Entender por que tanta gente se deixa levar pela falácia do
populista demagogo que trocou o cigarro barato e a cachaça vagabunda por
cigarrilhas cubanas e vinhos premiados — quando encontrou quem pagasse a conta,
naturalmente — é um mistério, mas o fascínio que o Planalto exerce sobre esse
egun mal despachado é fácil de compreender: até onde se sabe, nenhum
presidente eleito desde a redemocratização roubou tanto quanto ele e
seus cúmplices.
Em 2010, pouco antes deixar o cargo, o autoproclamado Parteiro
do Brasil Maravilha acertou com Emílio Odebrecht um
pacote de aposentadoria que lhe garantia um fundo de R$
300 milhões, uma remuneração regular em forma de palestras e agrados
pontuais, como as reformas do tríplex no Guarujá e do sítio em Atibaia.
A revelação foi feita pelo próprio Emílio —
e confirmada por Antonio Palocci na delação que a cúpula do
Judiciário mandou
jogar na lata do lixo antes de anular
a condenação do ex-braço direito de Lula e responsável
pela redação da Carta ao Povo Brasileiro que ajudou o petralha
a conquistar a confiança do mercado financeiro em 2002.
Palocci foi sentenciado a 12
anos de reclusão em 2017, mas estava em prisão
domiciliar desde agosto de 2019. Na antevéspera do último Natal, o
médico ribeirão-pretano teve a condenação anulada e foi autorizado a romper o
lacre da tornozeleira eletrônica — em dezembro de 2021, a 5ª Turma do
STJ concluiu que o caso deveria
ter sido julgado pela Justiça Eleitoral, e a execução provisória da
sentença foi suspensa e mais um sentenciado pela Lava-Jato bateu
as e voou livre, leve e solto...
Observação: Segundo a delação do ex-diretor
da Petrobras Nestor Cerveró — identificado como “Lindinho”
nas planilhas do departamento
de propinas da Odebrecht —, a empreiteira pagou US$ 300
milhões à estatal angolana Sonangol pelo direito de
explorar petróleo em Angola; desse montante, R$ 50 milhões reforçaram
o caixa da campanha
de Lula à reeleição.
Esse é o estofo do molusco que se diz a “alma viva mais
honesta do Brasil”. Mas que relevância tem isso se há no STF quem
o quer de volta na presidência da República?
A transmutação de Lula de ex-presidiário a
“ex-corrupto” seria o mesmo que um ladrão ser preso em flagrante pela Guarda
Civil Metropolitana e, tempos depois, a justiça mandar soltá-lo porque,
tecnicamente, a prisão deveria ter sido feita pela Polícia Militar.
Isso não significa que o crime não existiu, apenas que a prisão não foi feita
por quem de direito.
Isso é Brasil, minha gente. Ame-o ou deixe-o (o último apaga
a luz do aeroporto).
Continua...