quinta-feira, 14 de julho de 2022

O IMBRÓGLIO NA CAIXA

 

Ao menos um dos episódios relatados pela coluna de Rodrigo Rangel foi alvo de denúncia formal apresentada por uma funcionária que testemunhou as ameaças e o constrangimento promovidos pelo então presidente da Caixa, Pedro Guimarães. 


A titulo de contextualização, entende-se por assédio moral a exposição de pessoas a situações humilhantes e constrangedoras no ambiente de trabalho, e por assédio sexual o constrangimento de alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente de sua condição de superior hierárquico por cargo ou função. 


O medo de denunciar internamente os casos de assédio envolvendo o agora ex-presidente do banco advinha não apenas do receio de retaliação, mas também da falta de confiança dos funcionários nos setores responsáveis por receber as queixas.

 

A coluna teve acesso ao registro feito pela funcionária por meio de um sistema interno chamado “Viva Voz”, vinculado ao Departamento de Gestão de Engajamento, Benefícios e Rede, na sede da Caixa. Cabe a esse departamento analisar as reclamações, distribuí-las ao setor responsável pela apuração  no caso de assédio moral, a queixa deveria ter sido encaminhada para a Corregedoria do banco.

 

Na denúncia, a funcionária disse que Guimarães agiu de forma “extremamente constrangedora” e contrariou o Código de Conduta da empresa, mas o departamento rejeitou duas declarações que ela apresentou. A primeira resposta disse que a funcionária descumpriu regras internas por ter usado “palavras ofensivas e de baixo calão” na reclamação, e a segunda, que o departamento desconhecia os fatos apontados e que a ocorrência relatada não se enquadrava em nenhuma norma do Código de Conduta.

 

Daniella Marques, que substituiu Guimarães na presidência da CEF, condenou o crime de assédio sexual em timbre categórico, prometeu investigar o antecessor com rigor, afastou suspeitos de cumplicidade e abriu canal direto para ouvir mulheres que queiram fazer denúncias. Prontificou-se a virar a página do escândalo. Soou como se dispusesse de carta branca de Bolsonaro, que cuidou de demonstrar que ela não tem autonomia sequer para escolher uma caneta. 

 

Com a sutileza de um elefante, anotou Josias de Souza em sua coluna, Bolsonaro arrancou a caneta da mão de Daniella no instante em que ela assinava o ato de posse e lhe entregou uma esferográfica Bic. O gesto resumiu à perfeição o sentido da posse. Daniella fez um discurso adequado, mas o chefe do Executivo conspirou para converter a cerimônia de posse em mais um comício reles. 


Em seu discurso, o presidente-candidato tornou a atacar o TSE e o STF e a cuspir nas urnas eletrônicas que pelas quais se elegeu. Mas não disse uma mísera palavra de solidariedade às mulheres aviltadas na Caixa. Além de não condenar os crimes de assédio sexual e moral atribuídos ao ex-presidente do banco, cuidou de atenuar a importância da chegada de Daniella: "Não começa uma nova era aqui na Caixa, a Caixa continua." 

 

Não fosse a necessidade de acenar para o eleitorado feminino, majoritariamente avesso a sua reeleição, o "minto" teria mantido seu bolsonarista de mostruário na presidência da Caixa e continuaria a exibi-lo nas tradicionais as lives de quinta-feira. Ao premiar Guimarães com o seu silêncio, Bolsonaro como que coloca a cara no fogo pelo ex-subordinado.


Se houvesse Justiça nesta banânia, o sultão do bolsonaristão já teria sido cremado.