quarta-feira, 20 de abril de 2022

E ASSIM A COISA VAI... DE MAL A PIOR.



Lula e Bolsonaro apostam na memória curta dos brasileiros e buscam reescrever, cada qual a seu modo, a desditosa história tupiniquim. Os paus-mandados do Planalto tentam minimizar a apologia desbragada do “mito” à cloroquina e sua aversão às vacinas. Os sectários da sanguessuga vermelha tentam vender como absolvição a decisão hipócrita e teratológica que promoveu seu líder de ex-presidiário a ex-corrupto.

Deixando de lado por um instante esses epítomes da desfaçatez, o conselho de ética da Assembleia Legislativa de São Paulo, em decisão unânime, se posicionou favoravelmente à cassação do mandato do deputado Arthur do Val, doravante conhecido por “Mamãe, eu não devia falar o que falei”. A decisão foi tomada pouco mais de um mês após o episódio que a motivou, mas só valerá depois de ser submetida à CCJ e de receber o aval da mesa diretora da Alerj.

O nobre parlamentar que falou merda na Ucrânia trocou uma zona de guerra por outra. Do Val trocou uma zona de guerra por outra. No leste europeu, ele atacou a dignidade humana dizendo que as ucranianas são “fáceis” porque são pobres. De volta a São Paulo, comparou-se ao colega Fernando Cury — aquele que foi flagrado apalpando os seios da deputada Isa Penna em plenário, mas amargou apenas uma suspensão — e, de passagem, retirou sua pré-candidatura ao governo do Estado de São Paulo.

É impossível não comparar o caso do deputado paulista com a dublê de pastora e ex-deputada federal carioca Flordelis. Indiciada por ser mentora intelectual e mandante do assassinato do marido (ocorrido em junho de 2019), ela se escudou por mais de dois anos na imunidade garantida pelo mandato, com fé na expectativa de que a providência divina a livraria da cadeia. Não funcionou. Flordelis foi cassada em agosto de 2021 e deve ser julgada no próximo dia 9. No último dia 12, o também pastor Carlos Ubiraci, filho da parlamentar, negou qualquer relação com o crime, mas acusou a mãe de participação direta no assassinato.

Vale lembrar que vivemos num país onde um criminoso condenado (em três instâncias) a mais de 25 anos de prisão deixa sua cela após míseros 580 dias, é convertido em ex-corrupto e periga ser eleito (pela terceira vez) presidente da República. Dizer o quê? Viva o povo brasileiro, que tem o governo que merece e merece os governantes que tem.

Ainda sobre essa vergonha nacional, após a vergonhosa oficialização da indicação do picolé de chuchu para vice na chapa petista o ex-presidiário iniciou por Brasília uma sequência de viagens para discutir alianças e palanques e responder críticas de que “só fala para convertidos”. Falando em convertidos, Geddel Vieira Lima — aquele do bunker soteropolitano onde a PF encontrou R$ 51 milhões em caixas de papelão — se aliou ao PT na Bahia. Alguma surpresa?

Anfitrião do jantar que reuniu o petralha e caciques do MDB, o ex-senador cearense Estrupício Oliveira disse que o seu partido não repetirá em 2022 o "suicídio" de 2018 — referindo-se à candidatura de Henrique Meirelles, que ficou em sétimo lugar, com 1,2% dos votos, na última disputa presidencial —, e articula o desmonte da pré-candidatura da senadora Simone Tebet ao Planalto.

No encontro — que se transformou numa espécie de reunião de aconselhamento a Lula — parlamentares pediram ao petista para evitar declarações “fora do tom” e focar na democracia e em “feitos do passado”. Nas últimas, o sevandija de Garanhuns disse que a Ucrânia poderia ter evitado a invasão russa com uma “cervejinha”, defendeu o aborto, incentivou o assédio da militância contra parlamentares e ameaçou banir os militares do governo. Segundo O Antagonista, caciques que participaram da conversa avaliam que Lula está “à vontade demais” e que “parece ter perdido a cautela que lhe era característica”.

Magalhães Pinto costumava dizer que a política é como as nuvens no céu: a gente olha e elas estão de um jeito; olha de novo e elas já mudaram. Neste momento, o maior adversário de Simone Tebet é seu próprio partido. Fugindo do "suicídio", os coronéis da legenda esperam que a senadora não sobreviva ao congestionamento das candidaturas de terceira via. Se ela sobreviver, tentarão eliminá-la na convenção do MDB, que ocorrerá em julho. Se falharem, cuidarão da própria vida.

Antes do jantar retrocitado, Lula visitou José Sarney e ouviu do macróbio a previsão de que o MDB não aprovará a candidatura de Simone na convenção. Como há diretórios bolsonaristas na legenda, Sarney sinalizou que o partido deve optar por liberar os estados, deixando evidente que a prioridade dos coronéis é eleger grandes bancadas na Câmara e no Senado, equipando-se para disputar poder com o Centrão.

Triste Brasil.