segunda-feira, 10 de abril de 2023

DE VOLTA AO NEGÓCIO DO JAIR

 

Não bastasse o número de alunos que concluem o ensino médio sem saber ler e escrever aumentar em progressão geométrica no Brasil, o Indicador de Analfabetismo Funcional (Inaf) dá conta de que 38% dos universitários são considerados analfabetos funcionais. Esse cenário desolador se deve (ao menos em parte) às escolas, onde professores despreparados, desmotivados e mal remunerados desviam o foco do português e da matemática para a doutrinação política, religiosa e de gênero. 
 
Como bem disse a jornalista Ruth de Aquino, "Escolas deveriam ensinar; alunos deveriam estudar; deputados e senadores deveriam trabalhar; vereadores NÃO deveriam aprovar sua própria aposentadoria; prefeitos e seus apaniguados NÃO deveriam rezar o Pai-Nosso e transformar Deus num correligionário ― como fez Crivella no Rio de Janeiro. Hospitais deveriam ter leitos, medicamentos, tomógrafos e ser centros de cura, não centros de humilhação. Policiais deveriam garantir a segurança, e não sair matando gente inocente. O desvio de função é que nos deixa sem teto e sem chão".
 
A obtusidade do eleitorado explica o fato de Lula e Bolsonaro terem disputado o segundo turno em 2018 e 2022, de Gleisi Hoffmann ter sido reeleita deputada federal pelo PR, de Damares Alves ter sido eleita senadora pelo DF, de Hamilton Mourão ter sido eleito senador pelo RS e de Eduardo Pazuello ter sido eleito deputado federal pelo RJ. Deu pra entender ou eu preciso desenhar?
 
A trajetória de Lula — de retirante nordestino a sindicalista, fundador de partido político, presidente da República, presidiário e novamente presidente — foi detalhada nesta sequência de postagens, e a de Bolsonaro 
 de mau militar a parlamentar medíocre e pior inquilino do Planalto desde a redemocratização — também foi contemplada neste humilde Blog. A evolução patrimonial do "coisa" e de seu clã merece mais algumas linhas, mas antes é preciso deixar claro que o presidente que se re-re-reelegeu prometendo ao eleitorado um terceiro mandato muito melhor que os dois anteriores não tem moral para criticar seu antecessor. 

Os primeiros 100 dias do atual governo foram um escárnio, mas Lula afirma estar "muito, mas muito, muito, muito satisfeito" com os resultados. Ao dizer que "não vai ficar mais falando das coisas que fez, mas, sim, no que vai fazer daqui para frente", o presidente de turno soa como uma caída em si, uma admissão de que o futuro do pretérito pode produzir desilusão no pedaço da sociedade que apostou no compromisso de que o que viria seria diferente de tudo o que já foi. A boa notícia é que ele dispõe de três anos e nove meses para entregar o terceiro mandato consagrador que prometeu, e a ótima notícia é que ele exibe disposição para o desafio. 

Lula virou um presidente atípico. O destino lhe proporcionou três posses. A primeira, quando subiu a rampa para receber a faixa de representantes da sociedade. A segunda, nas pegadas do 8 de janeiro, quando presidiu uma reunião que parecia impensável. Sentado ao lado dos chefes do Congresso e do Supremo, recebeu governadores e representantes de todos os estados, inclusive os de oposição. Tomado pelas palavras, ele parece decidido a converter a celebração dos 100 dias numa terceira posse. Mas o fantasma do extremismo político não foi inteiramente exorcizado; a consolidação do processo depende da extensão das punições. 


Há grande expectativa em relação ao castigo a ser imposto a Bolsonaro nas searas eleitoral e criminal. Dá-se de barato que pelo menos a inelegibilidade já é fava contada, porém nenhuma redenção será completa se a nova gestão for um fiasco. O mau desempenho de Lula forneceria material para que um mito com pés de barro percorresse a conjuntura como cabo eleitoral de opções antidemocráticas.


O passado assombra Jair Bolsonaro e seu clã. No livro "O negócio do Jair - A história proibida do clã Bolsonaro" (Zahar, 2022), que consolida os esquemas conhecidos como "rachadinhas" para o enriquecimento do pater familia e dos filhos (que, segundo a autora, "são uma coisa só"), Juliana Dal Piva trás detalhes pra lá de interessantes sobre a ascensão (e queda?) dessa caterva abjeta. 


Vale a pena conferir.