quarta-feira, 28 de setembro de 2022

A MALDITA POLARIZAÇÃO (QUARTA PARTE)

A primeira coisa que alguém deve fazer quando cai num buraco é parar de cavar. A segunda é tentar alcançar a borda. A campanha de Bolsonaro à reeleição caiu num buraco, mas o presidente continua cavando. Se passar para o segundo turno, será o candidato favorito a eleger seu rival. Bolsonaro diz que acredita na pesquisa do "Datapovo" e que só não vencerá Lula no primeiro turno se houver fraude eleitoral. Reeleito, afirma, colocará um "ponto final" no "abuso" que existe em "outro Poder". 

A prudência e a conjuntura recomendam evitar discursos tóxicos e confrontos irracionais, mas aí Bolsonaro não seria o Bolsonaro que cria novas crises por não saber desfazer as crises que ele próprio criou.

Observação: Na sabatina da última segunda-feira, o "mito" voltou a criticar as pesquisas. "Vou esperar o resultado. Nas ruas, eu nunca vi […] um candidato que tem 45% das intenções de voto sem poder sair às ruas, sem poder se dirigir ao público. O que é democracia? É a vontade da população. A gente não está vendo a vontade da população expressa nos institutos de pesquisas, em especial o Datafolha, e muito menos dentro do TSE". Disse que é alvo de uma "perseguição política" por parte da Justiça Eleitoral e se queixou das decisões que o proibiram de usar suas lives semanais para promover a própria candidatura e de incluir imagens dos atos do 7 de Setembro em peças de campanha. Até quando, Catalina... ?


Lula não compareceu ao debate do último sábado. "Um favorito não deve correr riscos desnecessários na reta final", disseram os responsáveis pela campanha do ex-presidiário. Mas quem deseja seduzir o eleitorado dos outros deveria se submeter ao contraditório para provar que a troca antecipada da preferência pela exclusão vale a pena. Deixar o gol vazio, pressupondo que o adversário chute todas as bolas para fora, é no mínimo temerário. Sobretudo quando Ciro e Simone estão em campo para aproveitar os rebotes.


Na reta final rumo ou primeiro turno, os mais otimistas acham que os intolerantes políticos são perigosos, mas o direito ao otimismo foi revogado num país em que o presidente faz da distribuição de armas um projeto social e expõe em comício o plano de "extirpar" opositores. 


Observação: Bolsonaro disse que vai participar do debate marcado para amanhã. Em conversa com apoiadores, criticou a ausência de Lula no último sábado. "Ele vai na Globo agora porque lá é a terra dele, né? [...] Ele vai porque lá é terreno amigo. Eu vou entrar na sala do capeta lá, né?”. Não me lembro de uma campanha presidencial com um nível tão baixo quanto a deste ano. Mas seria de esperar o que, considerando quem serão os prováveis adversários no segundo turno?


Se Bolsonaro não fosse um conto do vigário, haveria na Planalto um personagem que valoriza Deus, pátria, família e liberdade. Nesse caso, ninguém seria cínico o bastante para lutar pela vida em gestação e, simultaneamente, tramar a morte de vivos incômodos. O governo não cobraria patriotismo antes de melhorar a pátria. A família presidencial não seria uma pessoa jurídica do ramo imobiliário. E ninguém cometeria crimes em nome da liberdade.

 

O Brasil tem saudades do tempo em que a liberdade era o direito de fazer tudo o que as leis não proibissem.


Com Josias de Souza