segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

 SE TIRAREM O NOSSO, A GENTE TIRA O DELES

 

Pupilo de Eduardo Cunha e graduado com louvor em esmagar o governo até arrancar o que deseja, Arthur Lira encurralou Bolsonaro e se transformou num arremedo de primeiro-ministro. Dias atrás, o nobre presidente da Câmara apresentou ao futuro mandatário seu cartão de visita.
 
Para manter o Bolsa Família em R$ 600 e reajustar o salário-mínimo acima da inflação, Lula precisa abrir espaço no orçamento e depende de uma emenda à Constituição que flexibilize o teto de gastos. A PEC da Transição foi aprovada com folga no Senado, mas, ao chegar à Câmara, foi barrada por Lira, que apresentou uma extensa lista de exigências. 
 
Depois de fazer campanha pela reeleição de Bolsonaro, o parlamentar alagoano quer abocanhar cargos de peso no governo petista. Como ainda não houve acordo, a votação da PEC foi adiada, e o impasse travou a definição dos futuros ocupantes da Esplanada.
 
Lira já deixou claro que seu sonho de consumo é o Ministério da Saúde, palco de desmandos e malfeitorias no atual governo. Depois de sobreviver a figuras como Eduardo Pazuello e Marcelo Queiroga, a pasta estava reservada para Nísia Trindade, a respeitada presidente da Fiocruz. A escolha deveria ter sido oficializada na última terça-feira, mas a pressão do presidente da Câmara convenceu Lula a suspender o anúncio (um eventual recuo seria desmoralizante para o petista, que, durante a campanha, criticou a má gestão da Saúde sob Bolsonaro e, uma vez eleito, abrisse mão de uma indicação técnica para acomodar um apadrinhado do Centrão). 
 
Além de encostar a faca no pescoço do novo governo, o Centrão quer forçar o STF a liberar o orçamento secreto. O deputado Elmar Nascimento já prometeu cortar verbas do Judiciário se o mecanismo for declarado inconstitucional. "Se tirar o nosso, a gente tira o deles", avisou. 
 
Lira escolheu o autor da ameaça para relatar a PEC da Transição. Cunha deve estar orgulhoso do pupilo.
 
Com Bernardo Mello Franco