domingo, 21 de maio de 2023

EM BOCA FECHADA NÃO ENTRA MOSCA

 

Na Presidência, Bolsonaro reagia às contrariedades exibindo o seu radicalismo no cercadinho do Alvorada. Agora, rodeado de inquéritos e na bica de se tornar inelegível, adapta sua teatralidade às circunstâncias. Numa conveniente aparição no Senado, estreou no ramo do entretenimento. Depois de fracassar como presidente, tenta a sorte como mágico. Imagina que pode fazer sumir os escândalos reduzindo-lhes a relevância em passes de mágica. 
 
Mauro Cid, retratado como trambiqueiro de farda nos relatórios da PF, é transformado, na retórica de Bolsonaro, em "excelente oficial" do Exército Brasileiro. "Peço a Deus que não tenha errado e… cada um siga sua vida", desse o ex-capitão sobre o auxiliar que preferiu ficar em silêncio durante o depoimento da última quinta-feira. O Planalto aposta que ele não optará pela uma delação premiada.
 
Cid está preso preventivamente desde o último dia 3 no Batalhão de Polícia do Exército de Brasília. O comandante do Exército, general Tomás Paiva, afirmou que as prisões do tenente-coronel, do sargento 
Luís Marcos dos Reis e do capitão da reserva Sérgio Cordeiro no âmbito do inquérito sobre falsificação de cartões se deram de acordo com a Constituição. Embora o episódio conspurque a imagem das FFAA e “acirre” os ânimos dos militares com o governo e com o Judiciário, o Alto Comando entende que a competência é da Justiça, e não pretende sair em defesa dos investigados

ObservaçãoGabriela Cid admitiu à PF que usou certificado de vacinação falso e atribuiu a responsabilidade pela inserção dos dados falsos ao marido. Ela não soube dizer qual foi a participação de Ailton Barros no esquema, mas afirmou que não tinha conhecimento de que outras carteiras de vacinação, além da dela, tinham sido adulteradas.
 
As compras no cartão de crédito clandestino de Michelle, cujas faturas eram liquidadas em dinheiro vivo pelo coronel-pagador, transformam-se em aquisições de "roupinhas" para a filha e "absorventes". A tentativa de assaltar joias sauditas é diluída numa descrição minuciosa de miudezas como camisetas e bonés — presentes insignificantes guardados num depósito do amigo Nelson Piquet.
 
Bolsonaro ainda não notou, mas faz o caminho de volta do Planalto para a planície do baixo clero da política, de onde saiu. Seu espetáculo de magia não cheira bem. Para cada nova explicação cobrada pela conjuntura, o mágico amador tira um gambá da cartola.
 
Com Josias de Souza