No País das Maravilhas sem Alice, o STF prestou mais um “inestimável serviço” aos cidadãos de bem avalizando o crime contra a economia popular conhecido como “fundo eleitoral” (dinheiro que é roubado de nós para ajudar a eleger quem vai nos roubar na próxima legislatura). O voto da ministra Rosa Weber formou maioria pela improcedência da ação movida pelo partido Novo contra elevação do butim para R$ 4,9 bilhões, e o placar final ficou em 9 x 2.
Ainda sobre os valorosos serviços prestados pelo STF, o ministro Lewandowski concluiu o que seu colega de toga Luís Edson Fachin começou em março do ano passado, quando anulou as condenações de Lula nos processos que tramitaram ou tramitavam na Justiça Federal do Paraná.
O mesmo magistrado que presidia o Supremo quando Dilma foi defenestrada pelo Senado — e urdiu com o senador Renan Calheiros, então presidente Congresso, o "fatiamento do julgamento do impeachment", visando preservar os direitos políticos da gerentona de araque — agora socorre quem lhe cobriu os ombros com a suprema toga, suspendendo liminarmente a tramitação do processo em que seu benfeitor é acusado de tráfico de influência, lavagem de capitais e organização criminosa pela compra de 36 caças suecos Saab-Gripen em 2013 (leia a íntegra da decisão).
Trata-se da última das 20 ações penais movidas contra o ex-corrupto, já que tanto o caso do tríplex quanto o do sítio de Atibaia já foram arquivados pela JF do DF.
São decisões como essa que nos orgulham de ser brasileiros... ou não?
Mas não é só: segundo publicou O ANTAGONISTA, o PT gastou R$ 14 milhões de reais na defesa de Lula e seus comparsas. “O escritório Teixeira Zanin Martins, que comanda a defesa de Lula nos casos da Lava-Jato, recebeu pagamentos que somam R$ 1,2 milhão desde 2019”, diz a Folha de S. Paulo.
No total, os criminalistas do PT embolsaram R$ 6 milhões para defender o pessoal do petrolão. A essa quantia devem ser somados os gastos do partido com seus advogados no STF e no STJ: “O escritório Aragão & Ferraro, que representa a sigla nas cortes superiores, recebeu quase 8 milhões de reais desde 2018. A banca foi fundada por Eugênio Aragão, nomeado para o Ministério da Justiça no fim do governo Dilma”.
Considerando que partidos políticos não geram recursos, nós, “contribuintes”, acabamos pagando duas vezes: com os desvios dos quadrilheiros e com o fundo partidário.
É esse tipo de gente que, a julgar pelas pesquisas de intenções de voto, o esclarecidíssimo eleitorado tupiniquim tenciona reconduzir ao poder central em 2022. Triste Brasil!
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Enquanto o Ocidente se mostra unido contra a invasão russa
na Ucrânia, o posicionamento brasileiro oscila de forma surpreendentemente
ambígua, para não dizer esquizofrênica. No Conselho de Segurança, o governo se
juntou a outros países em um voto duro contra a Rússia, mas, por outro
lado, não apoiou a declaração da OEA que criticava a invasão da Ucrânia.
Quando se olha para as manifestações pessoais de Bolsonaro, o panorama
fica ainda mais confuso. "Na própria manifestação pessoal do presidente
da República, ele tem se declarado neutro. Mas uma neutralidade que interpreto como
sendo sensivelmente inclinada à Rússia", diz o professor de relação
internacionais Davi Magalhães, da FAAP.
Segundo Magalhães, uma divisão dentro dos grupos
bolsonaristas revela diferentes visões sobre o conflito Um núcleo se inspira na
extrema direita ucraniana e outro, no regime do Putin. Num panorama mais amplo,
posicionar-se neste conflito coloca Bolsonaro numa grande sinuca de
bico. Se ele apoiar a Ucrânia, entra na foto com líderes que os bolsonaristas
chamam de "globalistas", como Justin Trudeau, Joe Biden
e Emmanuel Macron. Por outro lado, há uma certa desconfiança de assumir
uma postura abertamente pró-Rússia, pois isso coloca o capitão junto com a
esquerda bolivariana, Cuba, Nicarágua e Venezuela, que representa de longe o
inimigo número um do bolsonarismo.
Portanto, a neutralidade "esquizofrênica" de Bolsonaro, em certa medida e em partes, é produzida por esse constrangimento que vem de ambos os lados. Como saída, o Brasil tenta assumir uma postura parecida com a da Índia. O voto de ambos esses países no Conselho de Segurança foram muito parecidos, na forma e no conteúdo.
Por outro lado, a inclinação pessoal de Bolsonaro para o lado russo gerará uma reação no Ocidente, e a imagem brasileira, que, desgraçadamente, já não era boa na comunidade internacional, só tende a piorar. Boa parte das democracias liberais no mundo rejeitam a agressão russa. E o Brasil se isola ainda mais com esse posicionamento ambíguo.