terço do orçamento anual necessário para a manutenção dos animais (embora tenha atribuído gastos elevados no cartão corporativo à alimentação das emas e dos peixes do lago do Alvorada). O laudo final sobre as mortes dos bicho ainda não está disponível, mas técnicos que acompanharam a avaliação e a autópsia afirmam que a morte súbita “fecha com o quadro de doenças cardíacas e hepáticas desencadeadas pelo mau manejo alimentar durante os últimos anos”.
 
Observação: As “emas do palácio” ganharam destaque depois que Bolsonaro, em meio a sua campanha pelo medicamento ineficaz no trato da Covid, foi filmado exibindo uma caixa de cloroquina aos animais.
 
Mesmo que não vá para a cadeia (afinal, Lula foi condenado a mais de 26 anos por mais de uma dezena de juízes de três instâncias e deixou sua cela VIP depois de míseros 580 dias), Bolsonaro pode ter os direitos políticos suspensos pelos próximos oito anos.  

E. T.Para quem não sabe, a Velhinha de Taubaté é uma personagem criada pelo escritor gaúcho Luís Fernando Veríssimo durante o último governo militar (1979-1985), que acreditava em tudo que lhe diziam, principalmente se a fonte fosse Brasília. Em 2005, porém, diante do choque de realidade provocado pelo escândalo do Mensalão, a senhorinha sofreu um piripaque na frente da televisão e partiu desta para melhor — dizem que morreu de desgosto ao descobrir que seu ídolo, Antonio Palocci, estava mergulhado em um mar de lama.

Bom carnaval a todos.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

CIRURGIA DE BOLSONARO E O BRASIL DAS PERGUNTAS SEM RESPOSTA



Antes de retomar o assunto do post anterior (encerrar é maneira de dizer, pois outros desdobramentos estão por vir), achei por bem publicar que o ministro Sérgio Moro criou um grupo de trabalho para reavaliar normas do Banco Central sobre o combate à lavagem de dinheiro. A determinação está na Portaria 82, e visa fazer alterações na comunicação entre os bancos e o Coaf sobre suspeitas de lavagem de dinheiro. O ministro tomou essa decisão diante da estapafúrdia proposta do BC de excluir parentes de políticos da lista de monitoramento obrigatório das instituições financeiras e derrubar a exigência de que todas as transações bancárias acima de R$ 10 mil sejam notificadas ao Coaf.

Resta saber o que será feito em relação ao igualmente estapafúrdio decreto assinado pelo general Hamilton Mourão durante a viagem de Bolsonaro a Davos. Afinal, permitir que servidores comissionados classifiquem dados públicos como sigilosos amplia o número de pessoas que podem pedir sigilo e limita o acesso à informação. Aliás, a lei de acesso à informação, sancionada pela ex-presidanta Dilma em 2011, foi um dos poucos pontos positivos de sua desditosa gestão; que isso não seja mudado, agora, por um governo que se elegeu batendo o bumbo do combate à corrupção.

Mudando de um ponto a outro, a expectativa de que a mídia focaria Brumadinho nos dias subsequentes à tragédia se confirmou plenamente, e com isso a situação cada vez mais complicada do primogênito do Presidente Bolsonaro saiu de cena (ao menos temporariamente). Volto a dizer que os rolos do Zero Um despertam mais atenção do que os de outros 26 deputados estaduais que também serão investigados pela Receita porque respingam no Presidente — que se declarava amigo de Queiroz e até admite ter emprestado dinheiro ao factótum do Clã —, dando dimensão nacional ao que, de outra forma, seria apenas um escândalo local. Mas isso não muda o fato de que há muitas perguntas sem respostas. E quem votou em Jair Bolsonaro o fez para evitar que o Brasil voltasse a ser governado por um criminoso condenado e sua quadrilha, e portanto tem o direito de saber a verdade.

