Simone Tebet venceu o debate deste domingo. Bolsonaro foi o grande perdedor e Lula, o segundo pior. Paradoxalmente, o êxito da candidata favorece o capitão, pois é improvável, a essa altura, que um candidato de fora da polarização salte do rodapé das pesquisas para o segundo turno. Ciro Gomes teve o segundo melhor desempenho. Soou mais sintonizado com o drama social e fustigou Bolsonaro por ter declarado que não há fome no Brasil. Não poupou críticas ao "ex-aliado", levando água para o moinho que empurra o desfecho da polarização para o segundo round.
Em outro momento do debate, Lula tentou articular um contragolpe fazendo tabelinha com Simone. Estrela da CPI do Genocídio, a senadora ajudou a chutar Bolsonaro, mas realçou na resposta ao molusco que a corrupção correu solta nos governos petistas. E tratou o orçamento secreto como sucedâneo do mensalão e do petrolão. Foi ela quem melhor cavalgou o piti do capitão, e sua estratégia, a mais certeira.
Em dois momentos do debata, Lula afirmou mentirosamente que foi absolvido em todos os processos que tramitavam contra ela na Justiça Criminal, mas na verdade ele foi condenado em dois, por uma dezena de juízes, a penas que somavam mais de 26 anos de reclusão. No entanto, depois de uma epifania serôdia revelar que a 13ª Vara Federal do Paraná era territorialmente incompetente para julgar o ex-presidente, o ministro Fachin anulou as condenações e determinou o reinício dos processos na JF do DF.
Com a rapidez do raio, o semideus togado Gilmar articulou a "suspeição" do ex-juiz Moro, e assim Lula percorre a conjuntura exsudando inocência, embora tenha sido absolvido em apenas três dos vinte processos que colecionou (as demais ações prescreveram ou tiveram a tramitação suspensa — sob o pretexto de erros processuais ou outra tecnicidade qualquer). Diferentemente do que afirmou na Band, ele jamais foi julgado pelo Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas.
Luiz Felipe D'Ávila saiu do debate como entrou: insignificante. A também inexpressiva Soraya Thronicke teve seus 15 segundos de fama expandidos para as redes sociais ao se solidarizar com Vera Magalhães. Declarou que vira onça na defesa das mulheres e ironizou Bolsonaro — "Tchutchuca" com os homens, "tigrão" com as mulheres —, mas sua insistência na defesa da proposta do imposto único deu-lhe a aparência de disco de vinil arranhado.
Há na alma de Bolsonaro uma inusitada mistura de ignorância pessoal com inanição mental. Em campanha, ele esgrime o Auxílio Brasil para tentar demonstrar que tem coração. Seu plano é obter a reeleição, ao passo que o projeto dos famélicos é arranjar comida. O despirocado quer mais 4 anos no Planalto, enquanto o mundo dos famintos cabe no intervalo entre uma refeição e outra.
Bolsonaro diz que cumpre na Presidência uma missão divina. Não pede a Deus que seja feita a Sua vontade; exige que o Todo-Poderoso aprove sua vontade de permanecer no Planalto. O brasileiro faminto pede a Deus que coloque em seu céu uma cozinha como a do Alvorada, onde se possa matar a fome simplesmente abrindo a geladeira.
O pior tipo de cego é o mandatário que não consegue ouvir as lamúrias da fila do osso, os queixumes à beira das caçambas de lixo dos supermercados e restaurantes.