domingo, 26 de junho de 2022

A FARRA DA MEXERICA (CONTINUAÇÃO)

 

O fiel escudeiro que Bolsonaro aboletou na presidência da Câmara com dinheiro do orçamento secreto foi o campeão de gastos com viagens nacionais e internacionais em 2021, na comparação com os presidentes do Senado e do Supremo. Lira torrou R$ 2,17 milhões com 104 voos em jatinhos da FAB e R$ 860 mil com diárias e passagens para assessores e seguranças, perfazendo um total de R$ 3 milhões, e isso no ano em que a Covid campeava solta. Quando a pandemia perdeu a força, o nobre deputado foi a Roma e a Lisboa, sempre em jatinhos da FAB, ao custo de R$ 800 mil (aí incluídas as passagens em voos comerciais e as diárias para servidores). Para efeito de comparação, Rodrigo Maia (DEM-RJ) torrou R$ 6,2 milhões nos dois últimos anos como presidente da Câmara.

 

Nos 96 voos do cupincha do capetão pelo país, 51 foram de ida e volta para Maceió, seu reduto eleitoral, ao custo total de R$ 1 milhão. O mandachuva do Centrão passou os finais de semana em visitas às principais cidades de Alagoas, inaugurando obras para populações carentes e “entregando” caminhões, tratores, equipamentos agrícolas — produtos com retorno eleitoral garantido, financiados pelo orçamento secreto. Em grandes eventos, como a entrega de uma etapa do Canal do Sertão, ele contou com a presença de Bolsonaro e Fernando Collor — o ex-caçador de marajás de araque que torrou R$ 22 mil num banquete oferecido a 97 convidados numa churrascaria em Brasília.

 

Em julho do ano passado, durante o recesso parlamentar, Lira embarcou num jatinho da FAB e foi para Maceió, onde participou de um encontro com mais de 40 prefeitos, deputados estaduais e lideranças políticas alagoanas. O custo da viagem foi de R$ 45 mil e os gastos com passagens e diárias dos seis seguranças que o acompanharam, de R$ 31 mil. Dois meses depois, o deputado pegou um jatinho da FAB e partiu para Maceió, onde chegou às 13h25 e de onde seguiu para a cidade de Teotônio Vilela, para a entrega de 400 apartamentos populares. Bolsonaro chegou ao evento às 15h30 — a bordo do avião presidencial — e lá ficou durante 1 hora. Lira permaneceu apenas cinco horas em Alagoas e retornou a Brasília, sempre no jatinho FAB. 

 

O uso de aeronaves da FAB é uma mordomia regulamentada pelo Decreto nº 10.267/2020, que estabelece: “Poderão requerer transporte aéreo em aeronave do Comando da Aeronáutica: os presidentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados e do Supremo Tribunal Federal”. A norma explicita ainda que os aviões podem ser requisitados por motivo de segurança e emergência médica; em viagens a serviço; e em deslocamentos para o local de residência permanente. Os ministros de Estado e os comandantes militares também podem utilizar os jatinhos em viagens a serviço ou emergência médica, mas não podem viajar para casa.

 

O ministro Fábio Faria fez 12 viagens para São Paulo — de ida ou volta — em jatinhos da FAB, em finais de semana, sem agenda oficial na cidade. Em oito delas, havia apenas 1 ou 2 passageiros a bordo. Ano passado, ao retornar de uma viagem aos Estados Unidos para tratar do leilão do 5G, Faria chegou a Brasília às 21h50 de uma sexta-feira e partiu meia hora depois, em outro jatinho da FAB, rumo ao aeroporto Catarina, em São Roque (SP), a 50 km de sua residência na capital paulista. Detalhe: o ministro não tinha agenda oficial em São Paulo naquele final de semana; o blog Vozes questionou sua assessoria sobre o assunto, mas não obteve resposta. Pelo visto, quando se trata de usar jatinhos como Uber, o ministério das Comunicações não tem o que comunicar. 

 

Os deslocamentos de chefes militares em aeronaves oficiais custaram mais R$ 1,3 milhão em 2021. As visitas de “orientação técnica” à Comissão do Exército em Washington custaram R$ 914 mil. Despesas com diárias, passagens e deslocamentos para cerimônias de passagem de comando, formaturas e visitas oficiais de militares somaram R$ 1,6 milhão. A viagem do então ministro da Defesa Fernando Azevedo e Silva ao Centro de Treinamento em Fort Polk, em Alexandria, Luisiana (EUA) custou R$ 214 mil, e mais R$ 120 mil foram gastos com diárias e passagens para outros seis militares. 

 

O general Braga Netto — cotado para concorrer a vice-presidente na chapa de Bolsonaro — foi quem mais usou jatinhos da FAB em viagens para passagem de comando, visitas e formaturas. Foram torrados R$ 810 mil, sem contar as diárias e passagens de assessores. Em 14 de agosto, quando houve a formatura de oficiais da AMAN em Resende (RJ), o fardado partiu num jatinho oficial às 15h05, e o então comandante do Exército, Sérgio Nogueira de Oliveira, 1 hora e 20 minutos depois. Bolsonaro também esteve no mesmo evento, mas viajou em outra aeronave. 

 

Observação: A presidência da República conta com uma aeronave de grande porte — o Aerolula — e de um avião de reserva para situações de emergência. O chefe do Executivo pode viajar para casa, para locais onde tira folga ou até mesmo nas férias, e Bolsonaro não se faz de rogado. Mas é bom ter em mente que as despesas com aeronaves, diárias, passagens e cartões corporativos ficam todas por conta do contribuinte.