segunda-feira, 21 de março de 2022

CÍRCULO VICIOSO



A invasão da Ucrânia se tornou uma guerra de narrativas. Pelo que se ouve nos noticiários, o resultado varia de acordo com o comentarista e as versões velem mais do que os fatos. Interessa a todos que o conflito termine o quanto antes, até porque o vencedor, seja ele quem for, comemorará uma “vitória pírrica”, e o grande perdedor será o povo ucraniano. 

Observação: O último relatório do Institute for the Study of War diz o seguinte: “A nossa avaliação agora é que a campanha russa, destinada inicialmente a tomar a capital, as principais cidades da Ucrânia e a forçar a mudança de regime, fracassou. As forças russas continuam os esforços para restaurar o ímpeto dessa campanha frustrada, mas os esforços provavelmente também fracassarão (…). A guerra provavelmente cairá em uma fase de impasse sangrento que pode durar semanas ou meses. A Rússia expandirá os esforços para bombardear civis ucranianos a fim de quebrar sua disposição para continuar lutando, e provavelmente fracassará (...).

Mariupol foi completamente destruída. O bombardeio criminoso da maternidade e do teatro será lembrado para sempre, mas o resto da cidade também está em ruínas. Os ocidentais prometem ajudar a reconstruir os prédios demolidos, mas ninguém sabe se a cidade voltará a existir. O mais provável é que ela seja varrida do mapa.

Como o carniceiro de Moscou disse no estádio de futebol (antes de seu discurso aloprado ser interrompido), o plano é construir uma estrada unindo as áreas anexadas do Donbas e da Crimeia. Mariupol, portanto, pode virar um posto de gasolina. A única certeza é a seguinte: os antigos moradores da cidade jamais aceitarão viver sob o domínio russo. Mariupol é ucraniana, e sempre será.

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O Brasil gasta muito. E mal. Para piorar, as razões que levam a esses gastos passam longe das necessidades dos brasileiros e alimentam privilégios vergonhosos. Vivemos uma misto de corrupção com caos econômico, um círculo vicioso que se retroalimenta e, se não for debelado, continuará consumindo as riquezas e a renda que produzimos no país. As mazelas de nossa economia, que vão do desemprego até a inflação, possuem clara relação com a corrupção e o modelo de compadrio e privilégio em vigência no Brasil. Jamais solucionaremos esses problemas se não atacarmos de frente a questão da corrupção, principal gargalo de dinheiro público que conhecemos.

A Lava-Jato provou que o sistema brasileiro está apodrecido. Se ele não for reformado, o país estará condenado à instabilidade econômica e social. Investimentos públicos de qualidade somente ocorrem em um sistema transparente e oxigenado, com respeito aos instrumentos legais e com atuação severa de órgãos de controle. Do contrário, o gasto público torna-se apenas instrumento para execução de desvios, dando corpo a um sistema podre e corrupto, que atua simplesmente pela sua manutenção no poder, gerando serviços de péssima qualidade para uma população cada vez mais empobrecida.

Nossos gastos públicos são superiores aos de muitos países emergentes e proporcionalmente maiores que na maioria do mundo desenvolvido. Somos o 7º país que mais gasta com funcionalismo — mais que Suécia e Inglaterra, nações com serviços públicos de alta qualidade. Somos o país que mais gasta com proteção social, cerca de 13% do PIB, enquanto países desenvolvidos aplicam 7% de sua riqueza e emergentes 4%. Nosso modelo nacional de gestão pública é ultrapassado, somos reféns de corporações que visam apenas manter seus privilégios, e a corrupção corrói qualquer chance de mudança.

Os brasileiros precisam entender que não faltam recursos, mas, sim, seriedade com o dinheiro dos pagadores de impostos. Sobram gargalos de gastos. Faltam sistemas de controle efetivo. São cargos demais. Falta auditoria. Sobram esquemas. Falta punição. Sobra corrupção. Falta reação da sociedade. Sobram acordos de bastidor e compadrio. Falta meritocracia. Sobram empresas públicas. Nenhum país sobrevive com um sistema perverso assim. A mudança é urgente.

Vivemos um círculo vicioso, uma aliança da corrupção com caos econômico. É preciso debelar este sistema perverso que se retroalimenta das misérias de nosso país. Urge quebrar este modelo, sob pena de restarmos condenados à miséria e à pobreza. Sabemos que o país merece e pode mais do que isso. É preciso romper com o velho, com os mesmos projetos que jamais foram capazes de erguer o Brasil ao patamar que sabemos poder alcançar.

Para dar o primeiro passo em direção ao resgate de nossa nação e de nossa economia, precisamos de meios efetivos para combater a corrupção e limitar o tamanho do governo. E nada disso passa pela reeleição de Bolsonaro ou pela recondução de Lula ao Palácio do Planalto.

De salto alto, o ex-presidiário está, até porque não é homem de calçar sandálias da humildade ante o adversário. Mas isso não significa que caia, como boa parte de seus adoradores, na armadilha do já ganhou. Ele disputou cinco eleições presidenciais e sabe muito bem que não se ganha de véspera. É preciso mão na massa e muita lábia. E é a esta lábia que tem recorrido para manter acesa a chama de seu principal mote de campanha com o qual se apresenta como o salvador do Brasil. 

Justamente por saber que a vitória não está garantida, Lula tem demonstrado muito mais preocupação em amealhar votos que a construir desde já um ambiente de governo. Por isso promete no palanque mundos e fundos de impossível execução. Diz que não precisa de teto de gastos nem de âncora fiscal; promete “melhorar a vida do povo”, acena com a “recuperação dos direitos do trabalhador”, garante a revogação de medidas sem informar que tal prerrogativa pertence ao Congresso e brada que vai “gastar” vendendo uma prosperidade e uma exuberância de recursos que já não existem.

Se não for obrigado pelos oponentes a se explicar melhor, vai levar o eleitor na conversa. Por isso para ele é tão importante que a campanha siga na dinâmica do vale-tudo e qualquer coisa contra o devoto da cloroquina.

Triste Brasil.

Com Diogo MainardiMárcio Coimbra e Dora Kramer