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quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

É, MAS NÃO É MUITO...

MAIS MOLE QUE BOCHECHA DE VELHA.

Quem acompanha minhas postagens ainda deve estar lembrado de um texto sobre o TRACKR  ― dispositivo rastreador que se propõe a ajudar o usuário a localizar “em segundos” seu celular, carro, chaves, carteira, bicho de estimação, etc. através de um aplicativo gratuito, instalado no smartphone.

Para quem não leu a matéria, as virtudes desse dispositivo, segundo o fabricante, são o baixo preço (US$29.99 mais frete), a ausência de taxas mensais ou qualquer outro custo adicional, além do tamanho (equivalente ao deu uma moeda) e de o software de gerenciamento oferecer compatibilidade tanto com o Android quanto com o iOS.

Volto agora ao assunto por conta de uma avaliação feita pela equipe da Revista Quatro Rodas ter chegado à conclusão de que nem tudo são flores nesse jardim: depois de adquirir o rastreador no Mercado Livre (ao custo de R$ 170) e ler as instruções, a reportagem constatou que, diferente do que afirmam alguns sites que comercializam o produto, o TrackR não é um rastreador GPS, pois utiliza um sinal Bluetooth, o que, na prática, limita seu alcance a cerca de 30 metros.

Para avaliar o funcionamento num espaço tão reduzido (é, se você pretende usar o gadget para encontrar seu carro no estacionamento de um shopping ou hipermercado, pode tirar o cavalo da chuva), a equipe pendurou a “moedinha” no chaveiro do carro e pediu a um voluntário que o escondesse dentro de casa. Feito isso, com o aplicativo previamente instalado no telefone e a conexão Bluetooth devidamente ativada, deu início à busca, que funcionou como a brincadeira de “quente ou frio” da criançada: conforme se aproximava ou se afastava do objeto, o smartphone informava o usuário mediante uma interface gráfica e um sinal sonoro que aumentava ou diminuía de intensidade.

Diferentemente do que afirma a propaganda (qualquer coisa pode ser encontrada em segundos), localizar o chaveiro escondido (que estava a menos de 10 metros de distância do ponto onde a busca foi iniciada) levou mais de 2 minutos. Para garantir que uma parede ou um móvel não tivesse comprometido o sinal, uma nova tentativa foi feita em campo aberto, mas não adiantou muito: o alcance chegou a, no máximo, 10 metros, e o tempo necessário à localização do objeto foi praticamente o mesmo.

DEPOIS DE VENCER UM ANEURISMA, REINALDO AZEVEDO VOLTA À ATIVA

Para a alegria de seus admiradores e desgosto de seus detratores, Reinaldo Azevedo está de volta à ativa, tanto no Blog quanto na TVeja, na Folha e na Jovem Pan (onde faz comentários no Jornal da Manhã e ancora o programa Os Pingos nos Is), depois de ter sido acometido por um aneurisma, na véspera do Natal.

Na madrugada do dia 23 de dezembro, durante um difícil exercício de esforço, o jornalista teve uma dor de cabeça que se repetiu na madrugada e na noite do dia 24. Após ser submetido a uma ressonância do cérebro e uma angiografia das artérias, foi operado com sucesso e recebeu alta a tempo de assistir da varanda de casa o raiar de 2017.

Na postagem que publicou em sua página último dia 16, Reinaldo dá detalhes sobre o ocorrido e encerra o texto dizendo que: “Foi tudo arriscado e muito perigoso. Como disse Guimarães Rosa, ‘viver é muito perigoso’. Mas passei pela porta estreita, como a fala de Cristo em São Lucas. Eu voltei”.

Seja bem-vindo de volta, meu caro.

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domingo, 19 de fevereiro de 2017

SOBRE A LAVA-JATO E OUTRAS QUESTÕES AFINS

A Operação Lava-Jato foi deflagrada em março de 2014 e ganhou esse nome porque, a princípio, investigava crimes de lavagem de dinheiro praticados por um grupo que usava uma rede de lavanderias e postos de combustíveis para movimentar os valores. Curiosamente, o posto que deu origem às investigações fica no Distrito Federal e não tem um lava-jato entre suas instalações.

Às vésperas de seu terceiro aniversário, a Lava-Jato contabiliza 1.500 processos, 71 acordos de colaboração premiada, 9 acordos de leniência, 57 acusações criminais contra 260 pessoas (sem repetição de nome) e 127 condenações que, somadas, correspondem a mais de 1.300 anos de prisão. Dentre outros figurões que se julgavam intocáveis, o juiz Sérgio Moro já condenou 87 indivíduos ― alguns mais de uma vez, por diferentes crimes, totalizando 127 sentenças. Todavia, entre os políticos com direito ao deplorável foro privilegiado, apenas 4 se tornaram réus (até agora).

Isso se explica ― ao menos em parte ― pelo fato de o STF demorar 617 dias, em média, para receber uma denúncia criminal, coisa que na primeira instância não leva mais que uma semana. O problema é que essa morosidade na tramitação dos processos em nossa mais alta Corte abre uma janela para a impunidade, como se vê no caso do senador e ex-presidente do Congresso Renan Calheiros, que é alvo de 13 inquéritos, mas só se tornou réu em um deles (até agora).

O juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, cuida apenas de processos penais, ao passo que o Supremo tem como função precípua garantir a aplicação da Constituição Federal. Simultaneamente aos casos da Lava-Jato envolvendo políticos com foro, a Corte julga dezenas de outras ações, muitas delas urgentes. Em tese, todo processo que tramita no STF tende a ser mais demorado do que numa vara comum, não só pelo número de ações que toca a cada um dos onze ministros, mas também pela complexidade delas. Por conta disso, muitos juristas defendem mudanças no regime de foro privilegiado ― prerrogativa criada para evitar perseguições políticas contra autoridades e pressões de investigados poderosos sobre juízes de primeiro grau.

Existem várias propostas sendo debatidas no meio jurídico, mas uma mudança teria que ser aprovada no Congresso. Todavia, considerando que boa parte dos nossos congressistas (a quem o mandato de deputado ou senador garante a prerrogativa de foro) tem rabo preso com a Justiça, a conclusão é óbvia. Para o jurista Miguel Reale Júnior, um dos autores pedido de impeachment que levou à cassação de Dilma, as perspectivas de mudanças são quase inexistentes, pois dificilmente os rufiões da pátria e proxenetas do Parlamento aprovariam uma proposta que prejudicasse a si próprios e a seus pares. 

