Antes de desposar Marisa Letícia Rocco Casa, o desempregado que deu certo foi casado com Maria de Lourdes da Silva — uma mineira cuja família fugiu da seca no início dos anos 1950. Se tivesse seguido pela rota de Montes Claros ao invés de descer em direção a Governador Valadares, o pau-de-arara que trazia dona Lindú e os filhos poderia ter cruzado com a caminhoneta que levava a futura esposa do futuro petista à gare da Central do Brasil, onde ela (então com 3 anos) e seus familiares tomaram o "trem baiano" para São Paulo.
Os dois se conheceram num bairro pobre da periferia paulistana, onde moravam em casas contíguas, e se casaram em maio de l969 — a festa de foi na casa da irmã Ruth (ex-Tiana), e teve sanduíche, bolo e guaraná. Um ano depois, o casal comprou uma casinha com 2 quartos, sala e cozinha, que reformou para receber o primeiro filho. A gravidez transcorreu sem problemas até o oitavo mês, quando então Lourdes contraiu hepatite e foi submetida a uma cesárea de emergência. Nem ela nem a criança sobreviveram.
Em algum momento de sua viuvez, Lula conheceu a enfermeira Miriam Cordeiro, com quem teve a filha Lurian. e que foi protagonista de um vídeo exibido por Fernando Collor, no horário eleitoral do segundo turno de 1989, no qual a mulher dizia que Lula lhe ofereceu dinheiro para que abortasse. O episódio teve grande repercussão e o petista perdeu a eleição (não só por causa do vídeo, mas, certamente, também devido a ele). Soube-se mais adiante que ela havia recebido dinheiro da campanha de Collor para fazer a "denúncia", mas então o estrago já estava feito.
Lula se filiou ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema em 1967, incentivado pelo irmão José Ferreira da Silva (o tal Frei Chico), que era ateu e militante do Partido Comunista Brasileiro. Na época, o futuro fundador do PT dizia ter ojeriza à política e a quem gosta de política, mas se elegeu 2º suplente da diretoria da entidade em 1969, 1º secretário em 1972 e presidente em 1975. Foi sob sua liderança que o ciclo de greves em prol da recomposição salarial da categoria teve início.
Em 1974, Lula se casou com Marisa Letícia, que havia conhecido sete meses antes, no Sindicato. Paulista de São Bernardo do Campo, ela nasceu em 7 de abril de 1950 e começou a trabalhar aos 9 anos de idade — primeiro como babá, depois na fábrica de doces Dulcora — e foi casada com o taxista Marcos Cláudio da Silva, que morreu assassinado seis meses depois do enlace. Além de Marcos, fruto do primeiro casamento, ela teve com Lula os filhos Fábio Luiz (vulgo Lulinha), Sandro Luiz e Luiz Cláudio.
Como principal dirigente do movimento sindical brasileiro, Lula participou de assembleias e reuniões em todo o país (chegando mesmo a ir ao Japão a convite da Toyota). Foi cassado em 1979, mas recuperou o cargo ao final da greve. No ano seguinte, acusado de promover greve e incitar publicamente à "subversão da ordem político-social", ele ficou 31 dias detido nas dependências do DOPS, mas jamais foi torturado. O delegado Romeu Tuma, então diretor-geral do DOPS, permitia que ele lesse jornais, recebesse visitas importantes e até visitasse a mãe, que estava com câncer terminal (ele ia deitado no banco traseiro de uma viatura, escoltado por agentes vestidos como operários). Quando dona Lindú morreu, Tuma o autorizou a acompanhar o enterro.
Marisa Letícia confeccionou a primeira bandeira do PT, mas pouco apareceu nas campanhas de Lula anteriores à de 2002. Em dezembro de 2016, virou ré na Lava-Jato, acusada de crime de lavagem de dinheiro ao lado marido no caso do tríplex, mas não chegou a ser condenada: um aneurisma a matou em fevereiro de 2017, cinco meses antes de Sergio Moro proferir a sentença condenatória.
Golbery do Couto e Silva ("O Bruxo") disse a Emílio Odebrecht que Lula posava de esquerdista, mas não passava de um bon vivant. Com efeito. O molusco deixou de ser operário quando fundou o PT, mas, na condição de líder sindical, não dava expediente em chão de fábrica desde 1972. Bastou encontrar quem pagasse a conta para ele trocar a pinga vagabunda e os cigarros baratos por vinhos premiados, uísques caríssimos e charutos de US$ 100. Numa conta de padaria, mais da metade de seus "gloriosos dias" foi dedicada à "arte da política", não ao batente diário que consome o tempo de milhões de brasileiros.
Lula começou a trabalhar aos 7 anos, mas sempre foi avesso à labuta, preferindo viver de privilégios e mordomias conquistados através de contatos proveitosos. O embusteiro que emergiu das delações da Odebrecht desnudado da roupagem de salvador da pátria prestava serviços a corporações corruptas, de todos os matizes e origens, em troca dos prazeres da boa vida. Como camelô de empreiteiro, ele desfrutou do poder de maneira indecorosa, mas sem jamais deixar de cultuar a imagem de político habilidoso, honesto e provido de um senso de justiça social sem paradigma na história deste país.
Continua...