A despeito de 15,5% da população não terem o que comer, a coligação do partido de Lula (que reúne, além do PT, PSB, PCdoB, Rede, PSOL, PV e Solidariedade) vai receber R$ 1,2 bilhão do fundão eleitoral. O valor é cerca de 20% maior do que os R$ 990 milhões que serão destinados aos partidos que apoiam a reeleição de Bolsonaro. Juntas, as legendas que estão com os dois principais pré-candidatos terão direito a 44% do montante destinado a bancar as eleições gerais deste ano.
O terceiro colocado nas pesquisas — Ciro Gomes, do PDT — ainda não conseguiu fechar alianças, o que impacta no caixa. Seu partido ficará com R$ 253,4 milhões. Já a coligação que vai fortalecer o palanque da chamada terceira via, encabeçado pela senadora Simone Tebet, receberá R$ 683 milhões. O partido que ficou com a maior fatia dos recursos é o União Brasil, de Luciano Bivar: R$ 782 milhões. Em seguida, estão o PT, com pouco mais de R$ 503 milhões, e o MDB, que vai dispor de R$ 363 milhões.
Além dos recursos públicos, os presidenciáveis têm investido em outras alternativas de financiamento. Como mostrou O GLOBO, as campanhas de Lula e Bolsonaro vêm desenvolvendo estratégias para arrecadar recursos de pessoas físicas via Pix. Em outra investida, Zero Um assumiu o papel de turbinar as possibilidades de angariar verbas para a campanha do pai — empresários do agronegócio são os principais alvos.
Além do fundão e das doações de pessoas físicas, os partidos podem usar nas campanhas recursos do fundo partidário para custear gastos rotineiros, como passagens aéreas e pagamentos de luz e aluguel. Ou para bancar honorários astronômicos cobrados por criminalistas estrelados.
Observação: Conforme eu publiquei nesta postagem, o PT gastou R$ 14 milhões na defesa de Lula e seus comparsas. E nós, “contribuintes”, acabamos pagando a conta duas vezes: com os desvios dos quadrilheiros e com o fundo partidário. Mesmo assim, a julgar pelas pesquisas, é esse tipo de gente que será reconduzida ao Planalto nas próximas eleições.
Faço essa observação porque a Justiça de São Paulo determinou o bloqueio dos bens de João Muniz Leite, contador de Lula, de seu filho Lulinha e de dois traficantes que fornecem droga para o PCC e estão ligados a uma empresa de ônibus. Segundo reportagem do Estadão, somente no ano passado o contador — que fez as declarações do Imposto de Renda do ex-presidente ex-presidiário entre 2013 e 2016 e deu apoio contábil na defesa contra as acusações da Lava-Jato — e a mulher ganharam 55 vezes em loterias federais.
Em uma das premiações, Leite dividiu um prêmio de R$ 16 milhões com o traficante Anselmo Becheli Santa Fausta, conhecido como Cara Preta, um dos principais fornecedores de drogas do PCC, assassinado em dezembro último. No total, o contador embolsou R$ 34,1 milhões fazendo altas apostas, muitas vezes com prejuízo.
A suspeita é que os prêmios serviam para esquentar o dinheiro ilícito. A reportagem revela que Cara Preta usou parte do dinheiro para comprar, em parceria com cinco integrantes do PCC, a empresa de ônibus UPBus, que mantém contrato de R$ 600 milhões com a Prefeitura de São Paulo em 13 linhas na zona leste.
Detalhe: o endereço do escritório do contador, no bairro Pinheiros, em São Paulo, é o mesmo do apartamento onde Lulinha mantém três empresas, que, por sua vez, está em nome do titular do sítio de Atibaia.
Quando a gente pensa que já viu tudo no mensalão, petrolão, Lava-Jato, Atibaia, tríplex, empreiteiras, esse magnetismo com a ilegalidade e a corrupção volta a nos surpreender.