Para minimizar a impressão de que o governo compactua com a corrupção, o presidente Michel Temer prometeu afastar definitivamente ministros do seu governo que venham a ser processados no âmbito da Lava Jato ― mas a lentidão do STF contribui para isso demore a ocorrer, para a alegria dos suspeitos, delatados e investigados, pois os atos ilícitos por eles cometidos podem caducar antes mesmo de os processos serem instaurados.

Segundo uma matéria publicada recentemente pela revista Veja, a Lava-Jato mirou e acertou cabeças coroadas ao longo do ano passado. Em Curitiba, Rio de Janeiro ou Distrito Federal, seja pelo escândalo de corrupção na Petrobras ou investigações derivadas dele, foram parar no banco dos réus pesos-pesados como o ex-presidente Lula, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, o ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antonio Palocci e o marqueteiro João Santana. O juiz Moro e os demais magistrados de primeira instância à frente destas ações penais, a exemplo de Vallisney Oliveira, da 10ª Vara Federal do Distrito Federal, levam uma média de seis a nove meses entre o recebimento de denúncias do Ministério Público Federal e os julgamentos. Considerando a velocidade das canetas de quem vai julgá-los, estes nomes outrora poderosos devem figurar em sentenças judiciais em 2017. Vejamos alguns deles:

Lula é réu em cinco ações penais na Justiça Federal, e deve conhecer suas primeiras sentenças judiciais ainda neste ano (há quem aposte que a primeira desponte ainda neste semestre, o que seria providencial). O petralha foi feito réu pela primeira vez em julho de 2016, quando o juiz federal Ricardo Leite, da 10ª Vara Federal do Distrito Federal, aceitou a denúncia do Ministério Público Federal que o acusa de ter participado da tentativa de obstrução das investigações da Lava-Jato mediante a compra do silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. Dois meses depois, Moro abriu a segunda ação penal contra o ex-presidente, desta feita por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro no caso do famoso triplex construído pela OAS no Guarujá e no armazenamento de seu acervo pessoal, também bancado pela empreiteira. O terceiro processo foi aberto no mês seguinte pelo juiz Vallisney Oliveira, também da 10ª Vara Federal do Distrito Federal, no âmbito da Operação Janus. Neste, pesam contra Lula acusações de organização criminosa, lavagem de dinheiro, corrupção e tráfico de influência em contratos do BNDES que teriam favorecido a empreiteira Odebrecht. Nos dias 16 e 19 de dezembro, respectivamente, os magistrados Oliveira e Moro aceitaram mais duas denúncias contra sua insolência no âmbito da Operação Zelotes ― por tráfico de influência, lavagem de dinheiro e organização criminosa ―, e em mais um processo da Lava-Jato ― por recebimento de propinas da Odebrecht. E o cara ainda ronca prosa, diz ser a “alma viva mais honesta do Brasil” e, como um egun mal despachado, assombra o país ameaçando voltar à presidência nas próximas eleições (e o pior é que conta com o apoio da patuleia ignara de sempre, iludida pelas benesses auferidas durante a gestão do nove-dedos à custa da roubalheira insana que resultou na crise econômica, política e moral que aí está).

Outra criatura diabólica que se achava intocável, o ex-deputado e ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha ― preso em Curitiba desde outubro do ano passado ― é acusado em três ações penais e também deve ser julgado nos próximos meses pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão fraudulenta de divisas ― por supostamente ter recebido propina na compra de um campo de petróleo na África, pela Petrobras ―, por suposto recebimento de 5 milhões de dólares em propina oriundos de contratos de afretamento de navios-sonda da Samsung Heavy Industries (também pela Petrobras), e por crimes de corrupção, lavagem de dinheiro, prevaricação e violação de sigilo funcional em aportes de fundos de investimento administrados pela CEF. Dizendo-se portador de um aneurisma ― como o que acarretou a morte da ex-primeira-dama vermelha Marisa Leticia, ora canonizada pela ignara militância petista ―, mas recusando-se a fazer o exame médico comprobatório, Cunha tentou se livrar do xadrez, mas seu pedido de habeas corpus foi negado pelo juiz Moro. Em seu despacho, o magistrado disse que o “poder político de Cunha põe em risco não só a instrução processual, mas também a própria conclusão regular do processo, já que os expedientes do acusado, como se verificou no trâmite do Conselho de Ética, também eram destinados a turbar o desenvolvimento regular do processo pelos agentes públicos encarregados”.

Quer mais? Então vamos lá: o ex-ministro petralha Antonio Palocci, preso em setembro passado durante a “Operação Omertà”, tornou-se réu na Lava-Jato no início de novembro e deve conhecer a sentença de Moro dentro de mais alguns meses. A ele são atribuídos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro por ter recebido e intermediado ao PT pagamentos de propina que chegam a 128 milhões de reais.

O publicitário João Santana ― marqueteiro nas campanhas de Lula e Dilma ―, preso em fevereiro de 2016 no âmbito da 23ª fase da Lava-Jato (Acarajé) por lavagem de dinheiro, havia deixado a cadeia em agosto e negociava um acordo de delação premiada. No início deste mês, ele e sua mulher, Monica Moura, foram condenados pelo juiz Sergio Moro a 8 anos e 4 meses de prisão. Dentre outros corréus na ação estava o operador petralha João Vaccari ― o próximo da nossa lista ―, que foi sentenciado a 10 anos por corrupção passiva.

Ex-tesoureiro do PT, Vaccari ― também conhecido como “MOCH” devido à inseparável mochila onde transportava o dinheiro das propinas, já se encontrava preso no Complexo Médico-Penal de Pinhais, em Curitiba. Em setembro de 2015, ele havia sido condenado a 15 anos e 4 meses de prisão por crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro; em maio do ano passado, foi agraciado com mais 9 anos por desvio de dinheiro da diretoria de Serviços e Engenharia da Petrobras, e quatro meses depois, a mais 6 anos e 8 meses por corrupção passiva.

Outro ilustre hóspede da Justiça Penal, o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, preso na Operação Calicute (outro desdobramento da Lava-Jato), também deve encerrar 2017 com pelo menos uma condenação em primeira instância. O juiz federal Marcelo Bretas, responsável pelos processos da Lava-Jato no Rio, aceitou no início de dezembro a denúncia do MPF pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Cabral é acusado pelos procuradores de ter liderado um esquema de corrupção que desviou 224 milhões de reais de contratos públicos do Estado com as empreiteiras Andrade Gutierrez e Carioca Engenharia.

