quinta-feira, 29 de junho de 2023

O TITANIC E O TITAN (CONCLUSÃO)

O DESTINO EMBARALHA AS CARTAS COM AS QUAIS NÓS JOGAMOS.

 

A OceanGate confirmou no último dia 22 a morte de cinco pessoas durante uma catastrófica visita aos destroços do Titanic (a terceira feita pelo Titan). A vigem estava prevista para durar 10 dias oito deles em alto mar , e a descida propriamente dita teve início às 8h do domingo, 18. Menos de duas horas depois de mergulhar, o submersível (*) de 6,7 m de comprimento e 2,8 m de altura perdeu contato com o barco de apoio. 


(*) Segundo a Marinha do Brasil, o submarino é um "navio de guerra capaz de alterar seu grau de flutuabilidade, podendo assim efetuar patrulhas e ataques submersos na água", enquanto o submersível precisa de um navio suporte que o leve até o local do mergulho (no caso do Titan, o suporte era o navio canadense Polar Prince), além de uma plataforma, que fica mergulhada a 10 metros de profundidade, para auxiliá-lo a mergulhar até o destino final e voltar.

 

Os destroços encontrados a cerca de 500 m do Titanic indicam que o Titan implodiu. No entanto, a Guarda Costeira informou que os ocupantes teriam morrido mesmo que a embarcação desaparecida estivesse inteira — pois o suprimento de oxigênio se esgotaria por volta das 6h de quinta-feira (horário de Brasília) —, que os ruídos captados anteriormente pelas equipes de busca não tinham relação com o Titan, e que o som produzido pela implosão não foi registrado pelos navios e sonares que participavam do resgate. 


Vale destacar que a pressão da água aumenta cerca de 1 atm. a cada 10 metros de profundidade, razão pela qual os submersíveis são construídos com materiais ultrarresistentes — se o peso da coluna de água exceder a resistência da estrutura, um desequilíbrio de pressão resultará no esmagamento do casco, e basta um pequeno amassado para reduzir a profundidade máxima de operação em 50%. No caso do Titan, implosão causou um efeito similar ao vidro estilhaçado na fibra de carbono (as partes feitas de titânio se comportaram como metal, ficando retorcidas).

 

Além do diretor-executivo da OceanGate, Stockton Rush, que pilotava o submergível, estavam a bordo o empresário paquistanês Shahzada Dawook e seu filho Suleman, o bilionário e explorador britânico Hamish Harding, e Paul-Henry Nargeolet, ex-comandante da marinha francesa. Nenhum deles sobreviveu à tragédia — que foi precedida por uma sequência de erros e imprudências. Em 2018, um ex-funcionário da empresa alertou para problemas de "controle de qualidade e segurança"entre os quais a janela de visualização, certificada para suportar pressões de até 130 atm. e a inexistência de GPS. Além disso, o comandante usava um controle de videogame para pilotar a cápsula a partir das coordenadas enviadas por mensagens de texto pelo barco de apoio. 

 

Observação: Além de ser feito de fibra de carbono  mais leve e mais barato que o titânio —, o Titan dispunha de mais espaço interno devido formato não-esférico, permitindo acomodar o piloto e quatro passageiros (a maioria dos submersíveis comportam apenas dois ocupantes). Assim como Titanic foi classificado como "inaufragável", o Titan era tido como "indestrutível" pelo fundador da OceanGate, que foi desmentido pelos fatos e se tornou ele próprio vítima da implosão. 

 

O termo de responsabilidade incluído no contrato estabelece que a viagem é feita numa cápsula experimental, e que os riscos de lesões corporais, invalidez, morte e danos à propriedade decorrentes de negligência são de responsabilidade dos contratantes. Mas os óbitos deixam a OceanGate suscetível a ações judiciais por parte das famílias dos passageiros. 

É mais provável que eventuais processos sejam ajuizados nos EUA, onde a empresa opera e o Titan foi construído. No entanto, como o submersível foi levado para o mar por um navio canadense Polar Prince, que partiu de um porto em St. John's, na Terra Nova, não se descarta a possibilidade de as ações judiciais serem movidas sob a Lei de Morte em Alto Mar. 

Vale destacar que as renúncias assinadas pelos passageiros protegem a OceanGate, mas não em casos de "negligência grave" (como conduta arbitrária ou imprudente que afete a vida dos contratantes). E próprio CEO da companhia admitiu que "quebrou algumas regras" para construir e colocar em operação sua engenhoca, sem imaginar que, por uma espécie de justiça poética, se tornaria vítima da própria negligência.