Na última terça-feira, o Brasil celebrou o 133º aniversário da Proclamação da República. Em 1889, o marechal Deodoro da Fonseca se juntou a líderes republicanos para depor o mais recente gabinete nomeado pelo imperador D. Pedro II, que foi igualmente defenestrado (e exilado).
Deodoro era autoridade máxima do Exército. Morava perto do QG. Montou em seu cavalo e dirigiu-se ao quartel-geral. Os portões estavam fechados. Ele deu um grito do alto da montaria. Na versão mais polida, os livros informam que berrou "abram isso!". Na versão menos refinada, o marechal bradou "abram esta merda!".
A história dá a cada país as frases que ele merece. Na frase de Deodoro, "isso" .—ou "esta merda"— não era apenas o QG do Exército. Era o próprio regime. O império foi, por assim dizer, devassado. Estava proclamada a República. Decorridos 133 anos, a história tem o mau gosto de se repetir — só que com os sinais trocados.
Neste feriado, houve um protesto bolsonarista no centro do Rio de Janeiro. Deu-se em frente ao antigo quartel-general do Império, hoje Palácio Duque de Caxias, sede do Comando Militar do Leste. Em vez do marechal Deodoro em seu cavalo, ocuparam a cena cerca de 30 bolsonaristas em seus caminhões. Trancaram a Avenida Presidente Vargas.
Simultaneamente, ecoando o bolsonarismo que acampa na frente de prédios do Exército ao redor do país, inclusive no QG de Brasília, os manifestantes cariocas clamaram por uma intervenção militar. É como se gritassem: "Abram esta merda!". A diferença é que não querem depor, mas coroar um imperador.
O bolsonarismo deseja que as Forças Armadas desproclamem a República e declarem Bolsonaro II novo imperador do Brasil, impedindo a posse de Lula III. Trancado no Palácio da Alvorada, o mito assiste à movimentação dos seus devotos em silêncio, sonhando com o instante em que a hipótese vai virar uma lenda bolsonarista.
Com Josias de Souza
Deodoro era autoridade máxima do Exército. Morava perto do QG. Montou em seu cavalo e dirigiu-se ao quartel-geral. Os portões estavam fechados. Ele deu um grito do alto da montaria. Na versão mais polida, os livros informam que berrou "abram isso!". Na versão menos refinada, o marechal bradou "abram esta merda!".
A história dá a cada país as frases que ele merece. Na frase de Deodoro, "isso" .—ou "esta merda"— não era apenas o QG do Exército. Era o próprio regime. O império foi, por assim dizer, devassado. Estava proclamada a República. Decorridos 133 anos, a história tem o mau gosto de se repetir — só que com os sinais trocados.
Neste feriado, houve um protesto bolsonarista no centro do Rio de Janeiro. Deu-se em frente ao antigo quartel-general do Império, hoje Palácio Duque de Caxias, sede do Comando Militar do Leste. Em vez do marechal Deodoro em seu cavalo, ocuparam a cena cerca de 30 bolsonaristas em seus caminhões. Trancaram a Avenida Presidente Vargas.
Simultaneamente, ecoando o bolsonarismo que acampa na frente de prédios do Exército ao redor do país, inclusive no QG de Brasília, os manifestantes cariocas clamaram por uma intervenção militar. É como se gritassem: "Abram esta merda!". A diferença é que não querem depor, mas coroar um imperador.
O bolsonarismo deseja que as Forças Armadas desproclamem a República e declarem Bolsonaro II novo imperador do Brasil, impedindo a posse de Lula III. Trancado no Palácio da Alvorada, o mito assiste à movimentação dos seus devotos em silêncio, sonhando com o instante em que a hipótese vai virar uma lenda bolsonarista.
Com Josias de Souza