Fecho a lista com o “cumpanhêro” José Dirceu, que foi condenado a 7 anos e 11 meses de prisão no mensalão e a mais 20 anos e 10 meses no petrolão. Ex-ministro da Casa Civil de Lula, o guerrilheiro de araque está preso em Curitiba desde agosto de 2015, e deve ser brindado com outra sentença ainda este ano, desta vez por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no suposto recebimento de propina em contratos do setor de compras da Petrobras.

Por hoje chega, gente. O resto fica para outra vez. 

MAIS IMPORTANTE QUE A NOTÍCIA É O QUE ESTÁ POR TRÁS DOS FATOS QUE ELA DIVULGA. CONFIRA NO VÍDEO.


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BOM DOMINGO A TODOS.

sexta-feira, 24 de maio de 2024

CONSCIÊNCIA E VIDA APÓS A MORTE (PARTE V)

A PALAVRA IMPOSSÍVEL FOI CRIADA POR ALGUÉM QUE DESISTIU.
 
Quando se trata de EQMs, mediunidade, psicografia, lembranças de vidas passadas e premonições, uma experiência empírica vale mais que dez de "segunda mão". Na falta dela, acrescento aos exemplos anteriores o caso de Pam Reynoldsque a equipe médica precisou "matar" para remover um aneurisma na base do cérebro, em 1991, e depois "trazer de volta à vida", porque essa era a única maneira de fazer a cirurgia. 

Esse caso é particularmente emblemático porque a "morte" da cantora americana foi induzida e monitorada de perto pela do início ao fim. A temperatura corporal foi reduzida para 10 °C, os pulmões pararam de funcionar, o coração deixou de bater, o sangue parou de circular e os aparelhos não registravam qualquer atividade cerebral. 

Apesar disso, Pam relatou que viu o próprio corpo e a sala de cirurgia, que seus sentidos estavam mais aguçados, que enxergava tudo com clareza e que ouvia nitidamente as conversas de médicos e enfermeiras (embora seus olhos permaneceram cobertos com fita adesiva e seus ouvidos, tampados com protetores auriculares). 

Pam contou ainda que foi conduzida por uma "força invisível" até um grande ponto de luz e recebida afetuosamente por familiares já mortos — entre os quais um tio muito querido. A experiência foi tão agradável que ela não queria mais ir embora. Para que voltasse a viver — e pudesse contar a história —, foi preciso que o tio "empurrasse" seu espírito de volta ao corpo. 

Todos os integrantes da equipe médica reconheceram a morte clínica da paciente, que também foi comprovada pelos dados coletados durante a cirurgia. As conversas relatadas foram compatíveis com o que realmente foi falado durante a operação, e os instrumentos usados para abrir o crânio da paciente foram descritos pela paciente com minúcia e exatidão. 

Mesmo não havendo como comprovar o encontro com o tio falecido, tudo indica que ela visitou a "terra dos pés juntos", e o fato de sua consciência permanecer ativa enquanto o corpo estava morto é uma evidência (ainda que não uma prova cabal) da existência de vida após a morte.
 
Em 1871, um queda levou o geólogo suíço Albert Heim a uma EQM. Trazido de volta à vida, ele relatou uma grande expansão de sentidos, como se ouvisse e enxergasse muito melhor. Disse que sentiu o tempo "passar mais devagar" e uma "profunda aceitação" da morte iminente. 

O episódio despertou a curiosidade de Heim, que coletou mais de 30 relatos semelhantes de colegas montanhistas e os publicou no estudo Notes on Death from Falls. Todos coincidiam com sua própria experiência, e alguns traziam novos elementos, como ver a vida passar rapidamente diante dos olhos e ouvir músicas tocando no vazio.

Nos anos 2000, um levantamento semelhante, conduzido pelo cardiologista Pim van Lommel, revelou que a maioria dos 344 sobreviventes de perdas cardiorrespiratórias entrevistados teve consciência de que havia morrido, vira o corpo de um ponto externo, túneis ou luzes e se encontrou parentes já falecidos. 

A pergunta que se coloca é: até que ponto uma pessoa que relata uma experiência como essa está "morta" de verdade? 

A resposta fica para o próximo capítulo. 

segunda-feira, 24 de junho de 2019

SOBRE O TELEGRAM, AS DIFERENÇAS EM RELAÇÃO AO WHATSAPP E A ÓPERA BUFA ENVOLVENDO O INTERCEPT, MORO E A LAVA-JATO.



Conforme eu adiantei no post da última sexta-feira, o Telegram era um ilustre desconhecido dos brasileiros até a mídia publicar — de maneira sensacionalista e com ares de verdade irrefutável — uma coletânea de mensagens obtidas criminosamente e divulgadas seletivamente por um certo site esquerdista, com propósitos pra lá de suspeitos. Sobre esse conteúdo, o ministro Sérgio Moro, durante a reedição da Santa Inquisição na CCJ do Senado, reiterou que algumas conversas podem ter acontecido, mas que não se lembra de outras, e que pode ter havido edições, supressões e inserções maliciosas (clique aqui para ouvir a análise do professor Fernando Schüler). Ao final da audiência, que durou intermináveis nove horas, Moro disse que sempre agiu com base na lei e de maneira imparcial, desafiou o site a divulgar todo o material e prometeu deixar o governo se irregularidades de sua parte restarem provadas.

No dia seguinte, o controverso Reinaldo Azevedo — que não é mais o mesmo desde o aneurisma da véspera do Natal de 2016 — aliou-se a Glenn Greenwald e, travestido de anjo vingador, trombeteou uma “bomba” que não passou de um traque. Segundo José Nêumanne, essa história patética, comparável à tentativa de soltar Lula no plantão de Rogério Favreto no TRF-4, já está virando galhofa. Tanto é que a PGR Raquel Dodge se recusou incluir resultado do hackeamento dos celulares dos agentes por falta de prova de autenticidade. E com efeito. Nota-se claramente que, nessa caça às bruxas, a suposta feiticeira já foi julgada, condenada e amarrada ao tronco. Vão acender a fogo de qualquer maneira, mesmo que não consigam distorcer os fatos o bastante para fabricar provas convincentes da prática de bruxaria. Enfim, é típico do Brasil condenar a vítima e libertar o criminoso. 

Observação: PF já tem provas de que um cracker (clique aqui para saber a diferença entre “cracker” e “hacker”) tentou se passar pelo ministro no último dia 4 (vide imagem que ilustra esta matéria). Após a ativação da conta, um contato de Moro recebeu a mensagem “4 de junho. SFM entrou para o Telegram” e, imaginando ser o ministro quem estava do outro lado, escreveu: “Boa noite. O que achou dessa matéria?”, e anexou uma publicação do site do próprio Ministério da Justiça sobre o projeto anticrime do governo. O falso Moro respondeu: “vou ler”.

