sexta-feira, 5 de agosto de 2022

 A COMPUTAÇÃO QUÂNTICA E A VIAGEM NO TEMPO (PARTE XIII)

A CIÊNCIA CONSISTE EM SABER; EM CRER QUE SE SABE RESIDE A IGNORÂNCIA.

 

Um evento quântico comum pode envolver duas partículas que se movem para frente no tempo, alteram-se mutuamente em algum momento e seguem rumo ao futuro por caminhos diferentes. Se uma dessas partículas entrar em uma curva fechada do tipo tempo (detalhes no capítulo anterior), ela poderá voltar e reassumir a posição que ocupava antes da interação, o que influenciaria a própria transformação e anularia os estados paradoxais que poderiam ter consequências inaceitáveis no futuro. 

 

Segundo o princípio de autoconsistência, se um evento pode produzir um paradoxo ou causar alterações no passado que provoquem uma inconsistência no Universo, a probabilidade de ele ocorrer é nula. Assim, se for realmente possível voltar no tempo, a viagem não pode produzir alterações no presente. De acordo com a conjectura de proteção cronológica de Stephen Hawking, a própria natureza impediria que algo voltasse a um ponto do passado e continuasse se movendo, numa curva fechada do tempo, até alcançar novamente o ponto de partida. 

 

Para os pesquisadores Francisco Lobo e Paulo Crawford, da Universidade de Lisboa, a simples existência dos paradoxos temporais não prova que viagem no tempo seja matemática e fisicamente impossível. “Viajar ao passado é potencialmente permitido em nossa teoria da relatividade geral, como entendemos a gravidade”, diz Paul Sutter, astrofísico que apresenta um podcast chamado “Pergunte a um Homem do Espaço!”.

 

Fato é que ninguém demonstrou (até agora) que as viagens no tempo são possíveis. Toda vez que se tenta inventar um dispositivo teórico que as admite, outra parte da física vem e acaba com a festa. 


Em 1952, o escritor norte-americano Ray Bradbury publicou o conto “O som do trovão”, que serviu de base para um filme homônimo. Na trama, o fato de uma pessoa ter pisado numa borboleta produziu graves consequências — incluindo a chegada de um líder fascista ao poder. Nove anos depois, o meteorologista Edward Lorenz constatou que o arredondamento de dados — como temperatura, umidade, pressão e direção do vento  alterava significativamente a previsão do tempo. Segundo ele, isso equivale a dizer que o vento que causa o bater de asas de uma borboleta no Brasil pode ocasionar um tornado nos Estados Unidos. 


A teoria do efeito borboleta demonstrou que alterações aparentemente insignificantes podem gerar grandes mudanças ao longo do tempo, provocando uma sensação de caos. Isso porque, segundo a física clássica, a partir das condições iniciais de um objeto é possível prever seu comportamento no futuro (como o movimento dos planetas ou a trajetória de uma bala, por exemplo). Mas a teoria do caos (princípio aplicado ao que os matemáticos chamam de “sistemas dinâmicos”) demonstrou que variações iniciais, ainda que minúsculas, tornam as previsões impossíveis com o passar do tempo. 


Ainda que o caos faça parecer que tudo se move de forma aleatória, o próprio caos cria padrões ao longo do tempo. Se avançarmos mais um pouco, a teoria do caos nos levará a questões existenciais, com a do livre arbítrio, mas esta seria uma discussão ainda mais caótica.

 

Continua...