Dudu Bananinha foi ao Catar com um pendrive na mão e uma ideia na cabeça. Vendo que o passeio pegou mal, o rebento número três do abantesma do Planalto resolveu aparecer em público para se autoincriminar.
Como resumiu Josias de Freitas em sua coluna no UOL, “se formos levar Eduardo Bolsonaro a sério, seria necessário que uma autoridade judiciária expedisse um mandado para aguardar o deputado no seu desembarque no Brasil para prendê-lo em flagrante, porque ele está patrocinando uma conspiração internacional contra a democracia brasileira”.
Só quem acredita em terra plana, na inocência de Lula e em fraude nas urnas engole a conversa de que o regabofe do filho do capitão foi ao Oriente Médio movido por fins patrióticos, e que o espírito golpista está guardado a salvo, como um gênio da lâmpada, em um pendrive na bagagem.
Acreditar que a Terra é plana, que as urnas foram fraudadas e que Lula não subirá a rampa é um direito de cada um. Noutros tempos, a Inquisição romana queimava os que aceitavam as ideias de Copérnico, para quem a Terra girava em torno do Sol. E se Bolsonaro ainda não aceitou nem Darwin, que dirá as urnas. Mas o final de semana ganharia novo sentido se os golpistas se entregassem a um passatempo. A coisa começa com uma pergunta singela: "E se...?"
E se Bolsonaro tivesse vencido as eleições, como estariam as coisas? E se Lula acusasse o TSE de fraude antes de se trancar numa cobertura em São Bernardo? E se o petismo deflagrasse nas redes sociais uma cruzada pela virada de mesa? E se os "comunistas" trancassem rodovias e cercassem os quarteis para pedir a deposição do "patriota"?
Mal comparando, o bolsonarismo injeta em sua receita de pudim métodos que fizeram do antipetismo a força política que empurrou Bolsonaro para o Planalto em 2018. Lula jamais questionou o resultado das eleições que perdeu. Condenado, submeteu-se às determinações judiciais. Ele nunca hesitou em atiçar seus radicais para botar medo nos adversários, mas essa tática perdeu a validade em 2015, quando a classe média desceu ao asfalto para pedir a deposição de Dilma.
Lula defendeu a permanência de sua pupila no Planalto com a língua em riste. Disse ser um defensor da paz e da democracia. Mas acrescentou: "Também sabemos brigar, sobretudo quando o Stedile colocar o exército dele nas ruas". Vagner Freitas, então presidente da CUT, fez eco: "Se esse golpe passar, não haverá mais paz no país". Aprovado o impeachment, Dilma chamou o caminhão de mudança. Em paz. Quando foi condenado em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro, Lula afirmou que não tinha "razão para respeitar" o veredicto. Teve que respeitar. Cancelou viagem que faria à Etiópia. Entregou o passaporte às autoridades.
João Pedro Stedile, o hierarca do MST, soou ameaçador: "Aqui vai o recado para a dona Polícia Federal e para a Justiça: não pensem que vocês mandam no país. Nós, dos movimentos populares, não aceitaremos de forma nenhuma que o nosso companheiro Lula seja preso". Em São Paulo, brasileiros sem teto bloquearam com pneus incendiados a via Dutra e a marginal Pinheiros. Com a autoridade de presidente do PT, Gleisi Hoffmann riscava o fósforo: "Para prender o Lula, vai ter que prender muita gente. Mais do que isso, vai ter que matar gente. Aí, vai ter que matar."
Quando teve a prisão decretada, Lula refugiou-se no bunker do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Antes de se entregar à Polícia Federal, fez um comício. Disse à multidão: "Eles têm que saber que vocês são até mais inteligentes do que eu. E poderão queimar os pneus que vocês tanto queimam, fazer as passeatas que tanto vocês queiram, fazer ocupações no campo e na cidade..." A revolta social revelou-se uma ficção.
Retorne-se, por oportuno, às interrogações do passatempo de domingo. E se Bolsonaro tivesse vencido as eleições? Bem, nessa hipótese, o capitão consolidaria seu projeto de transformar o Brasil numa autocracia mequetrefe. E se o petismo se insurgisse contra o resultado? Bolsonaro cobraria do desafeto Xandão a reafirmação da segurança do sistema eleitoral que sempre questionou. E se a turma da CUT, do MST e do MTST trancasse rodovias e acampasse nas imediações de prédios militares? Bolsonaro não hesitaria em acionar as forças de segurança, inclusive as próprias Forças Armadas, se necessário.
Nos últimos quatro anos, nenhum outro empreendimento prosperou tanto no Brasil quanto na fábrica de crises que Bolsonaro instalou no Planalto. Exilado no interior de sua mediocridade desde que foi derrotado, o pior presidente da história revela-se incapaz de desfazer suas crises. Pior: imagina que pode resolver uma crise criando outras.