Embora sejam ambos aplicativos mensageiros, WhatsApp e Telegram funcionam de maneiras diferentes. Na verdade, o Telegram é mais parecido com o Facebook Messenger e o Skype do que com o WhatsApp. Ele foi criado em 2013 pelos irmãos Nikolai e Pavel Durov, fundadores da rede social VKontakte (o Facebook da Rússia), que, após serem forçados a vender o VK ao grupo Mail.ru, ligado ao governo russo, deixaram o país e usaram os US$ 260 milhões que receberam para criar um aplicativo mensageiro imune à bisbilhotice dos espiões russos. E assim nasceu o Telegram, cujo uso a Rússia proibiu em seu território, alegando que a empresa se recusou a abrir sua criptografia (codificação de dados) para o governo — o que de certa maneira estimulou o uso do app, pois, além de ser mais rápido que os concorrentes na entrega das mensagens, prometia sigilo absoluto, o que é sopa no mel tanto para quem atua à margem da lei, como organizações terroristas, pedófilos, traficantes e o escambau, quanto para pessoas não veem com bons olhos o fato de o WhatsApp pertencer ao Facebook, que explora a publicidade e não deixa claro como usa os dados, hábitos e conteúdo das conversas dos usuários.

No WhatsApp — que contabiliza mais de 1,5 bilhão de assinantes, 120 milhões só no Brasil — as mensagens são encriptadas e salvas no celular do usuário; no Telegram elas seguem abertas e são armazenadas “em nuvem” — leia-se nos servidores online que a empresa tem espalhados pelo mundo —, sendo apagadas a pedido do usuário ou automaticamente, quando este não acessa o aplicativo por um determinado período (que por padrão é de 6 meses).

No WhatsApp não é possível ativar a conta em mais de um aparelho com o mesmo número, e ainda que o serviço possa ser acessado pelo computador, o modo WhatsApp Web só funciona se o smartphone estiver ligado e conectado à Internet. Já o Telegram não limita o uso a um dispositivo que atue como central — ou seja, a mesma conta pode ativada simultaneamente em vários aparelhos — e o Telegram Web funciona independentemente de o smartphone estar ligado e conectado à Internet. Se esquecer o celular em casa ou ficar sem bateria, por exemplo, o usuário pode usar outro dispositivo (smartphone, tablet ou PC) para continuar suas conversas. Isso é cômodo, não resta dúvida, mas a questão é que comodidade e segurança não costumam andar de mãos dadas.

Observação: O WhatsApp também salva o histórico “em nuvem”, mas não o faz automaticamente e nem armazena o backup em seus próprios servidores, mas sim em um arquivo no Google Drive (no caso do Android) ou no iCloud (no caso do iPhone), e somente se o usuário ativar esse recurso. Para fazer o download, além de acesso à conta no aplicativo, é necessário informar a senha que protege o arquivo no drive virtual. Assim, se uma conta no WhatsApp for sequestrada, o criminoso pode até se passar pelo titular, mas só terá acesso ao arquivo com seu histórico de conversas se descobrir a respectiva senha.

As diferenças não param por aí. O WhatsApp é um software de código fechado (ou proprietário); no Telegram, o código é aberto, mas não na porção que toca ao servidor — cujo papel é mais importante que no concorrente, pois armazena todas as mensagens. Para invadir uma conta remotamente — ou seja, sem acessar fisicamente um dispositivo desbloqueado e conectado ao serviço —, o criminoso pode tentar se passar pelo dono da linha e pedir a transferência para outro chip com o mesmo número (clonagem). Outra maneira é recorrer ao "phishing" (mais detalhes nesta postagem) para infectar o dispositivo-alvo com algum software malicioso (trojan, spyware etc.), mas o modo mais fácil é valer-se de um descuido do dono do aparelho (smartphone, tablet ou PC) para obter um código de ativação e autenticar o acesso em seu próprio dispositivo. Como são armazenadas em nuvem, as conversas estarão visíveis para qualquer um que acessar a conta, e o estrago pode ser grande.

No WhatsApp, a maneira mais fácil de ver as mensagens antigas de outra pessoa é ativando uma sessão do WhatsApp Web, mas, como dito, isso requer acesso completo ao celular e a senha do arquivo salvo em nuvem (supondo que esse backup exista, pois, também como foi dito, nada obriga o usuário a fazê-lo). No Telegram, basta ter acesso à linha de telefone para ativar a conta e ver todas as mensagens. Claro que há maneiras mais sofisticadas, mas elas envolvem um grau de expertise que foge aos usuários comuns e, consequentemente, ao escopo desta abordagem.

Inicialmente, o WhatsApp tinha poucos recursos de segurança e podia ser grampeado em qualquer rede Wi-Fi com um programa simples, ao passo que o Telegram já contava com criptografia e chats secretos capazes de impedir até grampos eletrônicos sofisticados. Com o passar do tempo, ambos evoluíram. Em 2016, constantes vazamentos levaram o WhatsApp a implementar uma tecnologia de embaralhamento de mensagens copiada do Signal — que é considerado por muitos o melhor aplicativo categoria, e que você deve usar se realmente faz questão de privacidade em suas comunicações (a versão para Android pode ser baixada a partir deste link). Já o Telegram, mesmo sendo pioneiro em chats secretos criptografados, apostou na comodidade, privilegiando o uso em múltiplos dispositivos e o armazenamento centralizado das conversas — o que facilita a migração, mas compromete a segurança de quem não ativa os recursos avançados.

Diante do exposto, fica difícil dizer qual dos dois aplicativos em análise é o mais seguro, até porque isso depende de como eles são configurados e o uso que é feito deles. Muita gente não habilita os recursos avançados do Telegram por desconhecimento ou para não sofrer limitações no acesso a determinadas funções e conveniências. Se, por exemplo, você utilizar o “chat secreto”, suas mensagens trafegarão encriptadas (a empresa oferece US$ 300 mil a quem conseguir quebrar seus protocolos de criptografia), não poderão ser reencaminhadas e serão apagadas automaticamente minutos ou segundos depois que forem lidas. A criação de grupos, que no modo “normal” pode ter até 200 mil usuários, não é permitida no privado, daí a conclusão de que Moro e os procuradores da Lava-Jato não se valeram desse recurso, talvez porque, como em outras camadas segurança presentes no aplicativo, é preciso definir uma senha que passa a ser exigida a cada nova sessão. Se por um lado isso é incomodativo, por outro torna o programinha muito mais seguro.

