sábado, 11 de março de 2023

O QUE COMEÇA MAL RARAMENTE TERMINA BEM


Para iludir os trouxas, Bolsonaro recheou a campanha de 2018 com promessas que não pretendia cumprir. Infelizmente, estelionato eleitoral não é crime neste país. E ainda que fosse, como esperar punição se um ex-presidente que colecionou 26 processos por corrupção e foi condenado em três instâncias  a mais de 25 anos de reclusão, deixa a prisão depois 580 dias, e descondenado, reabilitado politicamente e, pasmem, consegue um terceiro mandato? E o que esperar desse terceiro mandato se esse presidente criou mais 14 ministérios para acomodar um bando de abutres em troca de apoio político? 

Lula afirmou que Juscelino Filho não poderia ficar no governo se não conseguisse provar sua inocência, mas, mesmo com as denúncias de supostas irregularidades apontadas nos últimos dias, o ministro dos cavalos segue prestigiado pelo presidente. No último dia 7, ele postou em suas redes que "esclareceu as acusações infundadas feitas contra ele". 

Mantido à frente da pasta das Comunicações, Juscelino tende a virar uma referência ética do atual governo. Cada minuto de sobrevida dele na Esplanada renova a tolerância histórica dos governos (não só do atual, mas também dos anteriores) com toda sorte de malfeitorias. 
 
Além do uso do avião da FAB para ir a São Paulo — onde participou de uma série de eventos relativos ao mercado de cavalos —, Juscelino retirou diárias do bolso do contribuinte. Destinou R$ 5 milhões do orçamento secreto para asfaltar uma estrada de terra que passa em frente a oito fazendas de sua família. Ocultou da Justiça Eleitoral a fortuna que mantém em seu haras. E por aí segue a procissão.

Gleisi Hoffmann disse que o ministro deveria deixar o governo por conta própria, de modo a não constranger Lula. Em resposta, os líderes do UB na Câmara e no Senado afirmaram que a presidente do PT prega direito de defesa para petistas enrolados e prejulgamentos para não-companheiros. Apesar de ter indicado três nomes para o primeiro escalão, o partido se declara independente e está dividido sobre integrar a base aliada. 
 
Observação: Se um ministro executa movimentos desmoralizantes, ele é mandado embora. Se o presidente mantém o auxiliar no cargo, desmoraliza-se o governo. Se a desmoralização acontece antes dos primeiros 100 dias do governo, esculhambam-se os quatro anos de mandato.
 
Num mundo lógico, ou pelo menos mais simples, Juscelino não estaria no ministério: ele entende de manga-larga, não de Comunicações. Na vida real a história é diferente. Líderes da legenda no Congresso tratam a sobrevida do correligionário como pagamento por serviços prestados — o partido ajudou a aprovar a PEC da Transição. Não há o menor risco de um relacionamento como esse resultar em boa coisa.
 
Na operação de compra e venda firmada por Lula com o União Brasil, há muito "toma lá" e pouquíssimo "dá cá". O petista já havia comprado um terreno na Lua quando entregou três ministérios a um partido que se diz "independente". Ao manter o ministro manga larga na pasta das Comunicações pressupondo que ele garantirá a fidelidade de sua legenda no Legislativo, torna-se sócio de um haras em Saturno.
 
Com Josias de Souza