A cirurgia a que restabeleceu o trânsito intestinal do Presidente demorou mais do que o previsto devido a problemas de aderência, mas, para o desgosto de seus detratores e opositores, tudo correu bem. Bolsonaro deverá despachar do hospital assim que deixar a UTI, e, se não houver complicações, ter alta em até 10 dias. Mas é no mínimo curioso que a mídia, a despeito de acompanhar de perto a internação do Presidente e divulgar os boletins médicos quase que em tempo real, não disse uma única palavra sobre o atentado, sobre quem estaria por trás do ajudante de pedreiro Adélio Bispo de Souza e sobre quem está pagando seus advogados. Nem a Velhinha de Taubaté acreditaria na balela de que Bispo era um "lobo solitário" e que agiu de moto próprio por inconformismo político, como apontou o primeiro inquérito — um segundo inquérito foi instaurado para dar continuidade às apurações, e investiga uma possível participação de terceiros ou grupos criminosos ligados a partidos de esquerda.

Falando na patuleia imprestável, relembro que, durante a campanha, Bolsonaro foi duramente criticado por não ter participado dos debates. Mas somente quem já usou uma bolsa de colostomia sabe os transtornos que a situação gera, inclusive do ponto de vista psicológico. Muitos dos que condenaram o condenam por ter faltado aos debates já faltaram ao trabalho devido a uma simples dor de garganta, mas pimenta no rabo alheio é refresco. Ou, como dizia Lenin: "O ódio é a base do comunismo; as crianças devem ser ensinadas a odiar seus pais se eles não são comunistas". 

Tomara que a investigação do atentado não tenha o mesmo desfecho dos assassinatos de Toninho do PT, em setembro de 2001, e de Celso Daniel, em janeiro de 2002. Ou ainda o de Paulo César Siqueira Cavalcante Farias  — mais conhecido como PC Farias — , em junho de 1996. Os dois primeiros casos, se bem investigados, certamente revelariam as digitais de próceres do próprio PT. Já o do ex-tesoureiro da campanha de Collor cheira a queima de arquivo, pois PC conhecia melhor que ninguém os malfeitos praticados durante a gestão do caçador de marajás de festim — como diz um velho ditado, antes que o mal cresça, corta-se a cabeça

Para quem não se lembra, PC Farias se tornou uma espécie de factótum de Collor (mais ou menos como Palocci durante a campanha e no início do primeiro governo de Lula). Collor derrotou Lula no pleito presidencial de 1989 e três meses depois da posse já surgiam denúncias de corrupção, primeiro envolvendo apenas o segundo escalão, mas, quatro meses mais tarde, alcançando pessoas próximas ao Presidente. Foi então que nome de Paulo César Farias apareceu como intermediário de negócios entre o empresariado e o governo.

Collor só foi atingido diretamente pelas denúncias em 24 de maio de 1992, depois que seu irmão Pedro o acusou publicamente de manter uma sociedade com PC Farias, que seria seu testa-de-ferro nos negócios. A PF instaurou um inquérito e a PGR determinou a apuração dos crimes atribuídos ao chefe na nação, a sua superministra Zélia Cardoso de Mello, ao pau-pra-toda-obra PC Farias e ao piloto de avião Jorge Bandeira de Melo, acusado de intermediar a liberação de verbas no Ministério da Ação Social.

Guardadas as devidas proporções, Zélia era uma espécie de Dilma, mas em edição melhorada, até porque nada supera a nefelibata da mandioca como calamidade em forma de gente. A ministra foi a mentora intelectual do confisco da poupança dos brasileiros, teve um escandaloso affair com o ministro Bernardo Cabral — conhecido como Boto Tucuxi (que segundo o folclore paraense se metamorfoseia à noite num homem dançador, bebedor, galante e sedutor que encanta as caboclas ribeirinhas —, acabou se casando com Chico Anysio, que passou a ser conhecido como “o humorista que casou com a piada”.