Bolsonaro revelou-se um presidente mágico. Especializou-se em retirar gambás de dentro da cartola. Reduziu a própria estatura na frente das crianças. Trancado no Alvorada, prepara um gran finale. Ensaia o sumiço da cerimônia de posse.
Bolsonaro se tornou uma diminuta criatura. O hipotético prestígio que lhe foi conferido pelos 58 milhões de votos amealhados no segundo turno logo caberá numa caixa de fósforos.
Com Josias de Souza
Acreditar que a Terra é plana, que as urnas foram fraudadas e que Lula não subirá a rampa é um direito de cada um. Noutros tempos, a Inquisição romana queimava os que aceitavam as ideias de Copérnico, para quem a Terra girava em torno do Sol. E se Bolsonaro ainda não aceitou nem Darwin, que dirá as urnas. Mas o final de semana ganharia novo sentido se os golpistas se entregassem a um passatempo. A coisa começa com uma pergunta singela: "E se...?"
E se Bolsonaro tivesse vencido as eleições, como estariam as coisas? E se Lula acusasse o TSE de fraude antes de se trancar numa cobertura em São Bernardo? E se o petismo deflagrasse nas redes sociais uma cruzada pela virada de mesa? E se os "comunistas" trancassem rodovias e cercassem os quarteis para pedir a deposição do "patriota"?
Mal comparando, o bolsonarismo injeta em sua receita de pudim métodos que fizeram do antipetismo a força política que empurrou Bolsonaro para o Planalto em 2018. Lula jamais questionou o resultado das eleições que perdeu. Condenado, submeteu-se às determinações judiciais. Ele nunca hesitou em atiçar seus radicais para botar medo nos adversários, mas essa tática perdeu a validade em 2015, quando a classe média desceu ao asfalto para pedir a deposição de Dilma.
Lula defendeu a permanência de sua pupila no Planalto com a língua em riste. Disse ser um defensor da paz e da democracia. Mas acrescentou: "Também sabemos brigar, sobretudo quando o Stedile colocar o exército dele nas ruas". Vagner Freitas, então presidente da CUT, fez eco: "Se esse golpe passar, não haverá mais paz no país". Aprovado o impeachment, Dilma chamou o caminhão de mudança. Em paz. Quando foi condenado em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro, Lula afirmou que não tinha "razão para respeitar" o veredicto. Teve que respeitar. Cancelou viagem que faria à Etiópia. Entregou o passaporte às autoridades.
João Pedro Stedile, o hierarca do MST, soou ameaçador: "Aqui vai o recado para a dona Polícia Federal e para a Justiça: não pensem que vocês mandam no país. Nós, dos movimentos populares, não aceitaremos de forma nenhuma que o nosso companheiro Lula seja preso". Em São Paulo, brasileiros sem teto bloquearam com pneus incendiados a via Dutra e a marginal Pinheiros. Com a autoridade de presidente do PT, Gleisi Hoffmann riscava o fósforo: "Para prender o Lula, vai ter que prender muita gente. Mais do que isso, vai ter que matar gente. Aí, vai ter que matar."
Quando teve a prisão decretada, Lula refugiou-se no bunker do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Antes de se entregar à Polícia Federal, fez um comício. Disse à multidão: "Eles têm que saber que vocês são até mais inteligentes do que eu. E poderão queimar os pneus que vocês tanto queimam, fazer as passeatas que tanto vocês queiram, fazer ocupações no campo e na cidade..." A revolta social revelou-se uma ficção.
Retorne-se, por oportuno, às interrogações do passatempo de domingo. E se Bolsonaro tivesse vencido as eleições? Bem, nessa hipótese, o capitão consolidaria seu projeto de transformar o Brasil numa autocracia mequetrefe. E se o petismo se insurgisse contra o resultado? Bolsonaro cobraria do desafeto Xandão a reafirmação da segurança do sistema eleitoral que sempre questionou. E se a turma da CUT, do MST e do MTST trancasse rodovias e acampasse nas imediações de prédios militares? Bolsonaro não hesitaria em acionar as forças de segurança, inclusive as próprias Forças Armadas, se necessário.
Nos últimos quatro anos, nenhum outro empreendimento prosperou tanto no Brasil quanto na fábrica de crises que Bolsonaro instalou no Planalto. Exilado no interior de sua mediocridade desde que foi derrotado, o pior presidente da história revela-se incapaz de desfazer suas crises. Pior: imagina que pode resolver uma crise criando outras.
Bolsonaro revelou-se um presidente mágico. Especializou-se em retirar gambás de dentro da cartola. Reduziu a própria estatura na frente das crianças. Trancado no Alvorada, prepara um gran finale. Ensaia o sumiço da cerimônia de posse.
Bolsonaro se tornou uma diminuta criatura. O hipotético prestígio que lhe foi conferido pelos 58 milhões de votos amealhados no segundo turno logo caberá numa caixa de fósforos.
Com Josias de Souza