Além da repercussão policial, o escândalo das joias sauditas escancarou mais uma vez a relação íntima entre Bolsonaro e o ex-piloto de F1 Nelson Piquet, cuja fazenda, localizada numa área nobre da capital federal, abriga o Centro Hípico Lago Sul e conta com uma pista de pouso para aeronaves.
O galpão da Fazenda Piquet, onde o ex-presidente guardou os presentes recebidos durante sua passagem pelo Planalto (aí incluídos os dois conjuntos de joias entregues à CEF por determinação do TCU), abrigou 166 caixas com os mais variados tipos de objetos e outras nove com "honrarias". Segundo O Globo, os mais de 9 mil itens que o capitão levou consigo quando deixou o poder ocupam 195 metros cúbicos.
De acordo com Bela Megale e Lauro Jardim, Piquet doou meio milhão de reais à campanha de Bolsonaro à reeleição (foi a maior doação que o candidato recebeu, afora os repasses de seu partido), e lhe emprestou um Porsche blindado após a recusa do atual governo em ceder um veículo blindado ao ex-mandatário.
Bolsonaro recebe mensalmente o equivalente a mais de 30 salários mínimos como presidente de honra do PL. Em tese, ele retornou ao Brasil para liderar a oposição, mas emendou o feriado de Páscoa em Angra (RJ), para onde viajou a bordo do jatinho de Piquet e vem liderando a turma do ócio. Até meados da semana passada, o "mito" dos bolsomínions (que nunca foi chegado no batente) ainda não havia aparecido para trabalhar no gabinete que fica ao lado da sede do PL no DF.
Inconformado com a perspectiva da inelegibilidade, Bolsonaro deve adotar um discurso "vitimista" e recorrer ao STF se for condenado no TSE. A questão é que reverter a decisão no Supremo pode ser ainda mais difícil do que conseguir placar favorável na corte eleitoral.
Em meio à avalanche de processos judiciais, Bolsonaro pode optar por um caminho mais "tranquilo" para continuar sua trajetória política, como "liderar a oposição" no Senado, e para isso conta com a candidatura da ex-primeira dama ao Senado e com o filho Flávio, que tem mandato até 2030 (embora seu primogênito tenha planos de se candidatar à Prefeitura do Rio de Janeiro em 2024).
Segundo a coluna de Mônica Bergamo, Bolsonaro ainda não pretende se render nem indicar sucessor. À Folha, o filho Flávio afirmou que o pai será o "maior cabo eleitoral da história", dando o tom da estratégia que será usada para mostrá-lo como vítima e fortalecer o bolsonarismo.
Observação: A estratégia do ex-presidente mimetiza a de Lula, que fez pose de vítima e recorreu a todas as instâncias quando foi condenado na Lava-Jato. A diferença é que o capetão já está sendo julgado em um tribunal superior, o que torna seu caso mais complicado que o do petista.
Se o ministro Alexandre de Moraes pautar para logo o julgamento do processo no TSE, será sinal de que o ex-mandatário será mesmo condenado. Ainda que haja pedido de vista de algum ministro, seria por apenas 60 dias, e dificilmente haveria alguma mudança substancial no caso.
A conferir.