Resumo da ópera: se você optar pelo Telegram porque precisa de privacidade, use o chat secreto e ative autenticação em dois fatores pela aba "privacidade e segurança" — onde é possível também definir quem pode saber se você está online, ver sua foto de perfil e número de telefone, ajustar o tempo que o histórico deve permanecer nos servidores se a conta ficar inativa, e assim por diante. No WhatsApp, como o histórico de conversas é armazenado localmente, apague-o de tempos em tempos, não só para aprimorar a segurança, mas também para liberar espaço precioso na memória interna do smartphone. E não deixe de ativar a autenticação em dois fatores (clique aqui para saber como fazer isso).

Em rio que tem piranha, jacaré nada de costas. Causa espécie o fato de Moro, Dallagnol e companhia terem sido tão relapsos. Qualquer fã de filmes policiais com foco na Cosa Nostra (ramificação da Máfia siciliana que dominou a costa leste dos EUA durante boa parte do século passado) sabe que “assuntos sensíveis” devem ser tratados pessoalmente, de preferência numa caminhada ao ar livre e longe de ouvidos curiosos. Telefone, só "orelhão", e apenas para recados urgentes. Aliás, Tancredo Neves já dizia que "telefone só serve para marcar encontro, e assim mesmo no lugar errado". Reunião, portanto, só na sauna, e com todo mundo nu.

Em nota ao portal G1, o Telegram informou que protege as mensagens trocadas pelos usuários, tanto no envio quando no armazenamento em seus servidores, que jamais compartilhou um único byte com terceiros, que nenhuma maneira de corromper sua encriptação foi descoberta até hoje e que não foi alvo de invasão. Pelo visto, Moro, Dallagnol e os demais envolvidos nesse carnaval midiático deram sopa para o azar ao não ativar os recursos de segurança disponibilizados pelo aplicativo — que, nunca é demais lembrar, se tornarão ineficazes se o telefone for invadido, pois aí o criminoso terá acesso total ao dispositivo, podendo, inclusive, capturar tudo o que é digitado e visto na tela. Em última análise, quem não quer correr riscos deve dispensar qualquer meio de comunicação eletrônica.

Sem entrar no mérito do conteúdo vazado (que, como se sabe, pode ter sido editado ou adulterado de várias maneiras) e a forma criminosa como ele foi obtido (através de hackeamento digital), volto a salientar que bastaria aos envolvidos usar o "chat secreto" para que suas conversas fossem encriptadas e apagadas automaticamente segundos ou minutos após a leitura, em vez de permanecerem dando sopa nos servidores do Telegram. Especula-se que o acesso não autorizado ao terminal de Moro se deu através de malwares (códigos maliciosos), mas existe a possibilidade de a linha ter sido comprometida e o SMS com o código de login no Telegram, interceptado. É provável que o invasor tenha se valido de um processo conhecido como SIM Swap — clonagem do chip por meio de uma brecha (ou insider) da operadora telefônica — e, após obter acesso ao número de telefone e clonar o chip, interceptado ligações, mensagens, localização e outras informações pessoais. Nessas condições, os aplicativos e demais serviços providos pelo chip ficam inoperantes até que a vítima perceba e entre em contato com a operadora para tentar reverter o processo. Veja detalhes no vídeo a seguir:


Para concluir a conversa — haveria muito mais a dizer, mas o tamanho do texto recomenda encerrá-lo o quanto antes — segue mais um artigo lapidar do jornalista J.R. Guzzo, publicado na edição impressa de VEJA desta semana:

O que você pode esperar de um país em que pelo menos um em cada três membros do Congresso Nacional (algumas contas, mais pessimistas, estimam que o total possa passar dos 40%) responde a algum tipo de processo criminal perante a Justiça — um caso sem similar no resto do planeta? Isso é só uma parte do problema. Roubava-se tanto na Odebrecht, nos governos dos ex-­presidentes Lula e Dilma Rous­seff, que a empresa achou necessário criar um departamento inteiro destinado unicamente a cuidar da corrupção de políticos e peixes graúdos da administração pública — com diretores, gerentes, secretárias, sistemas de TI e tudo o mais que se precisa para tocar um negócio de prioridade máxima. Não é apenas o Congresso. Há, nesse mundo de treva, o resto dos políticos — no nível federal, nos estados e municípios. Há também outras empreiteiras de obras, empresários escroques, bancos com problemas junto a delatores e mais um montão de gente. Só se pode esperar disso tudo, na verdade, uma coisa: os mais extraordinários esforços, por parte dos criminosos, para manter as coisas o mais próximo possível da situação em que sempre estiveram.

Até uma criança com 10 anos de idade percebe que ninguém, aí, quer ir para a cadeia. Todos, se pudessem, gostariam de voltar a roubar em paz. E sabem, é claro, que não vai ser fácil. Juridicamente não não existe a menor possibilidade de “zerar tudo” — quer dizer, anular os processos por corrupção já decididos ou em andamento na Justiça, ou eliminar as provas materiais colhidas contra condenados, réus à espera de sentença e suspeitos de ações futuras. Que diabo se faz, por exemplo, com as confissões que foram colocadas no papel? E com as “delações premiadas” ora em andamento? Também não é possível, simplesmente, fazer com que se evaporem os resultados físicos dos procedimentos judiciais de combate à corrupção já executados até agora. Em números redondos, são cerca de 250 condenações, num total superior a 2.000 anos de prisão. Mais de 150 criminosos de primeira linha foram para a cadeia. Bilhões de reais foram devolvidos ao Tesouro Nacional. Para ficar no caso mais vistoso: o ex-presidente Lula, após apresentar mais de 100 recursos de todos os tipos, já está condenado em terceira instância — julgado, até agora, por 21 juízes (possivelmente não há na história do direito penal brasileiro outro caso em que o direito de defesa tenha sido tão utilizado por um réu).

É um problema e tanto. Na impossibilidade de sumir com o passado, o esforço, agora, é para armar um futuro menos complicado para todos. Uma das esperanças mais caras do mundo político em geral é que prevaleça, uma vez mais, o ponto de vista dominante na elite brasileira — que, como sabemos, tem um código moral perfeito, mas gosta muito mais do código do que da moral. Essa elite, ou as classes que definem a virtude nacional, está tentando construir uma espécie de trégua — a trégua que for possível, baseada em decisões que de alguma forma possam ser vinculadas à interpretação das leis. Segundo os devotos do código, talvez seja uma pena para a visão comum que se tem da ideia de justiça — mas se a majestade da lei exigir que a moral vá para o diabo que a carregue, paciência. Como tem objeções à vacina, há gente que acaba, na prática, ficando a favor da bactéria.

