Na quarta-feira 19, a CNN Brasil divulgou vídeos em que exibem o general Gonçalves Dias, chefe do GSI e homem da confiança pessoal do presidente, numa atitude aparentemente permissiva durante os atentados golpistas de 8 de janeiro. Em determinado momento, militares sob seu comando chegaram mesmo a servir água para os insurgentes. Em entrevista à Globo, o ora ex-ministro grudou na testa a pecha de mentiroso, e, para não prestar esclarecimentos no Congresso, arrumou um atestado médico.
A repercussão foi tão negativa que Lula convocou uma reunião de emergência para tratar do episódio. Comenta-se que ele ficou particularmente irritado porque GDias não lhe deu acesso às imagens (sob o pretexto de que as câmeras não estavam funcionando) e a CNN Brasil as divulgou. Com isso, o governo não só sofreu a primeira baixa na Esplanada, como terá de enfrentar a CPMI cuja instalação vinha tentando evitar a todo custo. Sem falar que os vídeos deixam a PF numa situação delicada (por não ter sido capaz de identificar um alto integrante do governo em meio aos manifestantes).
Quatro dias após a intentona bolsonarista, Lula disse que havia visto todas as imagens do quebra-quebra e que estava convencido de que a porta do Planalto fora aberta para aquela gente entrar. Nos dias subsequentes, 80 militares responsáveis pela segurança do Planalto e do Alvorada foram afastados e 34 pessoas lotadas no GSI foram exoneradas, mas GDias, velho amigo do presidente, permaneceu no cargo por mais 101 dias.
O ex-chefe do GSI foi ouvido durante 5 horas pela PF na última sexta-feira. Em nota emitida antes de deixar o cargo, ele havia dito que esteve no Planalto para evacuar os terceiro e quarto andares e concentrar os manifestantes no segundo, onde o pelotão de choque da PM-DF realizaria as prisões.
O GSI decretou sigilo de cinco anos para a imagens, mas o ministro dos STF Alexandre de Moraes determinou que as filmagens sejam entregues à corte em até 48 horas. Na próxima quarta-feira (26), será a vez do "mito" dos apatetados, que deverá esclarecer à PF se teve ou não ligação com os atos de 8 de janeiro.
A exoneração do general não encerra a novela, e os próximos capítulos farão com que a pauta econômica fique em segundo plano e matérias importantes, como o tão falado "esqueleto fiscal" e a reforma tributária, tenham a tramitação prejudicada. Lula terá de suar a camisa para desmontar a versão fake segundo a qual o Planalto invadido pelos vândalos bolsonaristas é o culpado pela invasão, e demonstrar que foi incompetente, mas não cúmplice, ao procrastinar a exoneração do general.
Resta ao Planalto tentar evitar que integrantes do alto escalão do governo sejam acusados de omissão ou, pior, de terem incentivado os vândalos. A fábrica de narrativas já entrou em ação: um artigo publicado por J.R. Guzzo na Gazeta do Povo vai exatamente nessa direção. "Foi o próprio governo, com a participação direta de militares que estão ao seu serviço e juram todos os dias que defendem a 'legalidade', quem armou a baderna do 8 de janeiro, escreveu o jornalista. Na mesma linha, Rodrigo Constantino pontuou que "num país minimamente sério o presidente teria de cair, mas estamos no Brasil, onde estrategistas petistas preparam narrativas esdrúxulas, os "jornalistas" militantes repetem com a maior cara de pau, e o Poder Judiciário finge que vive em Nárnia".
Ambos são bolsonaristas "no úrtimo", mas não se pode negar que... bem, fique o leitor à vontade para tirar suas próprias conclusões.
Continua...