terça-feira, 25 de abril de 2023

MAIS SOBRE O ESQUELETO E AS ASSOMBRAÇÕES


Falta ao governo foco nos problemas urgentes e sobram confusões, desacertos e retrocessos, escreveu Dora Kramer em sua coluna na Folha. Lula fala em olhar para frente, pede paciência, mas o tempo de estio seria normal para um aprendiz no ofício, e em matéria de chegança o petista é catedrático. Tanto que fez campanha referido nas experiências anteriores — daí a cobrança mais intensa e frágil à justificativa de que está "só no começo", completa a colunista. 
 
Um mau começo, considerando que o presidente quer destruir o marco do saneamento, anular a Lei das Estatais, repetir velhos erros na política de preços dos combustíveis, contestar a a autonomia do Banco Central e, pior, cancelar privatizações por apetite de poder e controle. Tivéssemos ido por esse caminho, o Brasil ainda estaria nas garras da telefonia estatal — para citar só o caso mais emblemático —, com farta distribuição de cargos nas teles para a infelicidade geral da nação.

Observação: Comenta-se que este desgoverno não vai longe. Que Geraldo e Lu Alckmin podem tirar seus terninhos da missa do baú. Lula diz que os livros de economia (que ele nunca leu) estão superados. Quer que os chineses paguem as importações em yuans — moeda que não compra nada em nenhum lugar do mundo fora da China — esquecendo-se de que sem dólares o Brasil não terá como pagar pelo petróleo e outros produtos que o país precisa importar para sobreviver. 
 
Com a possível exceção do que vem sendo veiculado pelo departamento de propaganda petista (pago com o dinheiro dos nossos impostos), o atual governo só não é pior que o de Bolsonaro porque, como bem salientou o Estadão, "é virtualmente impossível ser pior do que Bolsonaro, responsável pela putrefação moral da política, pela desmoralização da República e pela ruína de áreas cruciais para o País, como saúde e educação". 
 
O balanço publicado no Correio Brasiliense mostra um presidente rancoroso — que qualifica a ameaça do PCC como "uma armação do Moro", incitando publicamente o ódio contra o ex-juiz e escancarando sua sede de vingança — e refém de ideias retrógradas — nos primeiros três mês de governo, ele aumentou em R$ 112,1 bilhões os "gastos sociais", jogando no colo de Haddad os delírios saudosistas do petismo e esfacelando a tal "frente ampla pela democracia", que não resistiu à sanha do descondenado-em-chefe. 
 
A política externa é um insulto às democracias, à liberdade e à lei internacional. Palpitando sobre o interminável conflito no leste europeu, Lula sentenciou: "A decisão foi tomada pelos dois países", como se a Ucrânia fosse culpada pela invasão do seu território pelas tropas russas. A política econômica não existe — a Bovespa sofre um processo de destruição em massa de riquezas, e o agronegócio (o único setor da economia brasileira que funciona) é sabotado dia sim, outro também. 
 
Tudo que se fez até agora foi culpar a Selic por tudo que vai mal e vomitar um palavrório incompreensível sobre o tal "arcabouço" — termo que muita gente boa, a começar pelos comunicadores, não sabe o que significa —, que deverá legalizar o estouro do "teto de gastos" e isentar o governo de sanções em caso de descumprimento de metas, o que, na prática, esvazia a Lei de Responsabilidade Fiscal e elimina uma das hipóteses que ensejam o impeachment do presidente. 
 
Observação: Os juros, em que o governo não manda, são o que segura hoje a inflação. Isso é muito ruim, diz Lula, que quer mais inflação, e não menos, porque acredita que imprimir dinheiro é criar “desenvolvimento” econômico. O presidente do Banco Central afirmou que a economia não gira em torno da Selic e ressaltou que o país precisa de credibilidade para baixar a taxa de juros. Em resposta às críticas de Rodrigo Pacheco, ressaltou que as decisões do Comitê de Política Monetária são baseadas em critérios técnicos “sem viés político”.
 
O tal "arcabouço fiscal" é um escárnio, um retrato perfeito da essência do governo Lula, que se esforça em tempo integral para tapear a população com ideias mortas, conversa fiada e promessas que jamais serão cumpridas. Em suma, o plano que apresentaram para sustentar as contas públicas não sustenta nada; é apenas um anúncio de que esse governo quer gastar e vai continuar gastando enquanto estiver por aí.