É positivo anotar, de qualquer forma, que o roubo do Erário, no Brasil de hoje, está mais difícil do que jamais foi ao longo de seus 500 anos de existência. Em consequência da ação da Justiça, jamais foi tão arriscado ser corrupto como no Brasil de hoje — e jamais os corruptos tiveram tanto medo de agir como têm agora. Talvez nada mostre melhor a calamidade que impuseram ao país que o pedido de recuperação judicial da própria Odebrecht, aceito na semana passada — após a destruição, em cinco anos, de quase 130.000 empregos na empresa campeã de corrupção nos governos de Lula e Dilma. No setor de obras públicas como um todo, incluindo o restante das empresas envolvidas em atividades criminosas, há estimativas de que até 600.000 empregos tenham sido perdidos em todo o Brasil desde que o aparato da ladroagem começou a ruir. Quem é culpado: os presidentes que roubaram, ou deixaram roubar, ou o sistema judicial que puniu o roubo?

Você sabe. Mas não vai ser fácil continuar esse combate.

sábado, 23 de julho de 2022

O DESEMPREGADO QUE DEU CERTO (TERCEIRA PARTE)



Marisa Letícia Lula da Silva morreu no dia 3 de fevereiro de 2017, aos 66 anos, vítima de um aneurisma. Embora ela fosse hipertensa, sedentária e fumante, sua morte foi inesperada. Durante o velório, o viúvo proferiu um discurso emocionado, regado a lágrimas, e a imprensa concedeu ampla cobertura à desgraça que se abateu sobre o Clã Lula da SilvaNas redes sociais, mensagens de solidariedade, pêsames e congêneres dividiram espaço com posts publicados por gente que não morria de amores por Lula, pelo PT e pela própria ex-primeira dama. Alguns resvalaram do mau gosto para o grotesco, o que é indesculpável, mas, ainda assim, compreensível.


Militantes de esquerda em geral e puxa-sacos em particular relembraram a infância pobre da falecida, que estudou somente até a 7ª série, começou a trabalhar aos 9 anos, enviuvou do primeiro marido aos 20, liderou a marcha pela libertação do segundo, costurou a primeira bandeira do PT, apoiou o chefão da ORCRIM nas campanhas; enfim, pintaram-na como uma Amélia melhorada, com a inteligência de Marie Curie, a abnegação de Madre Teresa, a têmpera de Margaret Thatcher e a fleuma de Hillary Clinton (no episódio Monica Lewinsky).

Curiosamente, ninguém mencionou que a finada deixou patente a notória incapacidade petista de separar o público do privado ao mandar plantar, no gramado do Alvorada, um canteiro de flores vermelhas no formato da estrela símbolo do partido. Tampouco foi lembrado que ela ― muito convenientemente ― teria “fechado os olhos” (aqui metaforicamente) para o affair do marido com Rosemary Noronha (entendeu agora o que eu quis dizer com a “fleuma de Hillary”?).

 

Rose, como a “segunda-dama” era chamada informalmente, foi apresentada a Lula pelo guerrilheiro de araque José Dirceu. O “caso” teve início na década de 90, mas só veio a público em 2012, quando a PF deflagrou a Operação Porto Seguro. Nesse meio tempo, a moçoila acompanhou “O Chefe” ― ou “Deus”, como ela costumava se referir a ele ― em pelo menos 32 viagens oficiais. Seu nome não constava do manifesto de voo e ela não compartilhava com Lula a mesma suíte, mas ficava nos melhores hotéis, comia do bom e do melhor em restaurantes estrelados e, segundo Leo Pinheiro, recebia R$ 50 mil por mês da OAS (também a pedido do petista, o empreiteiro teria incluído o marido de Rose na folha de pagamento da empresa).

 

Quando a história ganhou notoriedade, o repórter Thiago Herdy e o jornal O Globo entraram na Justiça com um pedido de quebra do sigilo dos gastos da dita-cuja no cartão corporativo da Presidência, mas o STJ empurrou a coisa com a barriga. Em 2014, quando o movimento “Volta, Lula” ganhou corpo, Dilma ― que prometeu “fez o diabo” para se reeleger ― ameaçou divulgar as despesas da concubina real, forçando o petralha a recuar.

 

Segundo o jornalista Cláudio Humberto, editor do blog Diário do Poder, os gastos com cartões corporativos no período de 2003 a 2015 somaram R$ 615 milhões (mais de R$ 51 milhões por ano), ao passo que no último ano do governo FHC a conta foi de “apenas” R$ 3 milhões. A farra foi tamanha que um alto funcionário do Ministério das Comunicações chegou a pagar duas mesas de sinuca com o cartão corporativo — que também foi usado por seguranças da “primeira-família” para pagar equipamentos de musculação e materiais de construção para Lurian, filha de Lula


Em setembro de 2013, o jornalista Augusto Nunes publicou em sua coluna: "Neste sábado, Lula completará 288 dias de silêncio sobre o escândalo que protagonizou ao lado de Rosemary Noronha. Ele parece ainda acreditar que o Brasil acabará esquecendo as bandalheiras que reduziram a esconderijo de quadrilheiros o escritório da Presidência da República em São Paulo. No mais cruel dos dias para quem tem culpa no cartório, a edição de VEJA tratará de reiterar que a memória da imprensa independente não é tão leviana. As revelações contidas nas quatro páginas tornarão mais encorpada e mais cinzenta a pilha de perguntas em busca de resposta. Por exemplo: quem está bancando os honorários do oneroso exército de advogados incumbido de livrar de punições judiciais a vigarista de estimação do ex-presidente? Num depoimento à Polícia Federal, Rose não conseguiu explicar como comprou o muito que tem com o pouco que ganha. De onde vem o dinheiro consumido pela tropa de bacharéis que cobram em dólares americanos? Lula sabe”. Segue um excerto da matéria: A discrição nunca foi uma característica da personalidade de Rosemary Noronha. Quando servia ao ex-presidente em Brasília, ela era temida. Em nome da intimidade com o “chefe”, fazia valer suas vontades mesmo que isso significasse afrontar superiores ou humilhar subordinados. Nos eventos palacianos, a assessora dos cabelos vermelhos e dos vestidos e óculos sempre exuberantes colecionou tantos inimigos — a primeira-da­ma não a suportava — que acabou sendo transferida para São Paulo. Mas caiu para cima. Encarregada de comandar o gabinete de Lula de 2009 a 2012, Rose viveu dias de soberana e reinou até ser apanhada pela Polícia Federal ajudando uma quadrilha que vendia facilidades no governo. Ela usava a intimidade que tinha com Lula para abrir as portas de gabinetes restritos na Esplanada. Em troca, recebia pequenos agrados, inclusive em dinheiro. Foi demitida, banida do serviço público e indiciada por crimes de formação de quadrilha e corrupção. Um ano e meio após esse turbilhão de desgraças, no entanto, a fase ruim parece ter ficado no passado. Para que isso acontecesse, porém, Rosemary chegou ao extremo de ameaçar envolver o governo no escândalo."

