sábado, 15 de outubro de 2022

BRASIL - UM PAÍS DE TOLOS


Políticos demagogos e corruptos que ocupam cargos eletivos não brotam nos gabinetes por geração espontânea; se estão lá, é porque foram votados. Mas esperar o que de um eleitorado que insiste no erro, eleição após eleição, como se esperasse, com isso, produzir um acerto?

Pode-se atribuir ao Criador a culpa por esse descalabro e dizer que um povo que eterniza imprestáveis no poder tem o governo que merece. Mas a questão é: foi para isso que lutamos pelas “Diretas Já”?
 
Vivemos num país surreal. Nossa independência foi comprada. A Proclamação da República foi um golpe militar (o primeiro de uma série). O voto é um "direito obrigatório". Em 132 anos de história republicana, 38 presidentes chegaram ao poder pela via do voto popular, eleição indireta, linha sucessória ou golpe de Estado. Desses, oito — a começar por Deodoro da Fonseca — deixaram o cargo prematuramente. Dois dos cinco que foram eleitos pelo voto direto desde a redemocratização acabaram impichados — não fosse a conivência de Rodrigo Maia e cumplicidade de Arthur Lira, o atual também faria parte dessa lista.

Nossa democracia lembra aquelas fotos antigas de reis africanos que imitavam os trajes, trejeitos e enfeites dos governantes de nações mais evoluídas, mas não aprendiam suas virtudes. O Brasil, na fotografia, aparece como uma democracia de Primeiro Mundo, mas a realidade do dia a dia mostra pouco mais que uma cópia barata e malsucedida do artigo legítimo. 

Temos uma Constituição, eleições a cada dois anos e uma Câmara de Deputados. Temos, imaginem só, um Senado e até um presidente do Senado. Temos um Supremo Tribunal Federal, onde os juízes se chamam ministros, usam togas pretas como os reis africanos usavam cartolas, e escrevem (às vezes até uma frase inteira) em latim. 
 
Temos partidos políticos. Temos procuradores gerais, parciais, federais, estaduais, municipais, especializados em acidentes do trabalho, patrimônio histórico, meio ambiente, infância, urbanismo e praticamente todas as demais áreas da atividade humana. Temos uma Justiça Eleitoral. Temos centenas de direitos legais, inclusive ao lazer, à moradia e ao amparo, se formos desamparados. Não falta nada — a não ser a democracia.
 
Em matéria de democracia, o Brasil ficou só na foto. As eleições são subordinadas a todo tipo de patifaria, a começar pelo voto obrigatório, seguido do horário eleitoral "gratuito" no rádio e na televisão e de deformações propositais que entopem a Câmara Federal com políticos das regiões que têm menor número de eleitores. Os resultados são um monumento à demagogia, à corrupção e à estupidez. 
 
Tivemos um ex-presidente condenado a mais de 26 anos de cadeia. Só que ele cumpriu 580 de pena, foi convertido a "ex-corrupto" e reinserido no jogo da sucessão presidencial. É o primeiro colocado nas pesquisas de intenções de voto. 

Dos 513 deputados e 81 senadores, cerca de 40% respondem a algum tipo de procedimento penal — fora das penitenciárias, é a maior concentração de criminosos em potencial por metro quadrado que existe no território nacional.
 
O eleitorado, em sua maioria, é ignorante, desinformado e desinteressado. A Justiça Eleitoral, que existe para dar ao país eleições exemplares, permite a produção dos políticos mais ladrões do mundo. Temos três dúzias de partidos políticos, mas alguns não têm um único deputado ou senador no Congresso. A maioria foi criada apenas para meter a mão nas verbas de um “fundo partidário” bancado pelos contribuintes e distribuídos aos políticos, e pôr à venda, nos anos em que há eleições, a cota de tempo no horário eleitoral obrigatório. 
 
Os direitos dos cidadãos representam a área mais notável das semelhanças entre a democracia brasileira e os reis africanos que aparecem nas fotos-símbolo do colonialismo. Nunca houve tantos direitos escritos nas leis nem o poder público foi tão incompetente para mantê-los. Há uma recusa sistemática em combater o crime por parte de nove entre dez políticos com algum peso. Pode passar pela cabeça de alguém que exista democracia num país como esse?
 
Costuma-se dizer que as instituições estão funcionando no Brasil. Se funcionassem, a Câmara já teria aberto um processo de impeachment contra o mandatário de turno. O presidente da Câmara engavetou quase 150 pedidos, e o procurador-geral se fingiu de morto diante de uma centena de denúncias por crimes comuns. Enquanto isso, o Centrão transformou a ocupação do Orçamento federal num processo de bolsonarização das instituições.
 
Não fosse a "disfuncionalidade" das instituições, o morubixaba de fancaria já teria sido responsabilizado por transformar a usina de confusões do Planalto no único empreendimento que funciona a pleno vapor no governo: seu projeto de reeleição. 
 
Triste Brasil.