sexta-feira, 30 de junho de 2023

COLLOR LÁ... PARTE 4


AtualizaçãoO julgamento de Bolsonaro será retomado nesta sexta-feira. Já votaram pela inelegibilidade o relator, Benedito Gonçalves, e os ministros Floriano Marques e André Ramos Tavares. A única divergência partiu do ministro bolsonarista Raul Araújo. Ainda faltam os votos da ministra Carmen Lucia e dos ministros Nunes Marques e Alexandre de Moraes, mas basta mais um voto favorável à condenação para selar a sorte do capitão. Comparando a piromania institucional de Bolsonaro à ação de um incendiário convencional, Floriano disse que, se alguém põe fogo num edifício, o fato de os bombeiros chegarem a tempo de evitar a tragédia não anula o crime cometido por quem riscou o fósforo. Ficou entendido que, na visão enviesada de Araújo, o ex-mandatário só deveria ser punido se conseguisse incendiar a democracia, convertendo em cinzas a própria Justiça Eleitoral.

Representantes da clássica oligarquia nordestina, o casal Arnon de Mello e Leda Collor formou um clã de poder político e financeiro de longa data. O pai dela foi ministro do Trabalho de Getúlio Vargas e Arnon, senador e governador de Alagoas. Seus negócios englobam bens como emissoras de TV, rádios, um jornal, uma gráfica e um edifício de treze andares em Maceió (essa é apenas a parte visível do império). Mas uma espécie de "Maldição Kennedy" tropicalizada persegue os Collor de Mello (ora reduzidos a Fernando e Ledinha, que não se falam). 

O dinheiro e o tumulto eram equivalentes dentro do lar. Na carreira política, escândalos; no âmbito familiar, um roteiro de transtornos com sólido histórico de traições. Brigas com os irmãos, crises matrimoniais, impeachment, desavenças com sobrinhos (que o acusam de se apropriar do patrimônio da família sem promover uma divisão correta) e, mais recentemente, a condenação do caçador de marajás de araque a 8 anos de 10 meses de prisão. 

Observação: Fernando era o preferido do pai, devido a sua evidente vocação política. Leopoldo, o mais velho, era o queridinho da mãe, mas perdeu o posto para Pedro, que alavancou as empresas da família no começo dos anos 90 — dona Leda chegou a fazer um testamento em que deixava 50% de seu patrimônio para ele, mas rasgou-o depois que o filho denunciou o irmão). 
 
Quatro das 162 páginas que compõem o inventário da matriarca relacionam joias e pedras preciosas, vasos chineses, lustres de cristal Bacará e obras de arte. Onde foram parar, ninguém sabe, ninguém viu, mas os coerdeiros desconfiam do ex-presidente. Filhos de Pedro e Thereza CollorFernando (nome dado em homenagem ao tio, que depois seria brigado de morte com o pai) e Victor têm juntos 15% do grupo, mas nunca viram um centavo do lucro das empresas nem receberam balanço contábil desde a morte do pai. Leopoldo teve três filhos, mas eles não podem exigir parte do patrimônio da família porque o pai vendeu sua participação acionária ainda em vida.
 
Observação: Em 1998, outro abalo familiar. Leopoldo (morto em 2013) emprestou dinheiro a Fernando para a compra do Dossiê Cayman — um calhamaço de documentos falsos para prejudicar FHC. A mutreta foi descoberta, o tucano se reelegeu e o ex-presidente jamais quitou a dívida. Foi o ponto-final numa relação de raiva, inveja e competição.
 
Fernando Collor tem cinco filhos de três relacionamentos. Arnon e Joaquim, os dois mais velhos, do casamento com a empresária Lilibeth Monteiro de Carvalho, quase não falam com o pai, mas são amigos dos primos. Em meados dos anos 90, o ex-presidente assumiu o controle do grupo e usou as empresas para lavar R$ 50 milhões — como na compra de um Porsche Panamera, por R$ 550 mil, em nome da TV Gazeta de Alagoas, afiliada da Globo. 

Condenado pelo STF, o Rei-Sol encerrará seus 44 anos de vida pública na cadeia — a condenação a 8 anos e 10 e sua inabilitação para o exercício de cargos públicos coloca uma pá de cal na sua carreira política, mesmo que ele cumpra míseros 1/16 avos da pena em regime fechado. Um triste fim para quem foi já foi considerado o homem mais importante do Brasil, o caçador de marajás, o número 1 do País.
 
Observação: Aos amigos de fé, Collor confidencia que "para a cadeia ele não irá". Durante o trâmite do recurso protelatório interposto por sua defesa, sua alteza tomará as providências necessárias para se evadir. A propósito, último presidente brasileiro a se autoexilar foi João "Jango" Goulart, derrubado pelo golpe de 1964. Aconselhado a pedir asilo antes de ser condenado e preso pela Lava-Jato, Lula não o fez. Ficou 580 dias preso. Saiu quando o STF, por 6 votos a 5, mudou sua jurisprudência sobre a prisão em segunda instância.