sábado, 9 de abril de 2022

TUDO QUE É DEMAIS ENCHE!

Eu me jactava de ser apolítico e apartidário, mas o nefasto governo lulopetista levou-me a observar mais atentamente o abjeto cenário político tupiniquim. Foi então que passei a ter vergonha de ser brasileiro. Sob Dilma, a inesquecível, a vergonha virou nojo. Sob Bolsonaro, faltam-me palavras para expressar como me sinto em relação aos políticos em geral e a este governo em particular. Ando com o saco na Lua de ouvir falar em gente que nos rouba bilhões para financiar campanhas e continuar a nos roubar. De tempos para cá, acompanhar o noticiário virou penitência. Para além dessa maldita pandemia e do descalabro no Leste Europeu  que não têm data para terminar —, há a novela da reeleição presidencial  que termina em outubro, para o bem ou para o mal.

 

Costuma-se dizer que colhemos o que plantamos, mas também se diz que quem semeia ventos colhe tempestades. Desnecessário relembrar (mais uma vez) por que apoiamos em 2018 o candidato que se tornou o pior presidente do Brasil desde Tomé de Souza — não por falta de concorrentes à altura. Mas o fato é que ouvir falar e eleições, pesquisas e o diabo a quatro vem ficando mais insuportável a cada dia. E a mídia, sádica, joga sal na ferida. Somos lembrados a toda hora que teremos novamente um pleito plebiscitário, e que agora o lulopetismo corrupto pode derrotar o bolsonarismo boçal. Diogo Mainardi disse que prefere se atirar do Campanário de San Marco a escolher entre Lula e Bolsonaro, mas Diego mora em Veneza.

 

Faz sentido um ex-presidiário condenado a mais de 25 anos de prisão por uma dúzia de juízes de três instâncias ter a ficha imunda lavada a toque de caixa e ser reinserido no tabuleiro eleitoral? Faz sentido um ex-parlamentar medíocre e de passado duvidoso ser reeleito para um segundo mandato depois de tudo que fez nos últimos 40 meses? E continuar desfiando a lei da gravidade porque aparelhou a PGR e a PF, e se “se valeu do orçamento secreto” para eleger presidente da Câmara um deputado réu disposto a manter sob seu respeitável buzanfã os mais de 140 pedidos de impeachment protocolados em desfavor do benfeito?

 

De acordo com a CNN, dos 90 pedidos de investigação apresentados ao STF contra Bolsonaro, seu fiel escudeiro na PGR foi contrário a 74. A única vez que o procurador se posicionou a favor da investigação foi no caso da vacina indiana Covaxin — mas, uma vez aberto o inquérito, manifestou-se pelo arquivamento.  A ministra Rosa Weber determinou que os autos fossem reencaminhados para o Ministério Público para nova análise, mas Augusto Aras recorreu  (se a magistrada não revir sua posição, ele pede que o caso seja submetido ao plenário, onde certamente Nunes Marques ou André Mendonça apresentará um pedido de vista e o julgamento será suspenso). 

 

Aras — que foi alçado e reconduzido ao comando do Ministério Público por Bolsonaro ao arrepio da lista tríplice  alega candidamente que sua atuação é técnica (pausa para as gargalhadas) e reputa indevidas “ilações de alinhamento com quaisquer partes envolvidas nos casos”. Dos 9 crimes (comuns e de responsabilidade) apontados pela CPI do Genocídio, no final do ano passado, a gente quase não ouve mais falar. 


CNN fez um levantamento de todas as petições públicas no STF que envolvem o nome do presidente e apurou que existem 155 processos (desde pedidos de investigação até habeas corpus, inquéritos e outros tipos de ação). Deste total, apenas dois foram apresentados durante a gestão de ex-procuradora-geral Raquel Dodge. E o vassalo que a sucedeu, quando não manda as investigações para o arquivo, limita-se a abrir “notícias de fato” — investigações preliminares que ficam restritas ao circuito interno da PGR, não sendo, portanto, acompanhadas pelo STF nem pela sociedade —, levando nada a lugar nenhum. 

 

Quando foi questionado sobre o depósito na conta da primeira-dama feito por Fabrício Queiroz, Bolsonaro disse que queria “encher de porrada” a cara do repórter. Segundo Aras, para que se consume o crime de constrangimento ilegal “o agente preciso impor à vítima um comportamento certo e determinado e o constrangimento há de ser ilegal (deve estar em desconformidade com a legislação em vigor)”. 


No caso da Covaxin, o procurador tentou negar andamento à investigação, mas a ministra Rosa Weber cobrou uma nova manifestação. Aras enviou nova manifestação ao STF pedindo a abertura de inquérito para apurar as suspeitas de irregularidades, mas pediu o arquivamento do caso alegando (pasme o leitor!) que não há a possibilidade de o presidente ter cometido o crime de prevaricação porque não estaria no rol de atribuições do presidente da República comunicar às autoridades de investigação sobre essas irregularidades. 

 

O último caso que chegou às mãos do PGR — e sobre o qual sua graça ainda não se manifestou — envolve a suspeita de possível favorecimento de aliados políticos na distribuição de recursos do MEC. O imbróglio levou à exoneração do chefe da pasta. A ministra Cármen Lúcia determinou a Aras que se manifeste sobre quais providências pretende adotar em relação à investigação contra o Bolsonaro. O que acontecerá a seguir, quem viver verá.

 

CPI do Genocídio atribuiu a Bolsonaro 9 crimes (comuns e de responsabilidade). Nos casos envolvendo o “kit Covid”, que remontam ao primeiro semestre de 2021, a PGR se limitou a informar o Supremo de que abriu uma investigação preliminar para avaliar se houve cometimento de crime por parte do presidente  e decidiu por seu arquivamento (o resultado das apurações não foi informado). 

 

No episódio envolvendo uma criança de cujo rosto Bolsonaro tirou a máscara, a subprocuradora Lindôra Araújo argumentou que “inexistem elementos mínimos que indiquem ter a autoridade noticiada [Bolsonaro] atuado com vontade livre e consciente de criar uma situação capaz de expor a vida ou a saúde de outrem [a criança] a perigo direto e iminente”. 

 

Uma licitação do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação previa a compra de ônibus escolares por até R$ 480 mil por veículo  o preço de mercado é R$ 270,6 mil. Segundo O Estadão, o valor estabelecido no processo de licitação seria de R$ 2,045 bilhões — um superfaturamento de R$ 732 milhões em relação ao custo real dos veículos.

 

Vivemos num país com muitas leis e nenhuma vergonha na cara. Não fosse assim, o atual governo seria mais uma página virada na lamentável história republicana desta banânia e nós não teríamos de escolher entre reeleger as 10 pragas do Egito ou os 4 cavaleiros do apocalipse. Mas o mais surreal é a defesa enfática que dois segmentos ideologicamente opostos da população fazem, como prosélitos de seitas infernais, de Bolsonaro e de Lula. Ouçam este trecho do Jovem Pan Morning Show da última segunda-feira e prestem especial atenção à defesa insana feita pelo comentarista com voz de gralha.

 

Por último, mas não menos importante, é preciso ter em mente políticos não devem ser endeusados, mas sim cobrados. Como fraldas (e pelos mesmos motivos) essa caterva deve ser substituída regularmente.