A morte a tiros do dirigente petista Marcelo Arruda pelo bolsonarista José da Rocha Guaranho , na madrugada de domingo, em Foz do Iguaçu, após troca de insultos por divergência política, escandalizou o país e gerou condenação de autoridades e políticos de todos os espectros ideológicos. Um vídeo registrou o momento da invasão de Guaranho à festa de Arruda e a troca de tiros. O PT estuda pedir para que a PF investigue o caso. Bolsonaro disse que dispensa apoio de quem recorre à violência, mas atacou a esquerda. Mais detalhes sobre esse lamentável episódio e o que ele prenuncia no vídeo que eu inseri no final desta matéria.
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Em plena campanha antecipada, Bolsonaro bateu ponto na festa da independência da Bahia, que também contou com a presença dos principais presidenciáveis (se é que a polarização exacerbada permite considerar Ciro e Simone como tal). Apesar de reclamar da "moto de merda" que lhe arrumaram, o mito dos bolsomínions liderou mais uma motociata pela orla soteropolitana, depois de condenar, num rápido discurso, a alta dos combustíveis, e criticar "os governadores do Nordeste", que são, em sua maioria, apoiadores de Lula. Aliás, fala-se que o staff da campanha do petralha manipulou digitalmente as imagens do evento, de maneira a dobrar o número de participantes que aparecem nas fotos. Triste Brasil!
No início de 2014, o então deputado Jair Bolsonaro perorou: "(...) a única coisa boa do Maranhão é o presídio de Pedrinhas". Em meados de 2019, já na Presidência, ele disse: "(...) daqueles governadores 'de Paraíba' [sic.], o pior é o do Maranhão". Dois meses depois, perguntado por um deputado baiano se estaria virando um "cabra da peste", respondeu: "(...) só tá faltando crescer um pouquinho a cabeça". Semanas atrás, indagou ao ex-ministro e pré-candidato ao governo paulista Tarcísio de Freitas se ele tem "parentes pau de arara" (confira outras pérolas racistas de seu presidente seguindo este link).
O fato de as pesquisas de intenção de voto desfavorecerem Bolsonaro preocupa os articuladores de sua campanha à reeleição, sobretudo depois da prisão do ex-ministro Milton Ribeiro (prontamente revogada pelo desembargador Ney Bello, do TRF-1), que demoliu a farsa bolsonarista de que não existe corrupção no governo. Uma preocupação tardia, convenhamos, já que a primeira das muitas promessas de campanha que Bolsonaro não cumpriu foi justamente a do combate à corrupção. E nem poderia: antes mesmo de ele ser eleito vieram à luz os malabarismos do amigo Fabrício Queiroz, coordenador do "suposto" esquema de rachadinhas do filho Flávio, e a informação de que Wal do Açaí era funcionária-fantasma do próprio Jair. E isso foi só o começo.
Na famosa reunião ministerial de abril de 2020, Bolsonaro deixou evidente, com seu tradicional português castiço, o propósito de interferir politicamente na Polícia Federal. Para quem não se lembra dessa história, segue um trecho de sua fala: "Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro oficialmente e não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar foder minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura. Vai trocar; se não puder trocar, troca o chefe dele; não pode trocar o chefe, troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira."
Nem a finada Velhinha de Taubaté acreditaria na lisura de um governo cujo chefe é useiro e vezeiro em praticar "atos pouco republicanos", alvo de 145 pedidos de impeachment e de quase uma dezena de inquéritos que "apuram" da compra de vacinas superfaturadas ao escândalo do MEC — no qual o envolvimento do chefe do Executivo foi reconhecido expressamente pelo próprio ex-ministro Milton Ribeiro. Mas Bolsonaro conta com escudeiros fiéis na presidência da Câmara e na PGR, de modo que tudo isso deve acabar em pizza.
Sempre que pode, o mandatário alardeia que não há corrupção em seu governo, a despeito de colecionar dezenas de casos espúrios envolvendo ministros, assessores e o próprio clã presidencial. Para aumentar sua base de apoio no Congresso, sua alteza montou um orçamento secreto multibilionário. Boa parte do dinheiro foi destinada à compra de tratores e equipamentos agrícolas por preços superfaturados em até 259%. O conjunto de 101 ofícios encaminhados por deputados e senadores ao Ministério do Desenvolvimento Regional para apontar como eles preferiam utilizar os recursos comprova a farra com o dinheiro público.
Observação: As emendas desse bolsolão seguem um rito diferente das demais, que atendem a critérios específicos, visando ao equilíbrio e à equivalência entre todos os integrantes da Câmara Federal. A prática nada mais é do que um acordo informal que permite ao governo, por meio da direção da Casa, comprar o apoio de deputados às propostas encaminhadas pelo Executivo ao Legislativo. Entre outros malabarismos espúrios, o MEC, sob Bolsonaro, abriu um processo de licitação para pagar R$ 480 mil por ônibus escolar destinado ao transporte de estudantes em áreas rurais, quando cada ônibus deveria custar, no máximo, R$ 270 mil.
O governo "impoluto" do mito dos apatetados contratou uma empresa de fachada para prestar serviços de pavimentação ao custo de R$ 600 milhões, nos quais o valor total das irregularidades somou R$ 4,3 milhões. Algumas das vias examinadas pela CGU ficam no município alagoano de Barra de São Miguel, cujo prefeito é Benedito Lira, pai do presidente da Câmara dos Deputados.
O ex-factótum da Famiglia Bolsonaro depositou pelo menos 21 cheques na conta da hoje primeira-dama entre os anos de 2011 e 2018, que também recebeu pelo menos quatro depósitos de R$ 11 mil feitos por Márcia Aguiar, esposa de Queiroz. Um levantamento feito pelo Estadão revelou um documento do Coaf que aponta movimentação atípica de R$ 1,2 milhão na conta do ex-assessor parlamentar de Zero Um, e ainda há suspeitas da prática de rachadinha nos gabinetes do filho Zero Dois e do próprio Jair Bolsonaro.
