A SUPREMA ARTE DA GUERRA CONSISTE EM VENCER O INIMIGO SEM TER DE ENFRENTÁ-LO.
Em 2013, visando dar sobrevida ao natimorto Windows Mobile, a Microsoft comprou a divisão mobile da Nokia. Quando o Windows Phone ocupava o segundo lugar no ranking dos sistemas operacionais para dispositivos móveis — atrás apenas do imbatível Android —, o Google e a Motorola lançaram a linha Moto G, que vendeu feito pão quente e condenou ao ostracismo concorrentes como Blackberry OS, Ubuntu Phone, Firefox OS e o próprio Windows Phone.
Fundada em 1865 para produzir papel, a Nokia logo diversificou suas atividades. Em 1982, ela lançou o celular Mobira Senator (para automóveis). Três anos depois, o Mobira Cityman 900 se tornaria seu primeiro telefone móvel totalmente portátil.
Embora não fosse ruim, o sistema da Microsoft não era bom o bastante para fazer frente ao iOS e ao Android. Para complicar, o fiasco de vendas do Windows Phone desestimulou os desenvolvedores parceiros, levando a própria Microsoft a criar aplicativos para ele. Mas aí já era tarde.
O "casamento" com a empresa finlandesa durou 18 meses e seus rebentos tornaram-se vagas lembranças — até 2020, quando os celulares da Nokia ressurgiram no mercado brasileiro em pareceria com a Multilaser. Mas isso é outra conversa.
Observação: A Nokia chegou a liderar o mercado global de celulares — numa época em que “androide” era apenas um robô com formas humanas e o Symbian reinava absoluto como sistema operacional móvel —, mas aí a Apple lançou o iPhone (2007) o Google, o sistema Android (2008).
A resiliência da Microsoft também ficou evidente no segmento de navegadores. De olho no sucesso do Netscape Navigator, a empresa criou o Internet Explorer; para estimular sua adoção, embutiu o browser no Windows 95 (saiba mais sobre as guerras dos browsers na matéria que dividi em 21 capítulos não consecutivos e publiquei entre 6 de maio e 16 de junho de 2020).
O Internet Explorer reinou absoluto até ser destronado pelo Google Chrome em meados de 2012. Quando finalmente se deu conta que seu browser estava irremediavelmente superado, a Microsoft o atualizou para a versão 11, lançou o Microsoft Edge e o promoveu a navegador nativo do Windows 10, esperando com isso reeditar o sucesso alcançado pelo IE duas décadas antes.
O Win10 patinou um bocado antes de deslanchar, mas o Edge jamais decolou. Contribuíram para o fiasco a incompatibilidade do browser com outras plataformas e versões anteriores do próprio Windows (ele só rodava no Win10), a falta de extensões e a demora no lançamento de atualizações (que dependiam do Windows Update).
Quando a ficha finalmente caiu, a Microsoft recriou o Edge do zero. Do programa antigo restou apenas o nome, mas acrescido da palavra Chromium — numa referência ao Projeto Chromium, que conferiu ao navegador compatibilidade com outras plataformas (aí incluídos os sistemas móveis Android e iOS) e com boa parte das extensões criadas para o Google Chrome.
A estratégia rendeu bons frutos: O Edge Chromium já superou o Safari e se tornou o segundo navegador mais usado em desktops. Mas vai ter de comer muito feijão para desbancar o browser do Google (vide figura).
No que concerne a dispositivos móveis, o Safari — navegador padrão do iPhone e do iPad — perde apenas para o Google Chrome. O Edge contabiliza mais de 10 milhões de downloads na Google Play Store e tem boa classificação na App Store. Se ele vai ou não superar os concorrentes, isso só o tempo dirá.