Entre as seis razões que Bolsonaro alegou para indultar Daniel Silveira destaca-se a "comoção social": "Considerando que a sociedade encontra-se em legítima comoção, em vista da condenação de parlamentar resguardado pela inviolabilidade de opinião deferida pela Constituição, que somente fez uso de sua liberdade de expressão (...)"
De acordo com o professor e historiador Marco Antonio Villa, Bolsonaro tem problemas cognitivos; para o jornalista Ricardo Noblat, ele não domina bem o português — a exemplo de quem escreve seus pronunciamentos — e não se sabe exatamente qual o sentido que ele atribui à palavra “comoção”.
Quando o presidente proferiu esse destino, a grande preocupação dos paulistas e cariocas era o carnaval (o Brasil se tornou um país tão surpreendente que o fato do reinado de Momo coincidir com o feriado de Tiradentes não chega a surpreender).
O STF ainda não decidiu como se comportar em mais uma batalha que trava contra um mandatário medíocre, carente de votos para se reeleger e aparentemente disposto a tudo. Talvez seja mais prudente deixar as coisas esfriarem. Mas a pergunta que é: Que coisas? A euforia da caterva com a “atitude de macho” que seu "mito" adotou? Ou a alegria dos generais de pijama, que planejam o próximo golpe enquanto jogam dominó?
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Depois que a Executiva Nacional do União Brasil confirmou a indicação de Luciano Bivar como pré-candidato à Presidência, o leque de opções do autoproclamado Centro Democrático cresceu, mas as chances de Sergio Moro de disputar o pleito caíram a subzero.
Se nada mudar, UniãoBrasil, MDB, PSDB e Cidadania devem lançar um candidato de consenso no dia 18 do mês que vem, e tudo indica que o nome do deputado pernambucano será confirmado. Mas tudo pode mudar, e com a rapidez das nuvens no céu. Pela andar da carruagem, o ex-juiz está candidato a tudo (menos deputado) e pode não concorrer a nada. Bivar tem tantas chances de se eleger quanto eu de ser ungido papa. Pelo visto, o UB vai investir a bufunfa do fundo eleitoral nas candidaturas proporcionais e deixar a presidência para uma próxima vez (quanto maior a bancada na Câmara Federal, maior a parcela dos fundos partidário e eleitoral que as legendas abocanham).
Segundo Josias de Souza, pior que o UB matar a candidatura de Moro ao Planalto é a intenção da Procuradoria Regional Eleitoral de São Paulo de retirar do presidenciável natimorto até o poder de espantar as moscas. Moro e sua mulher, Rosângela, tornaram-se alvos de uma notícia-crime que questiona no Ministério Público Eleitoral a legalidade da transferência dos seus domicílios eleitorais do Paraná para São Paulo.
Numa eventual campanha à Presidência, Moro poderia trazer à tona a tragédia econômica da gestão Dilma — que Lula tenta esconder em sua campanha — e explorar a funesta gestão da pandemia por Bolsonaro e seus paus-mandados na Saúde. Seria a oportunidade de mostrar como os petistas, que ora se levantam contra o bolsonarismo, silenciaram diante da barbárie do atual governo, rejeitando o impeachment do capitão por questões nitidamente eleitoreiras, ao custo de milhares de vidas, e de expor os excessos e omissões da ala do Judiciário que acusa a força-tarefa da Lava-Jato de parcialidade. Um debate em rede nacional sobre esse temas e com esses atores seria inédito, histórico. Mas a vida é feita de escolhas...
A depender do julgamento da queixa-crime, não restará a Moro sequer a possibilidade de disputar uma cadeira na Câmara Municipal de São Paulo, já que novas eleições para vereador só devem ocorrer em 2024. Mais um pouco e o ex-juiz terá dificuldades para disputar até a posição de síndico no edifício de flats para o qual ele diz que se mudou.