O MPF denunciou Bolsonaro-pai e sua ex-funcionária fantasma Walderice Santos da Conceição (a tal "Wal do Açaí") à Justiça Federal de Brasília por improbidade administrativa. Como dito linhas acima, o caso veio à tona em 2018, em meio à campanha eleitoral. Reportagens da Folha revelaram que Wal foi registrada como funcionária de Bolsonaro em sua Secretaria de Gabinete na Câmara dos Deputados, em Brasília, mas vendia açaí no município fluminense de Angra dos Reis.
Denúncias apontaram que o contrato entre o Ministério da Saúde e a empresa Precisa, representante do imunizante indiano Covaxin no Brasil, previa a compra superfaturada do produto. Os contrato de R$1,6 bilhão envolveria ainda uma empresa de fachada, a Madison Biotech, localizada em Singapura.
Ao longo de 2020, o governo gastou R$ 1,8 bilhão em itens de alimentação, sendo R$ 15,6 milhões em leite condensado. Ao rebater as acusações, o mandatário deu mais uma demonstração de sua indefectível polidez: "Quando eu vejo a imprensa me atacar, dizendo que comprei 2 milhões e meio de latas de leite condensado, vai pra puta que pariu, imprensa de merda! É pra enfiar no rabo de vocês da imprensa essas latas de leite condensado."
Bolsonaro já gastou R$ 16,5 milhões com o cartão corporativo em viagens com a comitiva e a família, segundo um levantamento feito pelo TCU. O montante é parte dos R$ 21 milhões torrados pelo presidente, pela primeira-dama e pelo círculo mais próximo do clã presidencial.
O senador Flávio Bolsonaro trocou o apartamento funcional que ocupava em Brasília por uma chamativa mansão num dos pontos mais bonitos, seguros e valorizados do DF. O imóvel foi comprado por R$ 6 milhões. Na época, Zero Dois explicou que financiou metade da dívida e que a outra metade teria sido quitada com recursos da venda de um apartamento que ele tinha no Rio de Janeiro e de uma franquia de chocolates. Mas não revelou maiores detalhes do negócio, nem a identidade do comprador. Especulou-se que os rendimentos do parlamentar eram incompatíveis com uma aquisição de tamanho porte, mas, diante da sucessão de escândalos envolvendo essa espúria gestão, o assunto caiu no esquecimento.
Tampouco se fala do envolvimento do clã presidencial com milicianos do quilate de Adriano da Nóbrega, líder do "Escritório do Crime", que foi executado pela PM baiana numa operação no mínimo suspeita. O miliciano tinha relações diretas com Queiroz e a família do presidente. A história foi parar na televisão alemã, que divulgou uma matéria sobre a ligação do presidente e seus filhos com milícias fluminenses e sua relação com o assassinato de Marielle Franco, cujo mandante ninguém sabe até hoje quem foi.
A lista de prioridades do governo Bolsonaro nunca deixa de surpreender. Após o escândalo da compra de R$ 56 milhões em filé, picanha e salmão, as Forças Armadas adquiriram 35 mil unidades de Viagra, além de torrar R$ 3,5 milhões em próteses penianas. Isso sem falar que Fabio Wajngarten, então chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, recebia (por meio de uma empresa da qual era sócio) dinheiro de emissoras de TV e agências de publicidade contratadas pela SECON, por ministérios e por estatais do governo federal.
O senador Flávio Bolsonaro trocou o apartamento funcional que ocupava em Brasília por uma chamativa mansão num dos pontos mais bonitos, seguros e valorizados do DF. O imóvel foi comprado por R$ 6 milhões. Na época, Zero Dois explicou que financiou metade da dívida e que a outra metade teria sido quitada com recursos da venda de um apartamento que ele tinha no Rio de Janeiro e de uma franquia de chocolates. Mas não revelou maiores detalhes do negócio, nem a identidade do comprador. Especulou-se que os rendimentos do parlamentar eram incompatíveis com uma aquisição de tamanho porte, mas, diante da sucessão de escândalos envolvendo essa espúria gestão, o assunto caiu no esquecimento.
Tampouco se fala do envolvimento do clã presidencial com milicianos do quilate de Adriano da Nóbrega, líder do "Escritório do Crime", que foi executado pela PM baiana numa operação no mínimo suspeita. O miliciano tinha relações diretas com Queiroz e a família do presidente. A história foi parar na televisão alemã, que divulgou uma matéria sobre a ligação do presidente e seus filhos com milícias fluminenses e sua relação com o assassinato de Marielle Franco, cujo mandante ninguém sabe até hoje quem foi.
A lista de prioridades do governo Bolsonaro nunca deixa de surpreender. Após o escândalo da compra de R$ 56 milhões em filé, picanha e salmão, as Forças Armadas adquiriram 35 mil unidades de Viagra, além de torrar R$ 3,5 milhões em próteses penianas. Isso sem falar que Fabio Wajngarten, então chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, recebia (por meio de uma empresa da qual era sócio) dinheiro de emissoras de TV e agências de publicidade contratadas pela SECON, por ministérios e por estatais do governo federal.
Mais de um ano depois de deixar o Palácio do Planalto em meio a uma disputa sobre a estratégia de comunicação, Wajngarten voltou a Brasília, a convite de Flávio Bolsonaro, para atuar na campanha pela reeleição do pai. Ainda não está definido qual cargo formal ele terá junto ao governo, mas especula-se que atuará como assessor especial da Presidência.
E viva o povo brasileiro!