Observação: João Doria desistiu de sua pré-candidatura à Presidência e tampouco vai tentar a reeleição ao governo do Estado de São Paulo. Sua decisão revoltou aliados do vice Rodrigo Garcia, que pressionam pela saída de Doria do cargo e falam até em impeachment. Como governador, Garcia teria a mídia espontânea do cargo e possibilidade de negociar com a caneta na mão.
Atualização: Após carta da direção do PSDB, o governador de São Paulo voltou atrás e manteve a ideia original de renunciar ao cargo para ser candidato à Presidência da República este ano. O anúncio oficial foi feito às 16h de hoje. Por outro lado, lideranças do Podemos acusaram Sergio Moro de trair a sigla ao migrar para o União Brasil depois de ser pressionado a trocar seu domicílio eleitoral do Paraná para São Paulo. Mais um pré-candidato à presidência que abandona a “duvidosa terceira via” pela “quase certeza de sucesso” na disputa por uma cadeira no Senado ou na Câmara Federal. Ou não; clique aqui para mais detalhes. Resta saber se Doria vai mesmo continuar no páreo e quais serão as consequências da desistência de Moro (caso ela se confirme) na campanha do tucano.
Discursando no Paraná para uma plateia companheira, Lula declarou que o Congresso é o pior que já tivemos na história do Brasil. "Eles [os parlamentares] criaram umas coisas chamada orçamento secreto, que é um orçamento lesa-pátria." Lula reclamar de roubalheira em governo alheio é o mesmo que Marcola, chefe do PCC, imputar crimes à facção arquirrival Comando Vermelho, mas vale tudo nesta republiqueta de bananas.
Ciro Nogueira perguntou no Twitter: será que Lula "esqueceu do mensalão?" Já Arthur Lira, sob cujo buzanfã dormem o sono eterno mais de 140 pedidos de impeachment em desfavor do sociopata do Planalto, disse que o petista “conversa com pessoas erradas” — numa alusão ao senador Renan Calheiros, desafeto de Lira na ilibada política alagoana. Rodrigo Pacheco, o presidente do Senado que desistiu de se lançar candidato à Presidência da República, tachou a avaliação do demiurgo pernambucano de "deformada, ofensiva e sem fundamento".
Josias de Souza relembra que no passado, quando queria subjugar os congressistas, a ditadura fechava o Congresso. Desde a redemocratização, o Executivo passou a comprar o Legislativo. Lula levou a experiência às fronteiras do paroxismo, remunerando seus apoiadores com o Mensalão e o Petrolão. Sob Bolsonaro, o melado passou a escorrer por dentro do orçamento, com as emendas secretas.
Ciro Nogueira e Arthur Lira, aliados de todos os governos desde a chegada das caravelas, participaram do saque. O chefe do PP e da Casa Civil confunde amnésia com consciência limpa quando alfineta Lula por ter esquecido o mensalão e se abstém de mencionar o Petrolão — escândalo no qual o partido em cujas fileiras Nogueira milita ao lado de Lira alcançou o topo do ranking de encrencados.
Pacheco, que preside o Senado e comanda o Congresso, fala de "deformação" sem dar um pio sobre as emendas secretas do orçamento paralelo. E demora a cumprir a determinação do Supremo sobre a divulgação das digitais escondidas atrás das cifras de cada emenda secreta. Enquanto isso — e por conta disso — o orçamento paralelo apodrece em inquérito da PF e no noticiário; o escândalo já está contratado e precificado.
A troca de farpas entre Lula e ex-apoiadores dos governos petistas serve apenas para potencializar a sensação de que o vocábulo governabilidade continua sendo um abracadabra para a caverna de Ali-Babá. No próximo Congresso, juntar-se-ão novamente hienas, raposas, abutres e roedores de toda espécie sob a epígrafe de 'Base Aliada'.
Três vivas para o contribuinte brasileiro, que o eleitor, maior responsável pelo descalabro em curso, nem isso merece.