A dicotomia semeada por Lula, regada pelos tucanos e estrumada por Bolsonaro transformou a eleição presidencial de 2022 numa reedição piorada do pleito de 2018. Derrotado nas urnas, o "mito" dos descerebrados se fechou em copas. Na tarde do dia 1º, ele tartamudeou meia dúzia de palavras e voltou a se encastelar no Alvorada. Se os brasileiros tivessem vergonha na cara, esse senhor já teria sido demitido por abandono de emprego.
Bolsonaro reapareceu no Planalto posteriormente, mas apenas para uma conversa de meia hora com o seu ex-ministro e ora senador eleito Rogério Marinho. É difícil dizer se o "recolhimento" foi um processo de assimilação da derrota ou uma estratégia, mas ficou evidente que o presidente foi derrotado por sua abominável obra, com destaque para o modo como ele tratou a pandemia e as declarações absurdas que fez ao longo de sua gestão — um vergonhoso projeto de reeleição.
O dublê de mau militar e parlamentar medíocre que elegemos para não amargar a volta do PT conseguiu ser o pior presidente que o Brasil amargou desde a redemocratização, e o primeiro da Nova República que terminou o mandato sem conseguir se reeleger. E os piquetes de caminhoneiros não foram a única reação ao resultado das urnas.
Desde a derrota de seu amado líder, bolsonaristas mantêm acampamentos em frente de quartéis em diversas cidades — trazendo à lembrança o acampamento de petistas nos arredores da Superintendência da PF em Curitiba, que davam bom-dia ao então presidiário Lula. O STF instaurou um inquérito para investigar a organização e a estrutura desses acampamentos, e já surgiram indícios de uma “organização piramidal” por trás disso. Inúmeros vídeos que circulam na Web exibem superestrutura e fartura — como peças de carne para churrascos, tendas armadas abrigar os manifestantes do sol e da chuva, gerador de eletricidade e banheiros químicos nos acampamentos bolsonaristas.
Um dos traços do bolsonarismo nazifascista é o uso a violência como ferramenta política. Durante a campanha, Roberto Jefferson descumpriu uma ordem de prisão e atirou em agentes da PF. Seis dias depois, a deputada Carla Zambelli avançou de arma em punho contra um eleitor petista. No último dia 7, manifestantes que bloqueavam uma rodovia no Pará atacaram com paus pedras e até tiros os agentes da PRF. No mesmo dia, bolsonaristas atacaram policiais rodoviários com barras de ferro e cadeiras plásticas em Santa Catarina.
Os jogos da Copa do Mundo devem contribuir para esvaziar as manifestações, mas a posse de vocês sabem quem, em 1º de janeiro de 2023, será um "momento sensível". Como revelou O Antagonista na semana passada, um novo pedido de impugnação da candidatura do petista (devido às acusações na Lava-Jato) deve ser protocolado no TSE. Aliados mais sensatos, no entanto, dizem que está na hora de aceitar o resultado e deixar o país seguir seu rumo.
Será divertido observar a gritaria dos sócios arrastados para dentro da encrenca criada por Valdemar, anotou Josias de Souza em sua coluna. Mas a diversão seria maior (e mais justa) se o CNPJ das legendas fosse trocado pelo CPF dos seus dirigentes, incluindo o de Bolsonaro.