A terceira gestão de Lula mal completou quatro meses e a coleção de desacertos supera em muito a quantidade e a qualidade dos acertos. Até a unanimidade em torno da reação aos ataques de 8 de janeiro ficou tisnada pelas imagens do general de sua estrita confiança em passeio ameno no Palácio invadido.
As escolhas do petista — tão ruins quanto enigmáticas — suscitam a dúvida sobre qual a motivação de arrumar briga com o Ocidente; prestigiar as ilegalidades do MST, levando o líder invasor na viagem à China; a turra com o Banco Central; a oferta de holofote a Sérgio Moro; o castigo aos pobres na suspensão do marco do saneamento e toda sorte de improvisos cujo ápice se deu na atabalhoada suspensão da isenção de taxas às compras nos sites asiáticos.
A única escolha com explicação clara é a manutenção de Bolsonaro como antagonista preferencial — afinal, quem não gostaria de ter nessa condição alguém com tal sorte de passivos? De resto, a seleção de atritos não tem razão de ser. Guarda semelhança com o que Barbara W. Tuchman celebrizou em sua "Marcha da Insensatez", relatando ao longo da história decisões de governantes que se voltam contra os próprios. Foi assim com o Reino Unido, quando resolveu sair da União Europeia por meio de um plebiscito (Brexit), com a Rússia que se imolou ao iniciar a guerra com a Ucrânia, e com o Brasil, que dobrou a aposta no populismo elegendo Lula presidente.
Aqueles que votaram em Lula pensando que elegeriam o mal menor descobriram que ele não aprendeu nada e não esqueceu nada. Os discursos do xamã do PT ressuscitam a bolorenta retórica do salvador da pátria e. mostram sua mesquinharia, sectarismo e incapacidade de construir pontes e pacificar o País, deixando claro que ele vai governar como líder de facção, e não como o presidente de todos os brasileiros. O empenho do presidente na manutenção da imoralidade do orçamento secreto retrata um PT aprisionado ao passado tanto nas ideias quanto em suas práticas execráveis. que loteia cargos e verbas para garantir a “governabilidade”.
O país não precisa de um presidente populista, mas, sim, de reformas estruturais, de investimentos na educação, na tecnologia e na sustentabilidade ambiental, de cidadãos críticos, criativos e éticos, capazes de gerar soluções para os problemas nacionais e globais. O país precisa estimular o empreendedorismo, a pesquisa científica e a produção de conhecimento, visando aumentar a competitividade e a produtividade dos setores produtivos.
Mesmo sendo impermeável a conselhos e passando a impressão de que embarcou numa egotrip aguda que acentua sua vocação para dono de verdades embaladas em platitudes que animaram plateias e o trouxeram até aqui, Lula poderia dar uma conferida no livro de Tuchman.
Com Dora Kramer e Estadão