Em agosto de 1992 o relatório final da CPI (instaurada a pedido do PT) apontou as ligações de Collor com o esquema de corrupção. Estimava-se então que US$ 6,5 milhões foram desviados para bancar gastos pessoais do presidente, o que é dinheiro de pinga em comparação com o que o PT e seus acólitos roubaram no Mensalão e no Petrolão. Mas aí vieram as famosas manifestações dos “caras-pintadas”, em apoio ao pedido de impeachment assinado pelo presidentes da Associação Brasileira de Imprensa e da Ordem dos Advogados do Brasil. Collor renunciou às vésperas do julgamento (que ocorreu em 29 de dezembro de 1992), visando preservar seus direitos políticos, mas foi condenado por 441 dos 480 deputados presentes e, como manda a Lei, tornou-se inelegível por oito anos.

Indiciado em 41 inquéritos criminais, PC Farias teve sua prisão decretada, mas fugiu no Morcego Negro, pilotado por Jorge Bandeira de Mello. Depois de várias escalas, desapareceu em Buenos Aires e só reapareceu quatro meses mais tarde, em Londres — 11 quilos mais magro e sem seus famosos bifocais. Enquanto se discutia sua extradição, o fujão tornou a fugir, mas foi capturado dali a três meses, depois que um turista brasileiro o viu andando pelas ruas de Bangcoc, na Tailândia. Foi extraditado, julgado e condenado a 4 anos de prisão por sonegação fiscal e 7 por falsidade ideológica. Cumpriu um terço da pena e, seis meses depois de obter liberdade condicional, foi assassinado, juntamente com a namorada Suzana Marcolino, em circunstâncias jamais esclarecidas, mas que sugerem claramente “queima de arquivo”.

A tese de homicídio seguido de suicídio foi endossada pelo legista Badan Palhares, mas desmontada por uma série de reportagens da Folha. Segundo o jornal, Suzana era mais baixa que PC, e a diferença de altura, associada à trajetória do tiro, inviabilizava a versão oficial (o próprio Palhares escrevera num artigo que, se a altura estivesse errada, seu laudo também estaria). Na avaliação do professor de medicina legal e coronel reformado da PM George Sanguinetti, um dos primeiros a contestar o suicídio, “passional não foi o crime, mas sim o inquérito”.

Os homicídios ocorreram na mansão de PC, numa praia de Maceió. Os corpos foram encontrados no dia 23 de junho de 1996 (com um tiro no peito de cada um), e ainda que a casa fosse guardada por 4 seguranças, ninguém ouviu os tiros “porque era época de festas juninas”.

Amanhã voltamos ao imbróglio Flávio Bolsonaro. Até lá.

terça-feira, 12 de julho de 2022

E VIVA O POVO BRASILEIRO...

 

A morte a tiros do dirigente petista Marcelo Arruda pelo bolsonarista José da Rocha Guaranho , na madrugada de domingo, em Foz do Iguaçu, após troca de insultos por divergência política, escandalizou o país e gerou condenação de autoridades e políticos de todos os espectros ideológicos. Um vídeo registrou o momento da invasão de Guaranho à festa de Arruda e a troca de tiros. O PT estuda pedir para que a PF investigue o caso. Bolsonaro disse que dispensa apoio de quem recorre à violência, mas atacou a esquerda. Mais detalhes sobre esse lamentável episódio e o que ele prenuncia no vídeo que eu inseri no final desta matéria.


***


Em plena campanha antecipada, Bolsonaro bateu ponto na festa da independência da Bahia, que também contou com a presença dos principais presidenciáveis (se é que a polarização exacerbada permite considerar Ciro e Simone como tal). Apesar de reclamar da "moto de merda" que lhe arrumaram, o mito dos bolsomínions liderou mais uma motociata pela orla soteropolitana, depois de condenar, num rápido discurso, a alta dos combustíveis, e criticar "os governadores do Nordeste", que são, em sua maioria, apoiadores de Lula. Aliás, fala-se que o staff da campanha do petralha manipulou digitalmente as imagens do evento, de maneira a dobrar o número de participantes que aparecem nas fotos. Triste Brasil!
 
