Há pouco mais de duas décadas, uma resolução da Anvisa determinou aos fabricantes que imprimissem na embalagem a validade dos produtos. Claro que atentar para essa informação não nos livra de levar para casa um produto deteriorado — atire o primeiro pão de forma, por exemplo, quem nunca encontrou sinais de bolor em algumas fatias. Por outro lado, nem sempre devemos descartar prontamente um produto vencido que esteja em nossa despensa ou geladeira, já que a data de validade não é tão precisa quanto um mecanismo da alta relojoaria suíça.
Vinagre, açúcar, sal, mel, melaço, xarope de milho, baunilha e outros extratos têm validade praticamente ilimitada. Aveia em flocos pode levar mais de um ano para ficar rançosa, e a pré-cozida (ou aveia instantânea), a exemplo da farinha branca, se mantém própria para o consumo por anos a fio, mas farinhas integrais tendem a adquirir um odor metálico ou de sabão em poucos meses.
A regra do "mais branco é mais duradouro" vale também para grãos não moídos. Por não conter gordura, o arroz branco refinado tem validade indeterminada, ao passo que o integral não dura mais que alguns meses. Isso porque as gorduras são a primeira coisa a deteriorar quando se trata de alimentos secos.
Nozes, tipicamente ricas em gordura, ficam rançosas em poucos meses. Feijões secos e lentilhas podem durar anos, ainda que endureçam e demorem mais a cozinhar. Se seus feijões estiverem guardados há muito tempo, evite usá-los em receitas que incluam ingredientes ácidos — como melaço ou tomates —, pois eles aumentam drasticamente o tempo que os grãos levam para amolecer.
Pães industrializados (como os de forma, de hot dog, de hambúrguer e que tais) são feitos com óleos e conservantes, e podem durar mais tempo se guardados na geladeira. Mas o pão de fermentação natural, como o que a gente compra na padaria da esquina, fica rançoso em poucos dias, chegando mesmo a mofar — a não ser que os cortemos em fatias e congelemos.
Você pode usar temperos com validade vencida se eles não apresentarem bolor, mau cheiro ou outra evidência de deterioração. Frutas, legumes, carnes e outros enlatados podem ser consumidos anos depois do envase, mas desde que não haja nenhum sinal externo de deterioração, como inchaço ou ferrugem (o pequeno botão no topo das latas, que estufa caso haja ação bacteriana significativa, é a melhor maneira de saber se o conteúdo está bom para o consumo). E se for armazenar refrigerante ou cerveja, prefira as latinhas às garrafas de vidro, e estas às garrafas PET.
A validade dos azeites e óleos refinados é indeterminada quando eles são armazenados em latas ou garrafas seladas. Depois que abrir o recipiente, mantenha-o longe de fontes de calor (como o fogão). Para saber se o óleo está bom, siga seu nariz ou coloque uma gota no dedo e aperte. O óleo rançoso exala um cheiro inconfundível, além de ficar pegajoso.
Molhos para salada podem durar mais de um ano na geladeira, especialmente se envasados em garrafas com aberturas estreitas. Mostarda dura indefinidamente; o ketchup tende a mudar de cor antes de completar um ano, mas permanece palatável mesmo assim. Contrariando a crença popular, a vida útil da maionese é excepcionalmente longa, sobretudo se o produto não contiver ingredientes como suco de limão ou alho. Já a validade dos ovos e de aproximadamente 60 dias, desde que armazenados sob refrigeração.
Quando armazenado em condições adequadas, o leite "longa vida" dura meses a fio, mas, depois que a embalagem é aberta, as bactérias começam a digerir a lactose e produzir ácido lático. Com o acúmulo de ácidos, o pH do leite vai abaixando, e quando chega em 4,6, a caseína (proteína do leite) se aglomera, dando o aspecto de coalhado e o gosto azedo.
Dica: Quer leite com uma vida útil mais longa? Procure pela sigla "UHT" (de temperatura ultra alta em inglês). Ela indica que o leite foi pasteurizado em altas temperaturas (135º C, o que é suficiente para destruir não apenas vírus e bactérias, mas também esporos bacterianos) antes de ser bombeado e selado assepticamente em caixas. A maioria das marcas de leite orgânico passa pelo processo UHT.
Fonte: O Globo