quinta-feira, 5 de maio de 2022

SOBRE CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS


Reza o bom senso que primeiro é preciso resolver o problema e depois apurar as responsabilidades. No entanto, quando a péssima qualidade dos postulantes à Presidência se soma à péssima qualidade do eleitorado, como acontece no Brasil, só resta rezar, já que o responsável por esse descalabro foi o próprio Criador.

Nossa primeira eleição presidencial aconteceu em 1891, mas de forma indireta. Três anos depois, o povo foi às urnas pela primeira vez e elegeu Prudente de Morais, pondo fim à República da Espada (um resumo do que aconteceu a partir de então pode ser lido nesta postagem e nas seguintes). O próximo pleito presidencial deve acontecer daqui a 5 meses. “Deve”, porque com Bolsonaro nada é impossível (noves fora um bom governo). 


Não fossem as peculiaridades mencionadas no primeiro parágrafo, o eleitorado teria chances reais de pôr fim esse infortúnio. E se Deus fosse ainda fosse o mesmo Deus do Velho Testamento, Ele certamente daria uma mãozinha, fulminando as candidaturas dos postulantes mais bem colocados nas pesquisas (ou os próprios candidatos, melhor ainda).

 

Observação: Segundo o Estadão, pesquisas internas da campanha de Lula mostram que Bolsonaro ganhou mais pontos entre os evangélicos, conquistando eleitores até então indecisos nesse segmento. Deve ter sido por isso que o petralha vem mencionando Deus em seus discursos. Um lulista disse para o jornal: “Lula acordou católico. Ou crente”.

 

No mundo real, o imprevisto sempre pode ter voto decisivo na assembleia dos acontecimentos (aliás, há que diga que “as coincidências nada mais são do que Deus agindo nos bastidores). 


Em 1961, a renúncia de Jânio Quadros deu azo ao golpe de 1964, que resultou em 21 anos de ditadura militar. Em 1985, a morte de Tancredo Neves mudou os rumos da Nova República. Em 2014, a morte de Eduardo Campos mudou os rumos da eleição presidencial. Em 2017, a morte de Teori Zavascki pavimentou o caminho o sepultamento em vida da Lava-Jato. 


Em 2018, a aversão ao lulopetismo corrupto resultou na vitória do pior mandatário desta banânia desde Thomé de Souza, e agora (valei-nos Deus!), ao que tudo indica, teremos um repeteco, mas com Lula disputando pessoalmente o butim e a rejeição ao bolsonarismo boçal ombreando com o repúdio ao lulopetismo corrupto.

 

Da quimérica terceira via, restaram João Dória e Simone Tebet — ela descarta a possibilidade de ser vice na chapa dele; ele não descarta nada, nem ser vice numa eventual chapa encabeçada por ela. No UB, o caviloso lançamento do nome de Luciano Bivar foi uma conspirata para sepultar a candidatura de Sergio Moro do páreo (e já tem gente falando em ressurreição). Segundo dados do Paraná Pesquisas, Dória superou Ciro Gomes (o cearense de Pindamonhangaba seria uma alternativa à polarização se ele não fosse quem é). 


Enfim, enquanto esperamos Deus fulminar os sacripantas de turno (dada a quantidade desses imprestáveis, seria melhor Ele cercar Brasília reeditar o Dilúvio), vejamos o que disse Josias de Souza em seu comentário da última terça-feira.

 

O poder não aceita desaforos. Quem tem poder precisa exercê-lo na medida exata. Quem exorbita erra o alvo. Quem claudica vira o alvo. Desacatado por Daniel Silveira, o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes apresentou ao deputado bolsonarista, com pelo menos 16 dias de atraso, a conta do escracho: R$ 405 mil.


Moraes mirou o bolso de Silveira num instante em que a protelação já havia se transformado num fator de desmoralização de sua toga. O deputado desligara o equipamento que deveria monitorá-lo desde 17 de abril. Era como se o réu tivesse instalado sua tornozeleira no magistrado. O escárnio começara antes, como anotou Moraes em seu despacho: ‘Desde a decisão que fixou a multa diária, proferida em 30 de março de 2022, o réu desrespeitou flagrantemente várias das medidas’.


Na véspera, Silveira dizia que o perdão que obtive de Bolsonaro o livrou de responder por todas as culpas. Embora o decreto da graça continue sub judice, o deputado continuou fazendo graça: ‘Presidente perdoou, acabou!’ O restabelecimento da ordem está condicionado ao pagamento da conta.


Moraes determinou ao Bacen o bloqueio de R$ 405 mil nas contas de Silveira. Mandou notificar o réu que preside a Câmara para que providencie o desconto da dívida no contracheque, na proporção de 25% do salário até a quitação. Resta agora ressuscitar o axioma segundo o qual ordem judicial se cumpre.”