Após a derrota nas urnas, Bolsonaro desapareceu da vida pública. Embora continue recebendo um polpudo salário para presidir o Brasil até 31 de dezembro, ele vem reaparecendo na imprensa somente quando o assunto é o golpismo e o terrorismo perpetrados por seus seguidores, fomentados por seu aliados e que contam com a chancela do seu silêncio.
O "mito" nunca foi exatamente um governante stricto senso. Tudo que fez nos quatro anos de mandato visava propiciar sua reeleição. Mas, desde o segundo turno, parou de dar declarações, mesmo toscas, absurdas ou sem sentido, sobre os interesses nacionais, simplesmente porque abandonou a gestão.
Neste momento, o capitão está mais preocupado em garantir a manutenção de sua influência sobre os seus seguidores mais radicais, buscar formas de atrapalhar a gestão de seu sucessor (que Deus nos ajude!) e encontrar maneiras de não ser preso após deixar o poder por qualquer uma das razões elencadas na imensa capivara que redigiu para si mesmo.
O nome do ainda presidente reaparece nas manchetes somente quando o assunto são os atos golpistas executados por apoiadores que acampam nas portas de quartéis ou bloqueiam rodovias. E, agora, também com as ações terroristas — como as dos bolsonaristas que tentaram invadir a sede da PF, jogaram paus e pedras em agentes de segurança, deixaram carros e ônibus incendiados e espalharam o pânico entre a população de Brasília na noite da última segunda-feira.
Apesar de a própria polícia apontar que sectários do Messias estavam por trás dos ataques e de vídeos deixarem claro que eles se orgulhavam de seus atos, aliados do presidente tentam emplacar a narrativa ridícula de que foram infiltrados de esquerda que proporcionaram as cenas de barbárie. As provas que eles dizem ter de tais infiltrados têm a mesma credibilidade daquelas com as quais acusaram as urnas eletrônicas de fraude. Provas que têm como origem "vozes da própria cabeça". Que servem para enganar os próprios bolsonaristas, mas não passam no psicotécnico. Até porque figuras como Roberto Jefferson e Carla Zambelli mostraram o caminho de como usar a violência para impor seu ponto de vista eleitoral.
Observação: Os verdadeiros infiltrados são aqueles que deixam de atuar pela prisão de vândalos, enquanto essa narrativa de que os ataques foram cometidos por infiltrados em manifestações pacífica prospera. Por que ainda não temos os nomes daqueles que fizeram tudo isso? Estamos falando do Distrito Federal, governado por Ibaneis Rocha. Vimos que o Ministro da Justiça, Anderson Torres, estava jantando tranquilamente e só depois foi às redes sociais para dizer que a situação estava sendo controlada. É lamentável que não tenha havido uma ação da polícia para prender aqueles que estavam depredando patrimônio público e privado. Não importa se é de direita ou se é de esquerda, quem faz isso é criminoso.
Mais cedo ou mais tarde, Bolsonaro deve defender ele próprio essa tese absurda, porque é isso o que ele faz. Enquanto isso, a falta de repúdio a atos, representada por seu silêncio, é um claro sinal de apoio às ações terroristas — que merece tal alcunha e difere de outros protestos violentos por ser um ataque ao Estado democrático de direito e ter como objetivo final um golpe de Estado.
O ainda mandatário se satisfaz com o que está acontecendo e certamente gostaria de ver essas cenas se repetirem em São Paulo, no Rio, em Manaus, Florianópolis, Recife... Não bastasse deixar as contas públicas do país em caos no final do governo, Bolsonaro quer o caos nas ruas para que Lula assuma um país em ruínas e ele possa gargalhar sobre os escombros.
Com Leonardo Sakamoto e Felipe Moura Brasil