segunda-feira, 14 de março de 2022

O MITO E O MICO


Começou a valer à zero hora da última sexta-feira um aumento nos preços da gasolina, diesel e gás de cozinha que chega a 24,9%. Como é costume no Brasil botar a tranca na porta depois que a casa foi invadida, o Senado aprovou a toque de caixa dois projetos visando conter os efeitos da explosão do preço dos combustíveis. O primeiro cria um auxílio-gasolina e muda a política de preços da Petrobras e o segundo altera a fórmula de cobrança do ICMS. Segundo os ministros Paulo Guedes e Bento Albuquerque, a redução será de R$ 0,60 no preço do litro do diesel

A despeito de Bolsonaro e a exemplo de outos países membros do Conselho de Segurança da ONU, o Brasil deu um voto duro contra a Rússia, mas não apoiou a declaração da OEA que criticou a ação de Putin. Antes, na analogia nupcial idealizada pelo devota da cloroquina, Brasil e Rússia estariam vivendo uma lua de mel diplomática como resultado do "casamento perfeito" celebrado em 16 de fevereiro com o “autocrata meigo que busca a paz”. Mas faltou combinar com os russos. Literalmente.

Primeiro, Bolsonaro se refugiu no silêncio. Depois, criticou a "peruada" do vice. Mais adiante, liberou o Itamaraty para ecoar Mourão no Conselho de Segurança da ONU, confundindo ainda mais os brasileiros pensantes, que ainda se esforçavam para compreender o reposicionamento da sumidade quando descobriram que o país do futuro que nunca chega se recusou a apoiar a declaração em que a OEA criticou os ataques russos em solo ucraniano.

De mãos dadas com Nicarágua e Cuba, o Brasil se agarrou a um pretexto geográfico: a Ucrânia não está localizada nas Américas. Como as duas reuniões ocorreram na mesma sexta-feira, ficou boiando na atmosfera uma interrogação: Qual é o Brasil que vale, o valente da ONU ou o contemporizador da OEA?

Observação: Reconheça-se que a pusilanimidade do morubixaba evitou que o Brasil fosse incluído pela Rússia na lista dos países hostis a Putin, mas até aí morreu Neves. De tanto escrever errado por linhas tortas, Bolsonaro dificilmente será lembrado por algum resultado positivo que alguma de suas inomináveis estupidezes tenham porventura produzido. Por falar nisso, Lula pode vir folheado a ouro, mas sempre será lembrado pela parcela pensante e honesta dos brasileiros (se é que se pode dizer assim) como um criminoso condenado que deixou a cadeia graças a uma maracutaia urdida por juízes "cumpanhêros". E viva a imprestabilidade e a corrupção verde-amarela.

Bolsonaro recorre ao Itamaraty como uma noivinha que liga para a mãe, pedindo para ser resgatada. Aliás, ele não foi à Rússia “em missão de política externa”, como quis fazer parecer, mas com o propósito de buscar uma foto para sua campanha à reeleição, e posou ao lado de Putin como se posasse na beirada da cratera do Vesúvio, onde o perigo é apenas presumido. "Graças a Deus, já foram retiradas as tropas e não se fala mais em guerra", soltou fogos o ministro sanfoneiro do Turismo, Gilson Machado, que, a exemplo do chefe, não se deu conta de que o vulcão Putin estava prestes a entrar em erupção.

A tal foto já não para a campanha paralela que o filho 02 conduz no gueto bolsonarista das redes sociais e tampouco renderá os votos necessários para derrotar o ex-presidiário convertido em ex-corrupto pelo judiciário camarada. Mas a ficha de Bolsonaro é dura de cair. Durante o ócio carnavalesco no Guarujá, ele se jactou de ser o último chefe de Estado a visitar o carniceiro do Kremlin e de ser recebido com honras militares — enquanto o presidente da França “foi recebido sozinho no aeroporto” (sic). 

A lua de mel desandou quando o companheiro russo enfiou o dedo na tomada e se ouviram explosões na suíte ucraniana — um pesadelo do qual a diplomacia brasileira demora a acordar: “Quando o presidente usou neutralidade, é no sentido de imparcialidade, não no sentido de indiferença”, explicou o ministro das Relações Exteriores, que se tornou o novo Marcelo Queiroga da Esplanada depois que a implicância com as vacinas saiu de cena e a simpatia de Bolsonaro pelo carniceiro russo subiu ao palco. Putin que pariu!