sexta-feira, 24 de março de 2023

O ONTEM, O HOJE E O AMANHÃ...


Caminha abriu os portões da corrupção ao instituir o nepotismo no Brasil. Entre inúmeros exemplos recentes, vale citar a tentativa de Bolsonaro de indicar o filho fritador de hambúrgueres para a embaixada do Brasil nos EUA. Mas, em termos de "falta de absolutamente", nada se compara à Lula, que deixou a prisão para disputar um inédito terceiro mandato presidencial e venceu Bolsonaro por 2,2 milhões de votos (a menor diferença da história desta banânia).
 
Passados cinco meses do "pleito encantado", visivelmente desgastado  e acometido de uma súbita pneumonia às vésperas de viajar à China com portentosa comitiva —, o petista tenta vender uma imagem de dinamismo que simplesmente não convence. Seus discursos rabugentos não trazem novidades, apenas repúdio aos pequenos avanços econômicos e sociais conquistados em outros governos. Além, é claro, de um sentimento de vingança contra opositores reais ou imaginários. 
 
Lula confessou publicamente que passou 580 hospedado na PF de Curitiba pensando apenas em se vingar de Sergio Moro. A sinceridade do pai da mentira lhe rendeu o terceiro pedido de impeachment em menos de três meses de governo (os dois primeiros foram protocolados no final de janeiro). Em entrevista à CNN, Moro disse que o presidente está se vingando dos brasileiros, que esperavam picanha e cerveja e ganharam mais impostos. 
 
Observação: Em 2003, Lula foi alvo de um único pedido de impeachment; nos sete anos seguintes, outros 36 foram apresentados, mas nenhum seguiu adiante. Collor e Dilma colecionarem, respectivamente, 29 e 68 pedidos, e acabaram defenestrados do Planalto. Itamar, FHC e Temer foram alvo de 4, 27 e 33, nenhum dos quais prosperou. Bolsonaro teve 60 pedidos engavetados por Rodrigo Maia mais de 100 por Arthur Lira, que ele ajudou a eleger com dinheiro do "orçamento secreto".
 
Acreditava-se que o principal atributo do período pós-Bolsonaro era a percepção de que nada seria como antes. Mas ela se desfez antes mesmo do fim da lua de mel: A caminho dos 100 dias de governo, Lula limita-se a reciclar programas de antigas gestões petistas. Na cerimônia de relançamento do Mais Médicos, fez um discurso em que, trocando em miúdos, atribuía a Bolsonaro sua dificuldade de transmitir uma simbologia contemporânea.

AtualizaçãoMario Sabino escreveu no Metrópoles que Lula enlouqueceu. Perguntado sobre a operação da PF que prendeu os integrantes do PCC que planejavam o atentado contra o ex-juiz Sergio Moro, a deputada federal Rosangela Moro e os filhos do casal, Lula afirmou o seguinte: "Eu não vou falar, porque acho que é mais uma armação do Moro, mas eu quero ser cauteloso. Eu vou descobrir o que aconteceu. [...]  Eu acho que é mais uma armação e, se for mais uma armação, ele vai ficar mais desmascarado ainda." (mais detalhes neste vídeo). De uma só tacada, o presidente lançou suspeita de crime sobre o Ministério Público de São Paulo, a Polícia Federal, uma juíza, o Ministério da Justiça do seu próprio governo (e o ministro), além de um senador. É um ataque à democracia da mesma qualidade dos de Jair Bolsonaro ao STF e TSE.
 
Segundo o Ipec, 41% dos brasileiros aprovam o início deste governo — percentual inferior ao de 2003 e de 2007, mas superior aos 34% que Bolsonaro obteve no início de 2019. No que me concerne, torço pelo sucesso deste governo, mas não vejo como acreditar nisso. Lula promete "fazer coisas novas", mas a ansiedade por produzir algo novo inspira desconfiança quanto a sua capacidade de reproduzir a responsabilidade fiscal, que serviu de alavanca para o êxito social durante sua primeira gestão: No mais, do vista político, seu terceiro mandato é feito de Centrão e continuidade. 
 
Lula parece cada vez mais igual a si mesmo. A boa avaliação que lhe foi atribuída na pesquisa Ipec não muda o fato de que 57% dos entrevistados manifestaram seu anseio por uma nova liderança, alguém capaz de livrar o país da polarização que marcou 2022. Curiosamente, os votos obtidos pela "terceira via" não chegaram a 10%, o que levou os candidatos alternativos a se juntar à "frente democrática" de Lula para evitar uma trágica reeleição de Bolsonaro
 
O alarme da popularidade ainda não soou porque a maioria dos brasileiros sabe que nada de mal acontece no Brasil de hoje que não seja esplêndido diante do que poderia acontecer caso Bolsonaro tivesse obtido a reeleição. Só que a sensação de alívio costuma ter prazo de validade.