Lula — que se baseia em números do Hamas sobre mulheres e crianças mortas — nunca deu um pio sobre o uso de civis como escudos humanos nem mencionou que os "monstros" ficam ali atrás por escolha estratégica. É como se a presença de terroristas, mulheres e crianças em áreas de hospitais e escolas fosse mera coincidência com a qual Israel não sabe lidar — ao contrario dele, claro, dada sua expertise em deslocamentos internacionais (entre o avião presidencial e hotéis de luxo, pagos com dinheiro dos "contribuintes").
A alegação de que "não tem como dizer outra coisa" senão acusar de terrorismo a vítima do terror não resiste à menor comparação com discursos de democratas de fato, como o do premiê britânico Rishi Sunak, segundo o qual "este é um momento de clareza moral", porque "o passado está tentando impedir que o futuro nasça". De acordo com Sunak, o ataque do Hamas não foi motivado somente pelo ódio, mas também pelo medo de um novo Oriente Médio renascer com Israel normalizando as relações com seus vizinhos. A Rússia invadiu a Ucrânia porque Putin temia o surgimento de uma democracia moderna, reformadora e próspera à sua porta, e queria puxá-la de volta para alguma fantasia imperialista do passado. É preciso manter viva a promessa de um futuro melhor e defender os inocentes que a Rússia vê como alvos e o Hamas, como escudos humanos.
Sem deixar de defender prudência no avanço sobre áreas sensíveis de Gaza, Sunak mostrou, na prática, como é possível "dizer outra coisa", manifestando compaixão e solidariedade, apoio à autodefesa de países atacados, repúdio ao terrorismo do Hamas e ao imperialismo de Putin, com o tom, a forma e o cuidado que se esperam de um chefe de Estado Democrático de Direito em tempos de guerra, não de um papagaio de ideólogos antiamericanos que tenta desviar o foco das reuniões de seu governo com a mulher de um líder do Comando Vermelho.
Em Brasília, subverte-se até o brocardo. Há males que vêm para pior. Sabia-se que Luciane Barbosa Farias foi recebida no Ministério da Justiça por dois secretários de Flavio Dino, mas não que pasta dos Direitos Humanos, chefiada pelo ministro Silvio Almeida, bancou com verbas do erário (ou seja, dinheiro do contribuinte) a viagem da "dama do tráfico amazonense" a a Brasília. Na Justiça, Luciane tratou com auxiliares de Dino da precariedade do sistema carcerário; nos Direitos Humanos, participou de encontro dedicado a prevenir a tortura. Os dois ministérios alegam que desconheciam os vínculos de madame com o crime. Num, diz-se que ela foi levada pela ex-deputada psolista Janira Rocha, no outro, sustenta-se que ela foi indicada por comitê antitortura do Amazonas.
No jargão policial, a ficha criminal recebe o apelido de capivara. No caso de Luciane, os ministérios engoliram um elefante: condenada a 10 anos de cadeia, a "dama do tráfico" recorre da sentença em liberdade. Seu marido, o chefão do Comando Vermelho no Amazonas Clemilson dos Santos Farias, também conhecido como Tio Patinhas, puxa 31 anos de cana em regime fechado. Não é apenas o erro que arruina a imagem do governo, mas o modo como os ministérios reagem depois de cometê-los. A pasta da Justiça modificou as regras de triagem dos visitantes, e a dos Direitos Humanos limitou-se a admitir que desperdiçou dinheiro. Nem sinal de demissões.
Quando compensa, o crime muda de nome no Brasil. Tráfico de drogas, por exemplo, pode ganhar uma aparência de tráfico de influência. A propósito, leia a íntegra da nota divulgada pelo Ministério dos Direitos Humanos.
Com Felipe Moura Brasil e Josias de Souza