Emparedado pela polarização e incapaz de aturar mais quatro anos (no mínimo) sob o alfange do verdugo do Planalto, muitos brasileiros deixaram de lado a quimérica terceira via e apoiaram a volta do desempregado que deu certo. Outros, temendo um golpe que "transformasse o Brasil numa Venezuela", fizeram as malas e picaram a mula para Portugal ou Miami. Ironicamente, o verdadeiro golpista era Bolsonaro — coisa ele próprio cansou de demonstrar (só o antiprocurador-geral não viu).
Lula bateu três recordes em sequência — em gastos no cartão corporativo, em despesas com publicidade e em emendas parlamentares —, sinalizando que esta gestão será um repeteco (revisto e piorado) de suas passagens anteriores pelo Planalto. A compra de apoio no Congresso — uma das marcas de seu primeiro mandato — desaguou no escândalo do mensalão; dois meses atrás, o governo liberou R$ 11,8 bilhões em verbas parlamentares e abriu caminho para as emendas Pix, que são determinadas pelos congressistas e não se destinam a uma despesa específica.
Lula gastou mais com cartões corporativos nos primeiros sete meses deste governo do que Bolsonaro, Temer ou Dilma no mesmo período, e suas 19 viagens ao exterior foram as principais responsáveis pelo grosso das despesas. Nos dois primeiros mandatos do petista, os gastos com cartões corporativos da Presidência e dos ministros suscitaram fortes críticas. Descobriu-se, por exemplo, que a ministra da Igualdade Racial torrou R$ 171 mil (em 2007) com compras e locação de veículo durante um feriado, e que um funcionário do Ministério das Comunicações usou o cartão para reformar uma mesa de sinuca.
Lula reservou R$ 647 milhões no orçamento do ano que vem para publicidade (o maior valor desde 2004). Ao comprar anúncios (principalmente na TV Globo), o PT espera turbinar seus candidatos nas eleições municipais de 2024 e melhorar a imagem do governo. Vale lembrar que, em 2003, o xamã da Petelândia multiplicou por treze os gastos com propaganda oficial da Presidência, e que esse "investimento" foi fundamental para sua reeleição e, mais adiante, para a eleição de sua sucessora.
“Se hoje retorno na honrosa condição de presidente do Brasil, é graças à vitória da democracia em meu país”, disse Lula em Nova York. É verdade: ele só está no poder porque a ruptura que alguns radicais desejavam não aconteceu. Mas os três recordes mostram que a vitória de uma democracia plena ainda está longe de acontecer.
Triste Brasil