segunda-feira, 17 de outubro de 2022

A VERDADE ESTÁ LÁ FORA (DÉCIMA PARTE)

VIVER É DESENHAR SEM BORRACHA.

Cerca de 30 séculos antes da era Cristã, os babilônios já esquadrinhavam os céus em busca de "sinais divinos". No final do século XIX, Olavo Bilac, em sua coleção de sonetos Via Láctea, comparou nossa galáxia a um "pálio aberto" — o que fazia mais sentido naquela época; hoje, a poluição atmosférica e as luzes das cidades só permitem visualizar uma parcela ínfima das cerca de 6.000 estrelas visíveis a olho nu.


Observação: A menos que o observador vá ao deserto de Atacama ou ao Nepal, por exemplo. Ainda assim, o que se avista é mísero grão de areia na praia do Universo, considerando que existem entre 200 bilhões e 400 bilhões de estrelas na Via Láctea.
 

Os telescópios espaciais Hubble e James Webb proporcionaram um formidável salto no conhecimento, mas o LUVOIR tem potência de captura dezenas de vezes superior à do Hubble e capacidade de "enxergar" em luz ultravioleta (além do infravermelho). Espera-se que ele possa identificar bioassinaturas (sinais de vida) nos exoplanetas que examinar. Mas vale destacar que, quando se fala em vida extraterrestre, não se trata de homenzinhos verdes, com olhos gigantes e pontas dos dedos brilhantes, e sim um elo entre a vida como a conhecemos e a parte química que corresponde a sua "composição fundamental". 
 
O cosmo inteiro foi construído com os mesmo "tijolos" — átomos de hidrogênio que se acumularam até formar estrelas, e estas, ao explodir, produziram novos elementos. Apesar da diversidade dos planetas que compõem nosso sistema solar, seus vulcões, oceanos e planícies são compostos pelos mesmos materiais formaram nosso planeta. Mas na Terra, por alguma razão que os cientistas ainda não conseguiram explicar, a combinação de elementos inertes deu origem a bactérias, protozoários e organismos mais complexos, que, mais adiante, evoluíram para plantas e animais.
 
Em 1996, a NASA afirmou ter encontrado micróbios fossilizados em uma rocha marciana encontrada na Antártida em 1984. Em Europa (uma das 79 luas de Júpiter) foram identificados rastros de enxofre — que alguns cientistas atribuíram à atividade biológica. Tanto Vênus como Marte foram mais habitáveis em suas origens, com oceanos que cobriam sua superfície, quando então a vida poderia ter surgido (como surgiu na Terra). Mais adiante, o efeito estufa transformou Vênus num inferno, e Marte perdeu atmosfera.
 
Observação: Um estudo publicado pela revista científica PNAS aponta que casulos de vida poderiam potencialmente existir nas nuvens corrosivas de Vênus, já que pequenas quantidades de amônia podem se dissolver nas gotículas de ácido sulfúrico, fazendo com que as gotas de líquido virem uma pasta com um pH que a vida pode tolerar. Um processo semelhante acontece em certos lugares da Terra — e até mesmo em nosso estômago —, onde a amônia neutraliza a acidez do ambiente para torná-lo menos inóspito. Ainda que nenhuma forma de vida conhecida poderia sobreviver nas tais gotículas, isso não anula a possibilidade de alguma forma desconhecida modificar o ambiente para torná-lo habitável — há, inclusive, indícios de fosfina na atmosfera venusiana, o que pode sugerir vida biológica, mas é preciso esperar por novos estudos para esclarecer essas e outras incógnitas.
 
Alguns pesquisadores sugerem que, em Marte, os micróbios teriam se retirado ao subsolo, mas a maioria aposta suas fichas em diversos exoplanetas descobertos nos últimos anos. Ainda não foram encontrados sinais inequívocos de atividade biológica nesses mundos, e como eles ficam a anos-luz da Terra (um ano-luz corresponde a cerca de 9,5 trilhões de quilômetros) conferir isso in loco exige tecnologias que ainda não conseguiremos desenvolver.
 
A existência de metano na atmosfera pode ser um sinal de que o planeta suporta vida. Pesquisadores identificaram um pequeno planeta rochoso, orbitando uma estrela semelhante ao nosso Sol, onde o metano atmosférico pode ser uma bioassinatura, mas isso é apenas uma peça do quebra-cabeça: para determinar se há vida em um planeta, é preciso considerar sua geoquímica, sua interação com a estrela que ele orbita e os muitos processos capazes de afetar sua atmosfera em escalas de tempo geológicas. 

Continua...