Quando ainda não era possível medir com precisão distâncias e intervalos de tempo pequenos demais ou exageradamente grandes, recorria-se à mitologia e à religiosidade.
Segundo a Bíblia, o mundo teria sido em 6 de outubro de 3761 a.C. Em 1947, usando o fator Hubble, o físico George Gamow estimou a idade do Universo em 2,5 bilhões de anos. Mais adiante, soube-se que essa estimativa estava errada.
Sabe-se agora (melhor seria dizer "por enquanto") que o Big Bang ocorreu há 13,8 bilhões de anos, que a Terra tem 4,5 bilhões de anos, e que a espécie humana surgiu na África há cerca de 300 mil anos. No entanto, o físico Rajendra Gupta, professor adjunto da Faculdade de Ciências da Universidade de Ottawa, no Canadá). publicou recentemente um estudo segundo o qual o cosmos nasceu há 26,7 bilhões de anos.
Observação: Com base no desvio da luz vermelha proveniente de uma galáxia distante, os cosmólogos estimam sua expansão desde momento em que ela foi emitida e estimam a idade da galáxia. Há atualmente cronômetros cósmicos extremamente precisos, e as missões lançadas pela Agência Espacial Europeia e pela NASA prometem aprimorá-los para medir não apenas o fator Hubble como também a evolução do próprio Universo.
Combinando Filosofia, mitologias e ciência, o físico italiano Guido Tonelli oferece respostas a perguntas fundamentais, como "O que é o tempo?" e "Ele existe, mesmo, ou é só ilusão?". "Consideramos o tempo um conceito abstrato por sermos objetos macroscópicos, vivendo em uma espécie de mundo onde o relógio parece fluir igual para todos", disse ele à BBC Brasil. Mas fenômenos peculiares ocorrem no entorno de grandes massas, como estrelas e buracos negros, onde o espaço-tempo é deformado e o tempo passa muito mais devagar.
Em Gênesis: a história do universo em sete dias (2019), Tonelli recorre a conceitos da Física moderna para responder à pergunta "Como tudo começou?"; em Tempo, ele explica que "não vemos o espaço-tempo oscilando em nosso dia a dia, mas ele flui diferente em distintas regiões do Universo, pois depende do local e da quantidade de massa ao redor".
Para explicar essa questão de maneira didática, o autor convida o leitor a imaginar duas naves se aproximando de buraco negro supermassivo, uma das quais se mantém a uma distância segura do fenômeno, enquanto a outra cruza o "horizonte de eventos", onde o tempo parece continuar passando normalmente para os tripulantes da nave, mas os sinais de rádio que eles enviam levam uma eternidade para chegar até outra nave.
Isso significa que alguns segundos dentro do buraco negro equivalem a séculos e até milênios para quem está na Terra, por exemplo. Em outras palavras, o tempo passa muito mais devagar nas proximidades de corpos supermassivos. "Em teoria, apenas tecnicidades nos impedem de dobrar o tempo a nosso favor, mas um dia faremos isso", diz Tonelli.
Observação: A NASA mantém uma página na internet onde compila avanços tecnológicos presentes no dia a dia e que tiveram origem na ciência espacial realizada em seus laboratórios. São elencados mais de 2 mil produtos desenvolvidos desde 1976 em áreas como agronomia, transportes, geração de energia, medicina, tecnologia da informação, entre outras.
Vale destacar que o Tonelli não oferece uma definição precisa do que é o tempo, mas faz referências a cientistas que exploram as teorias mais modernas da mecânica quântica sobre o tema, como seu colega e conterrâneo Carlo Rovelli, autor de best-sellers como Sete breves lições de física (2015) e reverenciado por suas pesquisas sobre a existência da "gravidade quântica em loop". "As teorias quânticas vão se tornar parte de nossa compreensão básica do mundo. Porém, levará tempo para isso acontecer, como demorou mais de um século para aceitarem o modelo heliocêntrico de Copérnico", disse o físico italiano em entrevista à revista Crusoé por ocasião do lançamento no Brasil do livro O Abismo Vertiginoso. "O que chamamos de tempo não funciona como uma característica real do Universo", disse ele na entrevista.
Em A Ordem do Tempo (2017), Rovelli explora concepções que a humanidade já teve sobre o tempo — de Newton, que teorizava duas formas de tempo, a Einstein, para quem o espaço-tempo resulta de deformações do campo gravitacional, ao atual estágio de pesquisas. Segundo o autor, em vez de medida cronológica (como a calculada nos calendários), o tempo é uma variável resultante da crescente entropia do cosmos ao longo de seus bilhões de anos de existência.
Voltando ao livro de Tonelli, o capítulo O Sonho de Matar Chronos faz referência ao mito grego segundo o qual Zeus alcançou a imortalidade envenenando o pai, que devorava os próprios filhos. No entanto, apesar de acreditar na possibilidade de dobrar e manipular o campo do espaço-tempo, o autor não vislumbra qualquer possibilidade de vencermos a mortalidade. "Nada é eterno, toda estrutura de matéria, seja um humano, uma estrela, uma galáxia, é frágil intrinsecamente", diz ele. "Cedo ou tarde, tudo se acaba".
Enquanto partículas elementares, como o bóson de Higgs, duram uma fração de microssegundo, estrelas, planetas e galáxias permanecem no cosmo por bilhões de anos, mas, no fim, como teoriza a física moderna, até mesmo o Universo vai morrer um dia. Segunda essa tese, a expansão cósmica iniciada com o Big Bang não se interromperá até romper o próprio campo do espaço-tempo. "Se a estrutura do Universo não mais suportar o espaço-tempo, aí será o verdadeiro fim dos tempos, um Apocalipse, mas contado pela Física quântica", conclui Tonelli.