sexta-feira, 10 de junho de 2022

ESQUEÇA O JIPE, O CABO E O SOLDADO

 

Bolsonaro errou na conta quando disse que dispõe de dois ministros que representam 20% daquilo que ele et caterva desejam que seja decidido e votado no STF. Mas acertou no resultado: embora somem 18% do plenário da corte, Nunes Marques e André Mendonça conseguiram transformar em 100% de avacalhação o julgamento da cassação do deputado bolsonarista Fernando Francischini.

 

Os dois capachos do capetão não precisaram se esforçar muito para exercitar sua vassalagem. Recorreram a artifícios que o próprio tribunal utiliza regularmente para se autodesmoralizar. O ministro tubaína se valeu de uma decisão monocrática para desfazer a decisão colegiada do TSE, que havia cassado o mandato de Francisquini por 6 a 1. O ministro terrivelmente evangélico bloqueou com um pedido de vista o julgamento em que o plenário virtual derrubaria a decisão monocrática do colega.

 

Antes do pedido de vista (pra lá de oportunista) do bolsonarista Mendonça, o ultrabolsonarista Nunes Marques já havia ignorado a decisão do ministro Luiz Fux, presidente da corte, de submeter o caso ao pleno. O ex-desembargador teresinense levou a encrenca para ser jugada no “jardim do éden”, ora presidido por ele próprio e integrado pelos ministros Edson Fachin, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e, ironia suprema, o pastor André Mendonça. Mas só conseguiu trocar uma derrota por 9 a 2 por outra de 3 a 2. 

 

Informado de que a liminar monocrática concedida por seu esbirro seria cassada, Bolsonaro apressou-se em injetar confusões novas na conjuntura. Voltou a pendurar de ponta-cabeça nas manchetes o ministro Alexandre de Moraes, seu desafeto de estimação. Em entrevista ao SBT, acusou o togado de ter descumprido pontos de um suposto acordo articulado por Michel Temer nas pegadas dos atos realizados no 7 de Setembro do ano passado, quando chamou Moraes de “canalha” e avisou que não cumpriria suas decisões judiciais. 


Agora, Bolsonaro declara que foram três conversas telefônicas mantidas com Moraes na presença do vampiro do Jaburu, reclama que o togado não cumpriu nenhum dos itens que combinaram — abstendo-se mui convenientemente de informar quais seriam os alegados compromissos descumpridos. O que o presidente insinua é que Moraes teria reconhecido que persegue devotos do bolsonarismo e assumido o compromisso de desmontar o patíbulo. 


Temer foi compelido a sair em defesa de Moraes — que acontece de ser seu ex-ministro da Justiça. Declarou que não houve condicionantes no diálogo do ano passado e classificou a conversa de “gesto conjunto de boa vontade e grandeza entre dois Poderes do Estado brasileiro”.

 

Futuro presidente da Justiça Eleitoral, Moraes reafirmou que o precedente será usado para punir quem difundir fake news na campanha de 2022. Mas a confusão planejada por Bolsonaro está apenas começando. Ao manter a eletrificação do cenário com uma nova polêmica, o capitão como que magnificou o vexame. Foi como se quisesse mostrar a Moraes que tudo passa, até Átila, o rei dos hunos. Mas a grama jamais será a mesma.

 

Fica entendido que Bolsonaro já não precisa de “um soldado e um cabo” para aviltar o STF. Dispõe de Nunes Marques e André Mendonça para empurrar dentro da corte a bagunça que projetou para 2022.

 

Em tempo: Nem os cupinchas do “mito” sabem se ele vai tentar dar um golpe. Segundo William Waack, ao rugir para dizer que não é um rato, Bolsonaro afirmou que não vai respeitar decisões do Judiciário que considere prejudiciais, deixando claro que utilizaria as Forças Armadas como instrumento para chegar a seu objetivo político. Dada sua incompetência política, sua incapacidade de organização, sua ausência de planejamento e sentido estratégico, o mais provável é que seu golpe acabe sendo a montanha que pariu um rato (…). Empacado nas pesquisas e com a perspectiva de uma derrota humilhante nas urnas, é incapaz de vislumbrar uma saída que não o salto rumo à ruptura. E já deixou suficientemente claro que pensa nisso. Se estaria disposto a saltar, “só Deus sabe”, diz um companheiro dele de primeira hora.


 

Com Josias de Souza, O Antagonista e Marco Antonio Villa