No início de 2014, o então deputado Jair Bolsonaro perorou: "(...) a única coisa boa do Maranhão é o presídio de Pedrinhas". Em meados de 2019, já na Presidência, ele disse: "(...) daqueles governadores 'de Paraíba' [sic.], o pior é o do Maranhão". Dois meses depois, perguntado por um deputado baiano se estaria virando um "cabra da peste", respondeu: "(...) só tá faltando crescer um pouquinho a cabeça". Semanas atrás, indagou ao ex-ministro e pré-candidato ao governo paulista Tarcísio de Freitas se ele tem "parentes pau de arara" (confira outras pérolas racistas de seu presidente seguindo este link).
 
O fato de as pesquisas de intenção de voto desfavorecerem Bolsonaro preocupa os articuladores de sua campanha à reeleição, sobretudo depois da prisão do ex-ministro Milton Ribeiro (prontamente revogada pelo desembargador Ney Bello, do TRF-1), que demoliu a farsa bolsonarista de que não existe corrupção no governo. Uma preocupação tardia, convenhamos, já que a primeira das muitas promessas de campanha que Bolsonaro não cumpriu foi justamente a do combate à corrupção. E nem poderia: antes mesmo de ele ser eleito vieram à luz os malabarismos do amigo Fabrício Queiroz, coordenador do "suposto" esquema de rachadinhas do filho Flávio, e a informação de que Wal do Açaí era funcionária-fantasma do próprio Jair. E isso foi só o começo. 
 
Na famosa reunião ministerial de abril de 2020, Bolsonaro deixou evidente, com seu tradicional português castiço, o propósito de interferir politicamente na Polícia Federal. Para quem não se lembra dessa história, segue um trecho de sua fala: "Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro oficialmente e não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar foder minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura. Vai trocar; se não puder trocar, troca o chefe dele; não pode trocar o chefe, troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira."
 
Nem a finada Velhinha de Taubaté acreditaria na lisura de um governo cujo chefe é useiro e vezeiro em praticar "atos pouco republicanos", alvo de 145 pedidos de impeachment e de quase uma dezena de inquéritos que "apuram" da compra de vacinas superfaturadas ao escândalo do MEC  no qual o envolvimento do chefe do Executivo foi reconhecido expressamente pelo próprio ex-ministro Milton Ribeiro. Mas Bolsonaro conta com escudeiros fiéis na presidência da Câmara e na PGR, de modo que tudo isso deve acabar em pizza. 
 
Sempre que pode, o mandatário alardeia que não há corrupção em seu governo, a despeito de colecionar dezenas de casos espúrios envolvendo ministros, assessores e o próprio clã presidencial. Para aumentar sua base de apoio no Congresso, sua alteza montou um orçamento secreto multibilionário. Boa parte do dinheiro foi destinada à compra de tratores e equipamentos agrícolas por preços superfaturados em até 259%. O conjunto de 101 ofícios encaminhados por deputados e senadores ao Ministério do Desenvolvimento Regional para apontar como eles preferiam utilizar os recursos comprova a farra com o dinheiro público.
 
Observação: As emendas desse bolsolão seguem um rito diferente das demais, que atendem a critérios específicos, visando ao equilíbrio e à equivalência entre todos os integrantes da Câmara Federal. A prática nada mais é do que um acordo informal que permite ao governo, por meio da direção da Casa, comprar o apoio de deputados às propostas encaminhadas pelo Executivo ao Legislativo. Entre outros malabarismos espúrios, o MEC, sob Bolsonaro, abriu um processo de licitação para pagar R$ 480 mil por ônibus escolar destinado ao transporte de estudantes em áreas rurais, quando cada ônibus deveria custar, no máximo, R$ 270 mil.
 
O governo "impoluto" do mito dos apatetados contratou uma empresa de fachada para prestar serviços de pavimentação ao custo de R$ 600 milhões, nos quais o valor total das irregularidades somou R$ 4,3 milhões. Algumas das vias examinadas pela CGU ficam no município alagoano de Barra de São Miguel, cujo prefeito é Benedito Lira, pai do presidente da Câmara dos Deputados.
 
