sábado, 25 de junho de 2022

A FARRA DA MEXERICA

 

Além de fazer campanha antecipada, Bolsonaro manda a conta para o contribuinte. Só nas três motociatas ocorridas entre 1º de abril e 5 de maio, foram torrados R$ 4,2 milhões


Por determinação do capitão, informações sobre gastos com cartões corporativos feitos por ele, pela primeira-dama e pelo círculo mais próximo do clã ficam guardadas a sete chaves e  99% das despesas carregam o selo de confidencial. Mas uma auditoria sigilosa feita pelo TCU apurou que as faturas somaram R$ 21 milhões de janeiro de 2019 a março do ano passado.

 

Foram gastos R$ 2,6 milhões em gêneros alimentícios para os palácios do Planalto e do Jaburu — quase R$ 100 mil por mês, em média. Para alimentar a tropa de seguranças e pessoal de apoio administrativo nas viagens de Bolsonaro e Mourão, foram mais R$ 2,59 milhões — na gestão Temer, a despesa foi de R$ 1,3 milhão, mas o vampiro não tinha vice. Por outro lado, Bolsonaro gastou cerca R$ 420,5 mil com combustível, quase o dobro do valor queimado pelo antecessor.

 

A pretexto de resguardar a segurança pessoal do presidente, o Planalto resiste a dar mais transparência aos dados. “Um ex-militante do PSOL tentou assassiná-lo, o que eleva seu grau de risco de morte, pois a chance de ele ser vítima novamente do ódio da esquerda é grande”, disse o filho Zero Um sobre a falta de transparência nas despesas do pai. 


O maior volume de gastos sigilosos está relacionado a viagens do presidente, do vice e de suas comitivas. Foram R$ 16,5 milhões em pagamentos de hospedagem, fornecimento de alimentação e apoio operacional. O capitão costuma pernoitar em instalações militares a fim de, sempre que possível, "economizar verba pública”, mas a estratégia parece não estar surtindo o efeito desejado.

 

A bordo do avião presidencial, os ministros Paulo Guedes, Fábio Faria, Augusto Heleno, e Luiz Eduardo Ramos viajaram não para agendas públicas ou compromissos oficiais, mas para curtir feriados fora de Brasília ou assistir a partidas de futebol em São Paulo e no Rio de Janeiro. Do mesmo expediente valeram-se outras dezessete autoridades ou convidados e respectivos familiares. 


André Mendonça e seu filho pegaram carona com Bolsonaro para aproveitar o feriado da Proclamação da República, em 2019, nas praias do Guarujá. O mesmo destino foi escolhido pelo ex-ministro Milton Ribeiro — preso pela PF no último dia 22 —, que também aproveitou a carona presidencial no réveillon de 2021. O senador Roberto Rocha, titular da Corregedoria do Senado — e portanto responsável por promover o decoro entre os parlamentares — também viajou com Bolsonaro até São Paulo para emendar o feriado de Finados em 2020. 


O secretário de Pesca Jorge Seif — a quem o presidente apelidou de Zero Cinco — passou a semana do Natal de 2020 em São Francisco do Sul (SC). Embora a pandemia estivesse em franca ascensão e o governo ainda não tivesse comprado uma mísera dose de vacina, a viagem foi programada para que ele e o presidente fossem pescar. 


O deputado federal bolsonarista Hélio Negão ocupa o primeiro lugar na lista de passageiros ilustres em caronas presidenciais. Foram sete viagens para todo tipo de compromisso privado — como assistir ao casamento do deputado Eduardo Bolsonaro e a jogos de futebol, descansar em dois feriados e no Carnaval, pescar com o chefe em Santa Catarina, e até votar nas eleições municipais de 2020. Outro caroneiro de carteirinha é o pastor Josué Valandro Jr. — ministro da igreja frequentada pela primeira-dama, ele viajou com Bolsonaro em junho e setembro de 2020 para conhecer um trecho da transposição do Rio São Francisco e uma obra no Vale do Ribeira. 

 

Desde 2001, quando foram implantados, os cartões corporativos deram azo a várias crises políticas. No governo Lula, o aumento em quase 100% dos gastos, de um ano para o outro, ganhou ares de escândalo  sem falar que a filha do petralha usava o cartão presidencial para custear despesas pessoais. O Congresso chegou a abrir uma CPI para apurar o caso, mas investigação não resultou em nada além do aumento do sigilo das despesas e do volume de gastos nas administrações seguintes.

 

Dizem que cada povo tem o governo que merece, e o Brasil está longe de ser a exceção que confirma a regra. Enquanto mais de 30 milhões de brasileiros não têm o que comer, parlamentares enchem as burras dos fundos eleitoral e partidário e, em meio à pior carestia dos últimos 40 anos, nadam de braçada no lamaçal do orçamento secreto. 


Tomadas pela húbris, suas excelências apresentam propostas absolutamente surreais — como a do deputado bolsonarista Domingos Sávio, que recolocou em discussão a PEC do Equilíbrio entre os Poderes (proposta semelhante foi apresentada em 2011 pelo deputado petista Nazareno Fonteles (demonstrando que o interesse de controlar o STF é suprapartidário). 


As togas já se mobilizam para barrar o avanço desse despautério, que viola a separação dos poderesuma das cláusulas pétreas da Constituição. Talvez o nobre deputado devesse iniciar sua alfabetização constitucional pelo § 4º do art. 60 da Carta Magna.


Com Veja

 

Continua...