Ao enviar a disputa presidencial para o segundo turno, a récua de muares (leia-se "eleitorado") ofereceu aos candidatos a oportunidade de colocar a campanha na vida real. Bolsonaro iniciou o feriado de 12 de outubro inaugurando em Belo Horizonte um templo do apóstolo condenado Valdemiro Santiago — que abomina o culto a imagens católicas — e, horas depois, cultuou a imagem da Padroeira do Brasil no Santuário Nacional de Aparecida (e ouviu o que não queria do arcebispo). Alguém deveria lembrar o presidente de que não está em disputa uma vaga de pastor evangélico ou uma matrícula num seminário para a formação de padres, mas o governo federal.
Já o dublê de ex-presidente e ex-presidiário que lidera as pesquisas se furta a divulgar seu programa de governo porque, segundo ele, todos sabem o que ele fez nos mandatos anteriores. O que sabemos sobre os vomitativos governos petistas não é necessariamente o que o pajé do PT e sua quadrilha gostariam que soubéssemos. Mas Ivan Lessa nos ensinou que a memória do brasileiro não vai além dos últimos 15 anos.
Na propaganda de rádio e TV, nhô-ruim e nhô pior demonizam um ao outro, a exemplo de suas torcidas organizadas: para bolsonarismo, Lula é bem votado nos presídios; para a patuleia, Bolsonaro é apoiado por bandidos. Os dois ainda se enfrentarão em pelo menos dois debates. Todo mundo ganharia se eles expusessem ideias para o país.
Ainda que as muralhas de Jericó se reergam, o Mar Vermelho volte a se partir em dois ou algum outro cataclismo de inspiração sobrenatural desabe sobre a Terra, a espiritualização do debate eleitoral continuará sendo uma questão de relevância menor para o contribuinte, que vê o suado dinheiro dos impostos descer pelo ladrão do orçamento secreto.
Faltando duas semanas para o vomitório final, nem Deus sabe como reagir à cruzada da insensatez. Ele poderia mandar um segundo dilúvio, mas a primeira tentativa deu com os burros n'água quando Noé permitiu que um casal de ratos adentrasse a arca.
Triste Brasil.
Com Josias de Souza