O ex-factótum da Famiglia Bolsonaro depositou pelo menos 21 cheques na conta da hoje primeira-dama entre os anos de 2011 e 2018, que também recebeu pelo menos quatro depósitos de R$ 11 mil feitos por Márcia Aguiar, esposa de Queiroz. Um levantamento feito pelo Estadão revelou um documento do Coaf que aponta movimentação atípica de R$ 1,2 milhão na conta do ex-assessor parlamentar de Zero Um, e ainda há suspeitas da prática de rachadinha nos gabinetes do filho Zero Dois e do próprio Jair Bolsonaro.
 
O MPF denunciou Bolsonaro-pai e sua ex-funcionária fantasma Walderice Santos da Conceição (a tal "Wal do Açaí") à Justiça Federal de Brasília por improbidade administrativa. Como dito linhas acima, o caso veio à tona em 2018, em meio à campanha eleitoral. Reportagens da Folha revelaram que Wal foi registrada como funcionária de Bolsonaro em sua Secretaria de Gabinete na Câmara dos Deputados, em Brasília, mas vendia açaí no município fluminense de Angra dos Reis.
 
Denúncias apontaram que o contrato entre o Ministério da Saúde e a empresa Precisa, representante do imunizante indiano Covaxin no Brasil, previa a compra superfaturada do produto. Os contrato de R$1,6 bilhão envolveria ainda uma empresa de fachada, a Madison Biotech, localizada em Singapura. 

Ao longo de 2020, o governo gastou R$ 1,8 bilhão em itens de alimentação, sendo R$ 15,6 milhões em leite condensado. Ao rebater as acusações, o mandatário deu mais uma demonstração de sua indefectível polidez: "Quando eu vejo a imprensa me atacar, dizendo que comprei 2 milhões e meio de latas de leite condensado, vai pra puta que pariu, imprensa de merda! É pra enfiar no rabo de vocês da imprensa essas latas de leite condensado.

Bolsonaro já gastou R$ 16,5 milhões com o cartão corporativo em viagens com a comitiva e a família, segundo um levantamento feito pelo TCU. O montante é parte dos R$ 21 milhões torrados pelo presidente, pela primeira-dama e pelo círculo mais próximo do clã presidencial.
 
O senador Flávio Bolsonaro trocou o apartamento funcional que ocupava em Brasília por uma chamativa mansão num dos pontos mais bonitos, seguros e valorizados do DF. O imóvel foi comprado por R$ 6 milhões. Na época, Zero Dois explicou que financiou metade da dívida e que a outra metade teria sido quitada com recursos da venda de um apartamento que ele tinha no Rio de Janeiro e de uma franquia de chocolates. Mas não revelou maiores detalhes do negócio, nem a identidade do comprador. Especulou-se que os rendimentos do parlamentar eram incompatíveis com uma aquisição de tamanho porte, mas, diante da sucessão de escândalos envolvendo essa espúria gestão, o assunto caiu no esquecimento.
 
Tampouco se fala do envolvimento do clã presidencial com milicianos do quilate de Adriano da Nóbrega, líder do "Escritório do Crime", que foi executado pela PM baiana numa operação no mínimo suspeita. O miliciano tinha relações diretas com Queiroz e a família do presidente. A história foi parar na televisão alemã, que divulgou uma matéria sobre a ligação do presidente e seus filhos com milícias fluminenses e sua relação com o assassinato de Marielle Franco, cujo mandante ninguém sabe até hoje quem foi.
 
A lista de prioridades do governo Bolsonaro nunca deixa de surpreender. Após o escândalo da compra de R$ 56 milhões em filé, picanha e salmão, as Forças Armadas adquiriram 35 mil unidades de Viagra, além de torrar R$ 3,5 milhões em próteses penianas. Isso sem falar que Fabio Wajngarten, então chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, recebia (por meio de uma empresa da qual era sócio) dinheiro de emissoras de TV e agências de publicidade contratadas pela SECON, por ministérios e por estatais do governo federal. 

Mais de um ano depois de deixar o Palácio do Planalto em meio a uma disputa sobre a estratégia de comunicação, Wajngarten voltou a Brasília, a convite de Flávio Bolsonaro, para atuar na campanha pela reeleição do pai. Ainda não está definido qual cargo formal ele terá junto ao governo, mas especula-se que atuará como assessor especial da Presidência.