Segundo o British Journal of Psychology, as pessoas acreditam em "teorias da conspiração" — expressão criada nos anos 1960 para designar suposições infundadas — devido ao "narcisismo coletivo" e à necessidade de atribuir a terceiros a culpa pelos próprios fracassos. Em sua visão distorcida da realidade, elas se julgam "especiais" e classificam de idiotas quem pensa diferente. Entretanto, existem teorias conspiratórias "não ficcionais", como os exemplos elencados a seguir:
O Alex Jones Show acusou o governo dos EUA de contaminar a água com produtos químicos que faziam as rãs mudarem de sexo. Por mais absurdo que pareça, estudos da Universidade da Califórnia concluíram que uma de cada 10 rãs machos expostas à atrazina pode sofrer desequilíbrios hormonais e se tornarem femininas ao longo da vida. Porém não há indícios de que o governo norte-americano tenha culpa nesse cartório.
Nos anos 1930, o Serviço de Saúde Pública dos EUA iniciou um estudo clínico denominado Tuskegee Syphilis Experiment. Oficialmente, o objetivo era "oferecer tratamento gratuito aos afro-americanos diagnosticados com sífilis", mas, para os conspirólogos, o verdadeiro propósito era observar como a doença avançava nos negros. O estudo prosseguiu mesmo depois de a penicilina ser indicada no tratamento da sífilis. Após 40 anos de acompanhamento, sobraram apenas 74 sobreviventes, sendo que 28 morreram diretamente de sífilis e outros 100, de complicações decorrentes da doença. Além disso, 40 esposas e 19 recém-nascidos se contaminaram. O governo americano pagou mais de US$ 10 milhões em indenizações, mas não se desculpou até meados da década de 1990, quando o então presidente Bill Clinton se desculpou publicamente com os 5 sobreviventes que compareceram a uma solenidade na Casa Branca.
Com o fim a Segunda Guerra Mundial, a Argentina e outros países sul-americanos (entre eles o Brasil) serviram de refúgio para nazistas de alto coturno. Os EUA extraditaram cerca de 2000 cientistas alemães para usar como mão de obra intelectual e, de quebra, evitar que seus conhecimentos "caíssem em mãos erradas". Tais justificativas não tornaram menos controversa a Operação Paperclip — considerada incialmente mais uma teoria conspiratória —, já que os nazistas tiveram os registros criminais apagados ou alterados para ocupar cargos na NASA e em outros órgãos importantes do governo.
Em 2 de agosto de 1964, quando navegava pela costa do Vietnã do Norte, o destróier USS Maddox relatou que havia sido atacada por três lanchas torpedeiras vietnamitas. Dois dias depois, com o destróier USS Turner Joy a seu lado, o navio reportou um segundo ataque. Até então, os EUA só forneciam apoio político, financeiro e treinamento militar para os sul-vietnamitas, mas esses incidentes tiveram repercussão mundial e ensejaram a Resolução do Golfo de Tonquim, que autorizou o presidente Lyndon Johnson a entrar na guerra do Vietnã. O episódio entrou no rol das teorias conspiratórias porque os norte-vietnamitas sempre negaram os ataques.
A "Operação Mockingbird", lançada durante a Guerra Fria, visava subornar jornalistas de todo o mundo para influenciar a opinião pública. O projeto foi considerado teoria conspiratória até 1977, quando o jornalista Carl Bernstein revelou a maracutaia e a CIA admitiu ter cooptado pelo menos 400 jornalistas e 25 grandes organizações em todo o mundo. Também considerada teoria da conspiração, a Cointelpro versava sobre projetos clandestinos ilegais do FBI, com vistas a desestabilizar grupos de protestos de esquerda, de ativistas e de dissidentes políticos. As táticas se baseavam em guerras psicológicas, calúnias, criação de documentos falsos, assédio, prisão ilegal e até assassinatos, e foram usadas contra críticos da guerra do Vietnã, líderes dos direitos civis — como Martin Luther King —, ativistas e jornalistas.
A Operação Branca de Neve foi outra teoria conspiratória dos anos de 1970. Ela envolveu uma série de infiltrações e furtos praticados por membros da Igreja da Cientologia, que roubavam os arquivos confidenciais do governo sobre a seita e seu fundador (L. Ron Hubbard), visando "limpar registros desfavoráveis" nas agências governamentais. Ao todo, foram roubadas 136 agências, embaixadas e consulados estrangeiros. A operação envolveu mais de 5 mil agentes secretos — entre membros da igreja, funcionários públicos corruptos ou chantageados e investigadores particulares —, sendo considerada a maior infiltração no governo norte-americano.
Outra teoria conspiratória afirma que a NSA planta escutas ilegais, coleta dados de celulares e monitora dados transmitidos via Internet pelos americanos há décadas, e que o ataque terrorista ao World Trade Center serviu de “desculpa” para aumentar essa vigilância. De acordo com agência, é lícito sacrificar algumas liberdades individuais em prol da segurança nacional, mas uma matéria publicada pelo The Washington Post em 2014 revelou que quase 90% dos dados coletados eram de internautas sem qualquer conexão com terrorismo.
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