“Miserável é o país que que precisa de heróis. Miserável país aquele que não tem heróis.” (Bertolt Brecht).
O Brasil não precisa de heróis, precisa de estadistas. Faltam-nos agentes públicos que governem pensando não nas próximas eleições, mas nas próximas gerações. Somos uma nação apinhada de apalermados que endeusam políticos quando deveriam cobrá-lo e não os reeleger se não fizessem um bom governo. Como dizia Eça de Queiroz, políticos e fraldas devem ser trocados frequentemente, e pela mesma razão.
Um poder que se serve em vez de servir é um poder que não serve. Por motivos cuja obviedade dispensa maiores considerações, Lula e Bolsonaro são exemplos prontos e acabados de políticos que não servem. O primeiro bateu asas e voou da prisão para o palanque. O segundo é o candidato à presidente que se tornou presidente candidato. Ambos apostam na ignorância de um povo incapaz de encontrar o próprio rabo usando as duas mãos e uma lanterna.
A patuleia ignara foi convencida pelo proselitista de Garanhuns de que o Mensalão nunca existiu — ou só existiu porque ele foi traído ou não sabia de nada. Veem o molusco como a alma viva mais honesta do Brasil. Dizem que foi preso injustamente (interpretando erroneamente a vergonhosa decisão que anulou suas condenações e as provas produzidas pela Lava-Jato) e que tudo não passou de um conluio articulado por Moro e Bolsonaro para impedi-lo de voltar para acabar com a fome e rebaixar tsunamis econômicos planetários a marolinhas — e, en passant, encher as próprias burras e multiplicar a fortuna de políticos corruptos e empresários espertalhões.
Já o sultão do Bolsonaristão surfou no antipetismo e usou o atentado em Juiz de Fora para fugir dos debates — para não ser trucidado pela oratória populista e demagógica, mas competente, de Ciro Gomes. A exemplo do autoproclamado “Parteiro do Brasil Maravilha”, o estadista de mentirinha aposta na memória curta do eleitorado em geral e no fanatismo dos bolsomínions desmiolados (desculpem a redundância) em especial. Eleito com a promessa de acabar com a reeleição, combater a corrupção e sepultar a “velha política do é dando que se recebe”, passou de candidato à presidente a presidente candidato que inaugura obras inacabadas e pedras fundamentais, promove motociatas, produz fake news em escala industrial e lança mão de emendas de relator e de patifarias como o Bolsolão do MEC para comprar apoio popular e parlamentar.
Batizada de Acelera com Cristo 2, a penúltima motociata eleitoreira do motoqueiro fantasma que assombra o Planalto aconteceu na Sexta-Feira Santa e teve entre seus organizadores o empresário Jackson Villar, que recebeu R$ 5.700 de auxílio emergencial do governo federal entre abril de 2020 e outubro de 2021. Um dos patrocinadores foi o empresário Marcelo Bella, dono da marca de suplementos Black Skull, que assinou contrato com o Exército para fornecer suplementos alimentares.
O sistema de monitoramento de pedágios da rodovia dos Bandeirantes registrou a passagem de 3.703 motos e veículos engajados na manifestação pelas praças de pedágio de Campo Limpo, Itupeva e Sumaré. Na edição anterior, foram 6.661. Apoiadores do Messias falaram à época em 1,3 milhão de motos e afirmaram que o evento havia entrado para o Guinness (e foram prontamente desmentidos). Com base em recursos de mapa e de georreferenciamento, o governo paulista estimou a presença de 12 mil motos.
Observação: O número citado pelos baba-ovos do “mito” é maior que toda a frota de motocicletas, motonetas e ciclomotores da cidade de São Paulo (são 1.260.276 veículos, segundo o Denatran). Para conseguir reunir 1,3 milhão de motos, os organizadores teriam que convocar 62% de toda a frota dos 39 municípios da região metropolitana de São Paulo — ou 22% da frota de todo o Estado, que corresponde a 6.015.445 de motos e assemelhados.
Apesar da adesão 44% menor, bolsonaristas apatetados promoveram nas redes sociais o assunto #MaiorMotociataDoMundo. O deputado Eduardo Bananinha, filho 02 do pai de todos, tuitou: "O que vão inventar agora para diminuir a maior motociata de um político da história mundial provavelmente?"
As motociatas bolsonarianas já custaram aos cofres públicos mais de R$ 5 milhões, segundo levantamento realizado pela Folha. A soma leva em conta as despesas com o cartão de pagamento do governo federal e os gastos assumidos pelos estados para garantir a segurança da população e da comitiva do candidato.
Triste Brasil.