 

No discurso emocionado que proferiu no velório da esposa, Lula disse que ele dona Marisa foram foram vítimas de injustiça, que a mulher morreu "triste com a maldade que fizeram com ela" e que ele espera que "os facínoras que fizeram isso um dia peçam desculpas". Confira um trecho do comício:

 

Se alguém tem medo de ser preso, este que está aqui, enterrando sua mulher hoje, não tem. Não tenho que provar que sou inocente. Eles que precisam dizer que as mentiras que estão contando são verdadeiras. Marisa foi mãe, foi pai, foi tia, foi tudo; eu e ela nunca brigamos. Marisa nunca pediu um vestido, um anel. Eu vou continuar agradecendo à Marisa até o dia que eu não puder mais agradecer, o dia em que eu morrer. Espero encontrar com ela, com esse mesmo vestido que eu escolhi para colocar nela, vermelho, para mostrar que a gente não tinha medo de vermelho quando era vivo, e não tinha medo de vermelho quando morre”.

 

Neste vídeo, a jornalista e hoje deputada federal Joice Hasselmann resumiu em 6 minutos, de maneira irreprochável, o que pensava da desfaçatez do viúvo que transformou esquife em palanque e foi aplaudido pelos micos amestrados de costume — conquanto muita gente tenha lido nas entrelinhas a monstruosidade moral de um safardana nauseabundo, capaz de usar a morte da mulher para fazer proselitismo político.

 

Continua...

sábado, 5 de julho de 2025

SALVE-SE QUEM PUDER!

O ASNO SE CONHECE PELAS ORELHAS, E O TOLO, PELA LÍNGUA.

Sétimo filho de um casal de lavradores (sem contar outros quatro que não "vingaram"), Luiz Inácio da Silva nasceu em 27 de outubro de 1945 num casebre depauperado do sítio Várzea Comprida, em Caetés (então município de Garanhuns - PE). A mãe, D. Lindu, não foi assistida por uma parteira (a comadre corpulenta caiu do jegue a caminho do sítio) nem pelo marido, Aristides, que havia "retirado" dois meses antes, deixando esposa grávida e levando a reboque uma prima adolescente de D. Lindu, que ele havia engravidado. 


Lula só conheceu o pai aos cinco anos, quando Aristides voltou de visita à terra natal e, no embalo, engravidou D. Lindu de uma menina — que seria registrada como Ruth porque o cartorário achou Sebastiana um nome muito feioAos sete anos, o projeto de petista foi mordido na barriga por uma jumenta, e só não morreu porque alguém enfiou uma peixeira no pescoço do animal (esse episódio consta do livro Lula, o Filho do Brasil, de Denise Paraná, que foi base da cinebiografia homônima).

 

Aristides era um homem rude e ignorante, que bebia muito e tratava melhor seus 20 cachorros do que a mulher, as amantes (ele teve várias) e os 25 filhos que espalhou pelo Brasil afora antes de morrer de cirrose e ser sepultado numa vala comum do cemitério da Consolação, sem túmulo, sem epitáfio e sem despedidas dos filhos e das viúvas. Por ser analfabeto, ele ditava para o primogênito — que morava com ele e a prima da mulher — cartas nas quais dizia que a vida em Vicente de Carvalho estava difícil e que D. Lindu deveria permanecer no Nordeste. Numa dessas cartas, no entanto, o menino incluiu um trecho dizendo que o pai queria que a mãe e os irmãos viessem morar com eles. 

 

Castigada pelo seca de 1952, D. Lindú vendeu o barraco e seus parcos pertences, reuniu a filharada, sacolejou 13 dias num caminhão "pau-de-arara", desembarcou no Brás (bairro da capital paulista) e seguiu de trem rumo à baixada santista, onde o marido morava com a concubina. O reencontro se deu na antevéspera do Natal, mas não foi nada caloroso. Aristides passou a dividir a semana entre as duas famílias, mas tratava D. Lindu e os filhos nas patas do coice. 


Depois de ser espancada com uma mangueira de jardim, ela subiu a serra (literalmente) e passou a morar nos fundos de um boteco na Vila Carioca (bairro da zona sul da capital paulista). Lula ainda morou algum tempo com o pai, mas se juntou à mãe na capital, onde trabalhou como auxiliar de tinturaria, engraxate e office-boy até se formar torneiro mecânico pelo Senai e conseguir emprego numa metalúrgica — onde perdeu o dedo mínimo da mão esquerda num acidente de trabalho até hoje mal explicado. 


Depois de seis meses desempregado, Lula foi contratado pela Villares. Instigado pelo irmão Frei Chico (que era ateu, comunista, e se chamava José Ferreira da Silva), iniciou sua trajetória sindicalista. Foi sob sua liderança que o ciclo de greves em prol da recomposição salarial dos metalúrgicos teve início. Em 1969, casou-se com Maria de Lourdes da Silva, que contraiu hepatite e foi submetida a uma cesariana de emergência da qual nem ela nem o bebê sobreviveram. Em 1974, ano em que casou com Marisa Letícia, Lula já era pai de Lurian, fruto de um caso com a enfermeira Míriam Cordeiro. Desse casamento nasceram Fábio Luiz, Sandro Luíz e Luiz Cláudio a mulher já tinha um filho do primeiro casamento, que Lula adotou formalmente). 


Como dirigente sindical, Lula participou de assembleias e reuniões em várias cidades — e até no Japão a convite da Toyota. Foi cassado em 1979, mas recuperou o cargo com o fim da greve. Em abril de 1980 — mesmo ano da fundação do PT —, passou 31 dias detido no DOPS por incitar greves, mas não foi torturado. A primeira bandeira do partido foi costurada por Marisa, que pouco apareceria nas campanhas eleitorais do marido até 2002. Ela morreu em 2017, vítima de um aneurisma cerebral, cinco meses antes de Moro sentenciar Lula no caso do triplex no Guarujá. 


