domingo, 20 de fevereiro de 2022

RESTAURE-SE O IMPÉRIO DA MORALIDADE OU LOCUPLETEMO-NOS TODOS! (PARTE XVIII)

 

Em 1998, quando disputou a reeleição, FHC teve como principal adversário o retirante nordestino analfabeto e malandro que usou o sindicalismo como trampolim para a política, fundou uma agremiação de criminosos disfarçada de partido, sangrou os cofres públicos de 2002 a 2010. E continuou a fazê-lo até 2016, mas tirando a castanha com a mão do gato, ou melhor, do "poste" que escolheu para manter quente a poltrona tencionava voltar a ocupar em 2014. Mas nem tudo saiu como planejado: o cutruca se tornou réu em 20 processos e foi condenado em dois, por 10 magistrados de três instâncias do Judiciário, a mais de 26 anos de prisão. 

Como isto aqui é Brasil, a mais alta corte de Justiça (?!) mudou seu entendimento sobre o cumprimento antecipado da pena, permitindo ao abantesma deixar a sala VIP que lhe serviu de cela após míseros 580 dias. E como as “togas cumpanhêras” anularam suas duas condenações e todos os demais atos processuais nas quatro ações que tramitavam ou haviam tramitado na 13ª Vara Federal de Curitiba, o ex-condenado, transmutado em "ex-corrupto", recuperou os direitos políticos que haviam sido suspensos pela Lei da Ficha-Limpa.

Voltemos ao grão-tucano de plumagem vistosa, que, no último ano de seu primeiro mandato, comprou a PEC da Reeleição. Como quem parte e reparte e não fica com a melhor parte é burro ou não tem arte, FHC foi o primeiro mandatário a usufruir de sua "obra". 

Observação: Em 2014, quando criticou o estelionato eleitoral que foi a reeleição de Dilma, Fernando Henrique ouviu do bocório de Garanhuns: "Vi o ex-presidente falar com a maior desfaçatez: ‘É preciso acabar com a corrupção’. Ele devia dizer quem é que estabeleceu a maior promiscuidade entre Executivo e Congresso quando ele começou a comprar voto para ser aprovada a reeleição". Lula reclamar de corrupção em governo alheio é o mesmo que Marcola, o chefe do PCC, imputar crimes ao arquirrival Comando Vermelho, mas, de novo, isto aqui é Brasil, zil, zil, zil...

Em 2002, após três tentativas frustradas, Lula finalmente conquistou a Presidência, dando início aos 13 anos, 4 meses e 12 dias de lulopetismo corrupto que terminaram com o afastamento da estocadora de vento e a promoção do "vice decorativo" a titular. 

Na visão míope da petralhada, o país estava melhor nos tempos de Lula e Dilma — como a parelha de desqualificados fosse austera e pouco afeita a gastos desnecessários, como Aerolulas, luxuosas suítes no Copa e em hotéis estrelados do mundo inteiro, bolsas Hermès, cabeleireiros Kamura e por aí afora. O gramado do vizinho sempre parece mais verde e o osso que se roeu no passado, mais saboroso que o bife que está no prato. 

Não que haja bife no prato dos brasileiros. Enquanto nosso mandatário de fancaria comemorava com pompa e circunstância seus mil dias de governo — com o dólar nas alturas, crises hídrica e de energia elétrica, inflação galopante e combustíveis, gás de cozinha e alimentos a preços estratosféricos —, brasileiros das classes sociais menos favorecidas disputavam ossos e outros refugos que até pouco tempo atrás iam para as latas de lixo de açougues e supermercados.

Dezoito anos depois de transferir a faixa presidencial ao sultão da Petelândia, FHC finalmente concluiu que merda fede. Ou, em suas próprias palavras, que "a reeleição é dos males — talvez o mais grave — de nosso sistema político". Em seu “mea-culpa”, o barão do tucanistão reconheceu que cometeu um “erro histórico” ao patrocinar a emenda em questão, e que foi “ingênuo” por acreditar que a partir daí os governantes não fariam “o impossível” para se reeleger.

"Ingenuidade" — escreveu Dora Kramer em sua coluna, "foi acreditar na inocência do presidente que fez ele mesmo o “impossível” ao jogar o peso de sua autoridade e prestígio angariado no êxito do combate à inflação para aprovar uma emenda em causa própria, ferindo de morte sua majestade em troca de mais quatro anos no Palácio do Planalto."

Vir agora com ato de contrição — prosseguiu a jornalista em seu imperdível texto — soa a tentativa de diluir responsabilidade por algo que guarda mais relação com a forma do que com o conteúdo. O defeito não está no instrumento existente em várias democracias, mas no uso que se faz dele. Por exemplo: quando da proposta da emenda, por que não se incluiu a obrigatoriedade de o postulante ao mesmo cargo se afastar por um período determinado antes da eleição? 

A Justiça é falha na fiscalização do uso indevido do poder e os grandes partidos, tímidos na contestação aos abusos — pois receiam firmar jurisprudências que venham a lhes criar empecilhos amanhã ou depois, diz Dora, relembrando em seguida uma frase ouvida décadas atrás de Roberto Campos: “Não é a lei que precisa ser forte, é a carne que não pode ser fraca”.

É perfeitamente possível conviver com a reeleição, desde que os políticos não abusem dela e que o povo seja esclarecido e esteja preparado para votar. A propósito, em meados dos anos 1970, auge da ditadura militar, Pelé, então no auge da fama, disse que o brasileiro não sabia votar. Anos depois, numa das muitas pérolas que o notabilizaram, o então presidente João Figueiredo ponderou que "um povo que não sabia nem escovar os dentes não estava preparado para votar".

E viva o povo brasileiro!