Como bem disse a jornalista Ruth de Aquino, "Escolas deveriam ensinar; alunos deveriam estudar; deputados e senadores deveriam trabalhar; vereadores NÃO deveriam aprovar sua própria aposentadoria; prefeitos e seus apaniguados NÃO deveriam rezar o Pai-Nosso e transformar Deus num correligionário ― como fez Crivella no Rio de Janeiro. Hospitais deveriam ter leitos, medicamentos, tomógrafos e ser centros de cura, não centros de humilhação. Policiais deveriam garantir a segurança, e não sair matando gente inocente. O desvio de função é que nos deixa sem teto e sem chão".
A obtusidade do eleitorado explica o fato de Lula e Bolsonaro terem disputado o segundo turno em 2018 e 2022, de Gleisi Hoffmann ter sido reeleita deputada federal pelo PR, de Damares Alves ter sido eleita senadora pelo DF, de Hamilton Mourão ter sido eleito senador pelo RS e de Eduardo Pazuello ter sido eleito deputado federal pelo RJ. Deu pra entender ou eu preciso desenhar?
A trajetória de Lula — de retirante nordestino a sindicalista, fundador de partido político, presidente da República, presidiário e novamente presidente — foi detalhada nesta sequência de postagens, e a de Bolsonaro — de mau militar a parlamentar medíocre e pior inquilino do Planalto desde a redemocratização — também foi contemplada neste humilde Blog. A evolução patrimonial do "coisa" e de seu clã merece mais algumas linhas, mas antes é preciso deixar claro que o presidente que se re-re-reelegeu prometendo ao eleitorado um terceiro mandato muito melhor que os dois anteriores não tem moral para criticar seu antecessor.
Lula virou um presidente atípico. O destino lhe proporcionou três posses. A primeira, quando subiu a rampa para receber a faixa de representantes da sociedade. A segunda, nas pegadas do 8 de janeiro, quando presidiu uma reunião que parecia impensável. Sentado ao lado dos chefes do Congresso e do Supremo, recebeu governadores e representantes de todos os estados, inclusive os de oposição. Tomado pelas palavras, ele parece decidido a converter a celebração dos 100 dias numa terceira posse. Mas o fantasma do extremismo político não foi inteiramente exorcizado; a consolidação do processo depende da extensão das punições.
Há grande expectativa em relação ao castigo a ser imposto a Bolsonaro nas searas eleitoral e criminal. Dá-se de barato que pelo menos a inelegibilidade já é fava contada, porém nenhuma redenção será completa se a nova gestão for um fiasco. O mau desempenho de Lula forneceria material para que um mito com pés de barro percorresse a conjuntura como cabo eleitoral de opções antidemocráticas.
O passado assombra Jair Bolsonaro e seu clã. No livro "O negócio do Jair - A história proibida do clã Bolsonaro" (Zahar, 2022), que consolida os esquemas conhecidos como "rachadinhas" para o enriquecimento do pater familia e dos filhos (que, segundo a autora, "são uma coisa só"), Juliana Dal Piva trás detalhes pra lá de interessantes sobre a ascensão (e queda?) dessa caterva abjeta.
Vale a pena conferir.