Lula dizia ter ojeriza à política e aos políticos, mas deixou o chão de fábrica em 1972, ao se tornar dirigente sindical, e abandonou o batente de vez quando fundou o partido que "faria política sem roubar nem deixar roubar". Desde então, dedicou-se à "arte da política" e desfrutou dos confortos que o poder e o dinheiro podem proporcionar. Sempre cultivou a imagem de operário honesto e defensor da justiça social, mas trocou a pinga vagabunda e os cigarros baratos por vinhos premiados, uísques caríssimos e charutos de cem dólares assim que encontrou quem pagasse a conta. Em conversa com o empreiteiro Emílio Odebrecht, o general Golbery do Couto e Silva (vulgo "Bruxo") teria dito que Lula posava de esquerdista, mas não passava de um bon vivant. 


Na primeira eleição presidencial direta desde 1960, o xamã petista foi derrotado por Collor. Em 1994 e 1998 Fernando Henrique foi eleito em primeiro turno. Em 2002, quando faltaram ao tucano de plumas vistosas novos coelhos para tirar da velha cartola, Lula finalmente conseguiu se eleger — e se reeleger em 2006, a despeito do escândalo do mensalão. Em janeiro de 2011, transferiu a faixa para seu "poste" e deixou o Palácio com o ego inflado e a popularidade nas alturas. Em 2012, a despeito de boa parte da alta cúpula petista ter ido parar na cadeia, o chefe sequer foi indiciado na ação penal 470

 

Observação: Durante um jantar regado a Romanée-Conti — vinho da Borgonha que custa US$ 25 mil a garrafa —, Lula tirou uma baforada da cigarrilha cubana (acesa pelo diligente vassalo Delúbio Soares) e se vangloriou: "Sem falsa modéstia, companheiros, eu elejo até um poste para governar o Brasil." E elegeu mesmo. Mas a criatura fez o diabo para se reeleger em 2014, e o criador, sem o manto da Presidência e escudo do foro privilegiado, foi condenado em 2017 e preso em 2018. 


Com a candidatura barrada pelo TSE e o "companheiro" Jaques Wagner declinando do o papel de fantoche, Lula escalou Fernando Haddad para representá-lo no pleito de 2018, mas o ex-prefeito paulistano perdeu para Bolsonaro no segundo turno por 55,13% a 44,87% dos votos válidos. E o resto é história recente: apesar da concorrência acirrada, Bolsonaro sagrou-se o pior mandatário desde Tomé de Souza. Ao longo de sua aziaga gestão, foi alvo de mais de 140 pedidos de impeachment (todos engavetados por Rodrigo Maia e Arthur Lira) e dezenas de denúncias por crimes comuns (que o antiprocurador-geral Augusto Aras matou no peito). 


Como que antevendo a necessidade de defenestrar Bolsonaro em 2022, o STF libertou o então presidiário mais famoso do Brasil — como um delegado que determina a soltura de um ladrão detido pela Guarda Civil Metropolitana sob o pretexto de que o flagrante caberia à PM — e anulou suas suas duas condenações (que somavam quase 25 anos de prisão e haviam transitado em julgado no STJ) e o reabilitou politicamente. De vota ao tabuleiro eleitoral, a "alma viva mais honesta do Brasil" derrotou o refugo da escória da humanidade, no segundo turno, por uma diferença de 1,8% dos votos válidos.


Como aspirante a golpista, Bolsonaro conseguiu ser pior do que foi como presidente. Embora continue sendo o maior exponente da direita radical, as manifestações em seu favor vêm encolhendo: a mais recente, em 28 de junho, reuniu 12,4 mil pessoas no pico do ato — contra 44,5 mil em abril e 185 mil em fevereiro. Mesmo estando inelegível até 2030 e na iminência de ser condenado pelos crimes de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado e grave ameaça contra o patrimônio da União, e deterioração de patrimônio tombado, segue entoando a velha cantilena da perseguição política e posando de candidato ao Planalto, enquanto articula com a banda podre do Congresso uma improvável anistia.

 

Com o país polarizado (cerca de 80% dos eleitores divididos entre nhô-ruim e nhô-pior) e a popularidade do pseudo "Parteiro do Brasil Maravilha" em queda livre, o cenário eleitoral permanece uma incógnita. Pesa contra o macróbio a idade, a saúde precária e o desgaste com o eleitorado. Por outro lado, por ele nunca ter deixado crescer uma arvorezinha que pudesse fazer sombra em seu quintal, a esquerda carece de um "plano B". 


A situação do capetão-golpista é ainda pior: somam-se às pendências judiciais as sequelas da facada que levou em setembro de 2018, a crescente perda de apoio e o discurso de palanque cada vez menos convincente. Ainda assim, e a despeito das candidaturas alternativas à direita — como as de Ronaldo Caiado e Gusttavo Lima —, sua força gravitacional mantém os governadores Tarcísio de Freitas, de São Paulo, e Romeu Zema, de Minas Gerais, orbitando a seu redor.

 

Candidatos à reeleição têm a máquina pública e o erário a seu favor, e Lula vem gastando bilhões (dinheiro dos nossos impostos) em projetos assistencialistas para tentar se manter competitivo. Mas o clima com o Congresso azedou de vez — como demonstrou a derrubada do decreto que aumentava o IOF. Isso sem mencionar que o próximo presidente, seja ele quem for, terá de dar nó em pingo d'água para manter o país adimplente. Em entrevista à TV Bahia, ele disse que pretende conversar com Hugo Motta e Davi Alcolumbre para resgatar a "normalidade política nesse país", mas a governabilidade idealizada por ele não depende mais de acertos com os chefes da Câmara e do Senado, mas de acordos miúdos com cada um dos 513 deputados e dos 81 senadores, numa evidencia clara de que o presidencialismo de coalizão está agonizante — e o pior é que não há nada melhor à vista.

 

Nem à direita nem à esquerda tem interesse num embate cujo desfecho é imprevisível. Lula diz estar candidatíssimo, mas já não tem certeza se vale a pena tentar a reeleição, e Bolsonaro precisa decidir o que fará quando e se for condenado (o que deve acontecer entre setembro e outubro). Até o início de 2026, esquerda e direita devem seguir em ritmo de morde e assopra, com governo e oposição ensaiando ataques e recuso conforme a direção dos ventos. Nenhum dos lados está pronto para uma guerra em que um passo em falso pode dar vantagem ao adversário. 


A ressurreição do slogan "nós contra eles" representa uma guinada de Lula à esquerda, e pode afugentar os eleitores nem-nem (nem Lula nem Bolsonaro) que levaram o levaram ao Planalto pela terceira vez. Mas alguma coisa profundamente anormal precisa acontecer para salvar o país e o orçamento, e a única luz visível no horizonte é o reflexo da lua sobre o iceberg em direção ao qual o Titanic tupiniquim segue a toda velocidade. 


Salve-se quem puder.