sábado, 29 de abril de 2023

LIRA LÁ

 

Lá longe, se Deus quiser. Enfim...

Em vez de cuidar do próprio quintal, Lula prefere meter o nariz onde não é chamado. De passagem por Portugal e pela Espanha, o petista aproveitou a ribalta internacional para reiterar seu estranho desejo de assumir um ilusório protagonismo numa hipotética negociação de paz entre Ucrânia e Rússia. De volta à rotina brasiliense, ele percebeu — ou deveria ter percebido — que seu governo tem um cessar-fogo mais urgente para negociar. 

Segundo os profetas mais delirantes, o xamã do PT não terminará seu terceiro mandato. Sorte de Geraldo e Lu Alckmin, que, dizem as más línguas, já mandaram passar a ferro os modelitos que vão usar na cerimônia de posse. Mas o ex-tucano se revelou um interino imperceptível durante a viagem do chefe à Europa, enquanto o todo poderoso Arthur Lira ocupou todos os vácuos, como se quisesse demonstrar que o Brasil enviou seu segundo time para a Europa e deixado o poder real em Brasília.

Incomodado por pressões do MST para desalojar um primo de uma poltrona da superintendência do Incra em Alagoas, o imperador da Câmara desengavetou uma CPI que visa esquadrinhar o líder do movimento no instante em que ele pendura nas manchetes seu Abril Vermelho. Quando soube que o Planalto tenciona reformular os decretos sobre saneamento e armas, puxou o ferio de mão. Para evitar que o governo transforme a CPMI do 8 de janeiro num picadeiro, plantou um preposto numa das poltronas e sinalizou que Lula terá problemas se colocar Renan Calheiros na outra cadeira.

Mudando de mosca, Jair Bolsonaro insultou a inteligência alheia mais uma vez ao dizer à PF que estava sob efeito de remédios quando postou o vídeo questionando a lisura da vitória de Lula. Até porque é sabido que seu filho Carlos é o guardião de suas senhas, e que foi ele quem publicou e apagou o vídeo, ainda que não a tempo de evitar a inclusão do pai no rol dos investigados no inquérito 4.921.

A pretexto de ter sido "tratado como um rato", Carluxo diz que vai abandonar o posto de porta-voz informal do capetão (dizem que por receio de ser responsabilizado pela crescente perda de engajamento dos bolsomínions). O anúncio, feito num lote de postagens encharcadas de ressentimento, só não é extraordinário porque Zero Dois não esclareceu quando seu "voluntariado" de "uma década" será de fato interrompido. "Muito em breve chegará o fim deste ciclo de vida", limitou-se a escrever. Melhor seria se percebesse que não convém deixar para amanhã o que pode ser deixado hoje, ironizou Josias de Souza.

 

Chefe do gabinete bolsonarista da maledicência, o vereador carioca derrubou ministros, pisou nos calos de Michelle, desqualificou aliados, fez troça de adversários, espicaçou instituições, incitou o preconceito e encorajou o golpismo. De tanto espalhar ressentimentos, acabou experimentando uma dose do próprio veneno. Expressando-se num idioma muito parecido com o português, insinuou que gente malvada lucra com o seu esforço patriótico. 

 

Tomado pela forma, Carluxo se "afasta" das redes sociais do pai fazendo pose de navio que abandona os ratos. Mas convém observar o suposto desembarque com olhos de São Tomé. O histórico do personagem estimula a descrença. O piti do pitbull, como o ex-inquilino do Planalto se refere ao rebento, pode ser mera tentativa de chamar a atenção do papai.


O ministro Alexandre de Moraes anotou em seu despacho que as fake news disseminadas por Bolsonaro pai comprovam que ele "se posicionou de forma criminosa e atentatória às instituições" e pode ter contribuído "de maneira muito relevante" para insuflar os atos golpistas. O ministro disse ainda que as "condutas" do capitão podem estar relacionadas com "intensas reações por meio das redes virtuais, pregando discursos de ódio e contrários às instituições, ao Estado de Direito e à democracia".
 
A julgar pelo passado recente desta banânia, com destaque para a descondenação de Lula, é impossível não sentir cheiro de pizza no ar.

Triste Brasil.